Do filme Singin’ in the Rain (Serenata à Chuva), 1952
Para quê falar em Nero e Messalina?
Para quê saber de cor a Geografia?
Onde fica a Arábia, a Europa e a China
se a chuva cai durante todo o dia?
E que importam o mar, o rio, os barcos?
Que importa o livro que se tem p'ra ler?
Que importa a guerra dos fortes e fracos
se afinal não mais pára de chover?
Que importa o sábio mais a descoberta?
Que importa a gente que passa na rua?
Que importa a sentinela sempre alerta
Se todo o dia a chuva continua?!
António Rebordão Navarro
in: A condição reflexa. Lisboa: Imp. Nac.-Casa da Moeda, 1989, p. 24
Há muito tempo que não pegava neste livro. Tenho estado a reler alguns poemas, ao som de Bruckner. Um amigo pô-lo a tocar ontem. Melhor: ante-ontem.
6 comentários:
Um belo libelo contra a chuva!
Mas ainda bem que ela apareceu finalmente. Há meses, surgiu um livro de reputadas climatologistas portuguesas que garantiam que daqui a umas décadas Lisboa vai ter um clima como o de Rabat. Sinceramente, prefiro o ciclo das estações tal como o ainda vamos tendo.
Credo! Só o clima, espero!
Anda por aqui o fantasma do Pessoa.
Perdoe-se-me a falta de rigor,porque vou citar de cor:
"Ai que prazer não cumprir um dever
ter um livro para ler
e não o fazer..."
APS,
Bem visto! E aqui fica o poema de Pessoa, cujo final também é muito citado:
LIBERDADE
Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa
É giro o poema. Não conhecia.
"Esperar por D.Sebastião, quer venha ou não!" - Nem mais.
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