" (...) Não estou a falar de grandes empresários ou banqueiros ( existe gente honorável ) , estou a falar de fortunas, sólidas e multiplicadas fortunas, que depois do 25 de Abril passaram o tempo a ameaçar com a emigração ou a fuga de capitais se a esquerda lhes acabasse com os privilégios. Não ideológicos excepto na defesa dos seus interesses, votando no partido que melhor os protege e melhor defende os seus interesses e negócios com o Estado, estas fortunas recrutaram colaboradores nos quadros políticos que melhor os servissem seca a sinecura e que melhor salvaguardassem o tráfico de influências. (...) A história do BPN confunde-se com a história desta pobre gente, um grupo de arrivistas armados em milionários e reduzidos a uma deliquência grosseira e egoísta, sem sentido e sem sentido de comunidade. Não existe piedade nem perdão para esta gente exposta. Na fasquia mais elevada, o sentido de comunidade não existe. Veja-se o caso Berardo, que até há pouco tempo emitia opiniões morais sobre tudo, remetido ao prudente silêncio depois que se soube que a sua dívida aos bancos, contraída para especulações, tinha sido renegociada por esses bancos em condições tão favoráveis e imorais como as que ele criticava. Com a diferença de que os especuladores não criam riqueza nem emprego e que tudo o que Berardo realmente fez por Portugal foi onerar o Estado com a criação de um museu, o Centro Cultural Berardo, vulgo CCB, para pagar a instalação da sua colecção. Não passa pela cabeça desta gente criar uma bolsa com o seu nome, doar dinheiro a um hospital, escola ou universidade, abrir um centro de investigação ou dotar um bloco ou uma biblioteca de equipamento útil.
A ganância de Wall Street é criticada todos os dias ( e a estupidez ) , mas essa ganância alimentou centenas, milhares de instituições, dotou o MOMA e o Metropolitan das colecções e exposições que albergam, alimentou o teatro, a dança, os museus, o pensamento, a literatura, o património, doou para hospitais e escolas, bairros, bibliotecas e bolsas, centros científicos e investigação tecnológica.
(...) Se queremos falar de filantropia em Portugal, a benfeitora Fundação Gulbenkian não criou escola ( à escala ) entre os muito ricos e novos-ricos. A nova Fundação dirigida por António Barreto, pela seriedade deste, prenuncia uma excepção. "
- Clara Ferreira Alves, Os pobres ricos, in Expresso de 14 de Março de 2009.
Como não concordar com ela? Esta diferença entre os nossos ricos e os ricos de outros países já há muito que falo sobre ela, pois basta estar atento ou viajar para outros países, mesmo europeus, para perceber o retorno dado pelos ricos de outros países às suas comunidades. Nem é preciso ir muito longe, basta conhecer um pouco da realidade espanhola por exemplo. São inúmeras as fundações espanholas ligadas a empresas e famílias que apoiam as artes ou com preocupações sociais.
Não me esqueço da bacoca resposta de Joe Berardo quando lhe perguntaram porque não doava a sua colecção a Portugal: "Mas eu tenho filhos e netos! "- Como se Cupertino de Miranda, António Champalimaud, ou agora Alexandre Soares dos Santos os não tivessem.
3 comentários:
Leio algumas vezes a crónica de Clara F. Alves e, neste caso, estou completamente de acordo!
Com o seu texto também.
A.R.
Muitas vezes esta senhora irrita-me, especialmente na televisão, mas este texto está muito bom. Os nossos ricos são mesmo muito egoístas.
Quem pode não concordar com ela, mesmo se irritante? Aliás não são os nosso ricos que são muito irritantes, são os novos ricos que não tiveram trabalho nenhum para o ser - limitaram-se a especular e fazer "engenharia financeira" com o crédito concedido escandalosamente pelos compadres. é o caso do Joe Berardo, esse grande mecenas da cultura, perante quem se agacharam o Primeiro- Minsitro e a Ministra da Cultura.
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