Prosimetron
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Harry Martinson
Foto de Harald Borgström
A ALMA DE VAN GOGH
Prende os caules curvados para o sol
em flamejante laranja-escarlate.
Introduz furtivamente o pincel no arvoredo
e fixa aí em azul
o olhar penetrante da tua inabalável fé.
Corre das espirais verdes da sebe
para suster os montões de erva de amarelo laranja
antes que rasteje a cor para dentro dos bosques e em cogumelos se transforme.
Tens que trazer todos os animais indomados das cores:
catatuas, lobos, leões, cordeiros e moscardos, para o redil da tela...
Desce o crepúsculo sem estrelas, negro, com cataratas.
Vai quedar-se a noite diante das janelas do espírito.
E ne nhum fogo para desenhar a sua angústia na névoa!
Mira de través o gélido clarão por dentro.
Respira, boca de homem! Respira até abrires-te!
Abre!
Abre, oh! Deus!
(De Natur, 1934)
Harry Martinson (1904-1978)
In: Comboio camuflado / trad. do sueco por Silva Duarte. Lisboa: Dom Quixote, 1974, p. 55, 57
O sueco Harry Martinson recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1974. Faleceu, quatro anos depois, a 11 de Fevereiro.
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