Quieto deixarei no tempo da tua ausência
tudo no mesmo sítio, um écran passa
aos meus olhos numa velocidade calculada,
na minha estreita rua continua havendo papéis
e folhas distraindo atenções por outras
letras, pequenas palavras desbotando
do seu azul para larga mancha, verso destruído.
Traços de pó nos vidros e eu a mirá-los, nada
faz com que saia desta cadeira e queira ver
o outro sol que se esconde por trás das imagens.
A meio da alegria recusei o fácil caminho
da aceitação, ia dar a cisternas sem espelhos,
não sei como faria depois, olhar para dentro
da terra e não ver a cara do homem. Os ciclos
da vida organizam o tempo, cansado era
de objectos e cores, repito a colocação
das mãos, reaprendo mais vontades para lá
do corpo. Quieto, sem horas para nada,
aguardo o teu regresso.
- Hélder Moura Pereira, DE NOVO AS SOMBRAS E AS CALMAS- Poesia 1976/1990, Contexto, 1990.
1 comentário:
Muito bonito! gostei tambem da aguarela (?)...bela.
A.R.
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