Não existem documentos oficiais que comprovem uma intervenção directa por parte de Bernardo de Claraval na construção da abadia. No entanto, a escolha da localização sugere que o fundador da ordem de Cister tenha dado orientações precisas para esta obra: um vale rodeado de mato, isolado e próximo de recursos naturais necessários, tais como, água, cal e minério. A água, sinónimo de pureza, simbolizava ao mesmo tempo a humildade, a maior virtude de um monge segundo Bernardo que, em vários escritos, deixou para a posteridade o “trocadilho” entre húmido (umidus) e humilde (humilis). A origem etimológica do nome Sénanque poderá provir do latim sana aqua (água sã) ou da palavra celta sagn-anc (vale pantanoso).
Tal como as outras abadias congéneres cistercenses, Sénanque manifesta traços arquitectónicos característicos desta ordem: a vida dos monges regia-se pela pobreza, misericórdia e pelo recurso apenas àqueles bens que eram considerados absolutamente indispensáveis; a simplicidade da construção, omnipresente e preponderante nas abadias da ordem, reflectia naturalmente esta vivência. No entanto, algumas particularidades, menos óbvias à primeira vista, aligeiram o rigor e a simplicidade habituais: os 48 arcos do claustro estão alicerçados em pilares com capitéis de decoração rica e diversificada. A igreja, por sua vez, chama a atenção para uma abóbada octogonal sob a intersecção das naves, coroada de um campanário em forma de uma pirâmide.
A abadia de Sénanque viveu o seu apogeu no século XIV, dada a proximidade de Avignon e a presença dos papas que impulsionou toda a região da Provença. Nesse período, Sénanque foi dirigido por monges que, devido ao seu bom relacionamento com papas como Inocêncio VI ou Urbano V, souberam canalizar estas ligações para bem da abadia. A extensão da propriedade do terreno com cultivo agrícola aumentou, e foram concretizadas obras de restauro e renovação do complexo.
Ao longo dos séculos, a vida em Sénanque reflectia momentos gloriosos e trágicos da História francesa. Findo um período de convulsões após 1789, seguiram-se anos de prosperidade e estabilidade durante o século XIX, até que a separação entre Igreja e Estado forçou os monges a abandonar Sénanque.
A vida religiosa voltou em 1988 quando membros da comunidade de Lérins (departamento dos Alpes Marítimos) regressaram a Sénanque.
Esta abadia, simbiose perfeita entre arquitectura e natureza, tornou-se célebre pelos campos de lavanda que a rodeiam (em flor apenas em finais de Junho!). Juntamente com Le Thoronet e Silvacane integra as chamadas três irmãs cistercenses da Provença.
6 comentários:
Fez parte do teu itinerário provençal?
Que beleza de post! Cheira a fragância da alfazema. Adoro estes campos de alfazema. Só os conheço virtualmente. Mas irei até lá.
A.R.
Lindo! Não importava de estar lá, mais daqui a uns meses para ver este lilás.
Deve ser de visitar quando a alfazema estiver em flor.
M.
E o Luís, hoje, sente-se bem em Lisboa?
Um bom dia a todos!
M.
De facto, Sénanque fez parte de um tour inesquecível pela Provença. O Verão é simplesmente sublime nesta região.
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