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sexta-feira, 25 de julho de 2008

O Festival de Salzburgo 2008

“Salzburgo é o coração do coração da Europa”, assim descrevia o escritor e poeta austríaco Hugo von Hofmannsthal a cidade de Salzburgo. Von Hofmannsthal, Richard Strauss e Max Reinhardt fundaram há 88 anos o festival Salzburger Festspiele, highlight absoluto e incontornável no universo cultural. As jornadas começam amanhã.

A edição deste ano guarda a tradição do passado: a trilogia de ópera, teatro e concerto (sinfónico e de Lied) estende-se ao longo do mês de Agosto, numa simbiose musical desde Mozart, o genius loci, à modernidade, e numa convivência cénica, desde interpretações clássicas à experiência avanguardista. A Direcção, by the way muito pouco modesta, orgulha-se de organizar o melhor festival do mundo em que confluem apenas os melhores artistas da actualidade. Talvez seja verdade, ainda que, na minha humilde opinião, o Festival de Munique brilhe por uma oferta incomparavelmente mais rica, quer de intérpretes, quer de obras escolhidas.

Mas claro, Salzburgo é sempre Salzburgo, e o filho ilustre da cidade é o autor da primeira ópera a subir para o palco este domingo: Don Giovanni de Mozart será dirigido por Bertrand de Billy à frente da Orquestra Filarmónica de Viena. Dos cantores destaque-se Dorothea Röschmann que se afirma, mais uma vez, como Donna Elvira após o seu êxito merecido na Wiener Staatsoper em Janeiro de 2007 no mesmo papel.
E Mozart continuará omnipresente, pois a Flauta Mágica, sob a batuta de Riccardo Muti, é um must imprescindível destas jornadas.

Um bom Otello verdiano vive, seguramente, de um elenco de alta qualidade o que, à partida, parece garantido: Carlos Álvarez será o mau da fita (Iago), a ele juntar-se-ão Aleksandrs Antonenko (Otello) e Marina Poplavskaya (Desdemona), valor seguro no mundo da ópera italiana (refira-se a impressionante Elisabetta di Valois na produção do Don Carlo no Royal Opera House de Covent Garden).

Rolando Villazón, em Roméo et Juliette de Gounod, far-nos-á sofrer e chorar com a sua voz e o seu temperamento.
Outras produções incluem Herzog Blaubarts Burg de Bartók e Rusalka de Dvořák.

Tanta emoção será digerível apenas em alternância com concertos e teatro.
Para quatro recitais de Lied, foram convidados Ian Bostridge, Thomas Quasthoff, Christine Schäfer e Matthias Goerne.

O drama, componente forte do festival, leva ao palco, entre outras obras, Crime e Castigo de Dostojewskij, Die Räuber de Friedrich (von) Schiller e, evidentemente, Jedermann de Hugo von Hofmannsthal, peça já menos digerível e apresentada no largo da catedral da cidade.

E assim, de acordo com von Hofmannsthal, Salzburgo é “o coração do coração da Europa”, pelo menos até ao encerramento do festival a 31 de Agosto.

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