O que encontrei na relação de Kafka com o pai surpreendeu-me, embora seja uma explicação de toda a sua obra.
“Claro que não quero dizer que aquilo que sou se deve apenas à tua influência. Seria um grande exagero (e eu até tenho tendência para estes exageros). É bem possível que, mesmo se tivesse crescido completamente fora da tua influência, não conseguisse vir a ser um indivíduo a teu contento. Ter-me-ia tornado, talvez, um indivíduo mais fraco, mais ansioso, mais indeciso, mais inquieto, nem um Robert Kafka. Nem um Karl Hermann, mas um ser completamente diferente daquilo que sou, e teríamos conseguido darmo-nos às mil maravilhas. Ter-me-ia sentido feliz por te ter amigo, chefe, tio, avô, e até mesmo (se bem que com alguma reserva) como sogro. Só que como pai foste forte de mais para mim, sobretudo atendendo a que os meus irmãos morreram de tenra idade, e que só muito mais tarde viriam as minhas irmãs, pelo que tive que aguentar o primeiro embate completamente sozinho, sendo eu fraco de mais para isso”
Franz Kafka - Carta ao Pai, Lisboa: relógio D’Água, 2004, p. 9-10.
Franz Kafka - Carta ao Pai, Lisboa: relógio D’Água, 2004, p. 9-10.
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