(...) Das malfadadas SCUT'S às nebulosas parcerias público-privadas, passando pelos sofisticados esquemas de financiamento a longo prazo das grandes obras públicas, o que vemos é o multiplicar de exemplos de antecipação de benefícios e direitos por contrapartida do adiamento-muitas vezes escamoteado- de custos e deveres.
A questão que agora se começa a colocar, à medida que chegam à idade eleitoral os milhares de jovens chamados a pagar a fatura de uma prosperidade artificial de que os seus pais gozaram, é a de saber até que ponto são sustentáveis as tensões que este fenómeno coloca no nosso sistema político e constitucional.
Porque é normal, convenhamos, que esta geração se sinta pouco apegada a um regime que - sem sombra de legitimidade - a traiu e "tramou". E bem tramada, de resto.
Já bastavam à democracia todas as demais doenças da modernidade. Mas esta crise da legitimidade intergeracional pode bem ser o grande desafio que tem pela frente.
- Pedro Norton, Bacalhau e democracia, na Visão.
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