Prosimetron

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sexta-feira, 16 de outubro de 2009

PARAÍSO : 2 - Quim ou a dura vida fácil


O Quim da D.Ermelinda, como era conhecido em Santa Filomena, tinha sido o primeiro a fumar ganzas na escola, e pouco depois já vendia aos outros. Foi assim que conheceu o Amílcar e o Dread, pouco mais velhos, mas já então dealers profissionais e que apresentaram ao Quim o "negócio" como eles diziam. Achavam que ele tinha jeito para a coisa.
Já imerso no "negócio", Quim deitava-se agora de madrugada, quando a sua mãe estava a sair para a primeira parte do dia: limpezas num escritório das seis às oito. Era esta a rotina diária da D.Ermelinda, figura estimada na Torre C de Santa Filomena. Primeiro, as limpezas da madrugada, regressando a casa às dez para as suas lides caseiras. Depois do almoço, mais limpezas: uns dias em casa de um casal de professores e noutros em casa do sr.coronel, simpático viúvo que morava perto do bairro.
Mas não se pense que a vida nocturna de Quim era de indolência: quando não havia recolhas de "mercadoria" em pinhais, praias ou moinhos abandonados, havia venda no Kremlin ou no Lux.
Chegava a casa de madrugada tão esgotado como a D.Ermelinda ao fim do dia. Só a remuneração é que era diferente.
Apesar de ter dinheiro na carteira e uma BM à porta, e apreciar o respeito que lhe era demonstrado no bairro, respeito normalmente reservado a quem vive do outro lado da lei, havia algo que Quim invejava ao seu maior amigo Pedro. Invejava-lhe a doce Carina, uma namorada a sério, que nada tinha que ver com as agarradas que se ofereciam a Quim por uma dose, ou com as russas, ucranianas, moldavas e brasileiras com quem se cruzava diariamente na noite e a quem só o dinheiro fazia sorrir.
Despertou do seu sonhar acordado com o aviso de sms do telemóvel. Era Pedro : " Tenho de falar contigo. Benguela. "

( cont. )

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