No passado dia 30 de Setembro , ao embarcar em Fiumicino rumo a Lisboa, à entrada do avião recolhi um exemplar do Diário de Notícias que falava do Lisboagate. Fiquei perplexo. Depois de 12 dias de ausência, o que se teria passado na minha autarquia? Foi o meu primeiro contacto com o chamado "escândalo das casas ". Muitos outros artigos e entrevistas se seguiram.
Neste pequeno país, em que toda a gente se conhece ou conhece um primo do presidente, ou um assessor de um vereador etc, evidentemente eu também sabia da existência destas casas atribuídas por critérios que não os da habitação social. Embora desconhecesse a enorme dimensão do fenómeno, e sobretudo a longa duração temporal de alguns casos.
Compreendo muitas das cedências que vieram a público- por razões funcionais, emergências familiares ou carências transitórias, mas não consigo compreender a manutenção escandalosa de algumas dessa situações durante décadas, acabando por configurar verdadeiras situações de privilégio- desde logo o caso de Ana Sara Brito. Como compreender que alguém que tem estado sempre ligado ao Município, com um vencimento razoável, permaneça numa casa cedida por Abecassis?! Porque não recorrer ao mercado normal de arrendamento, ou a um empréstimo para compra de habitação como fizeram milhares de portugueses durante todos esses anos?
Ou o caso quase anedótico de José Bastos, alto funcionário muncipal que ainda teve o descaramento de dizer que mantinha a casa que lhe foi cedida in illo tempore porque pode precisar dela caso se divorcie novamente... E como compreender a ética republicana de alguns destes privilegiados que passaram o uso das casas aos filhos?
Evidentemente, a responsabilidade política de tudo isto tem de ser assacada aos sucessivos presidentes de câmara que toleraram, não moralizaram e não fiscalizaram este estado de coisas.
Presidentes de esquerda e de direita, porque neste caso o chamado Centrão foi dominante. E quando os "nossos" beneficiam, temos de calar quando vemos os dos "outros" beneficiar também.
Rendas escandalosamente baixas, ausência de critérios objectivos na cedência das casas, e sobretudo uma incompreensível perpetuação de muitas das situações, que ab initio tinham ou deveriam ter carácter transitório. É isto que agora importa regular e fiscalizar.
Amanhã, há mais.
3 comentários:
Acho vergonhoso ter sido atribuída uma casa camarária (mesmo não sendo de habitação social) a uma Vereadora e ela ter aceitado. Por outro lado, o caso das casas atribuídas a José Bastos e (parece-me que) à ex-directora da GEBALIS também me parece um processo duvidoso. Sobre os outros casos não me pronuncio.
PETIçÂO ONLINE
Para acabar com as "casas de favor" em Lisboa
http://www.gopetition.com/petitions/para-acabar-com-as-casas-de-favor-em-lisboa.html
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