Prosimetron
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Poema das flores
«Pequeno Jardim», Rua Garrett, Lisboa.
POEMA DAS FLORES
Se com flores se fizeram revoluções
que linda revolução daria este canteiro!
Quando o clarim do sol toca a matinas
ei-las que emergem do nocturno sono
e as brandas, tenras hastes se perfilam.
Estão fardadas de verde clorofila,
botões vermelhos, faixas amarelas,
penachos brancos que se balanceiam
em mesuras que a aragem determina.
É do regulamento ser viçoso
quando a seiva crepita nas nervuras
e frenética ascende aos altos vértices.
São flores e, como flores, abrem corolas
na memória dos homens.
Recorda o homem que no berço adormecia,
epiderme de flor num sorriso de flor,
e que entre flores correu quando era infante,
ébrio de cheiros,
abrindo os olhos grandes como flores.
Depois, a flor que ela prendeu entre os cabelos,
rede de borboletas, armadilha de unguentos,
o amor à flor dos lábios,
o amor dos lábios desdobrado em flor,
a flor na emboscada, comprometida e ingénua,
colaborante e alheia,
a flor no seu canteiro à espera que a exaltem,
que em respeito a violem
e em sagrado a venerem.
Flores estupefacientes, droga dos olhos, vício dos sentidos.
Ai flores, ai flores das verdes hastes!
A César o que é de César. Às flores o que é das flores.
António Gedeão
In: Poemas póstumos. Lisboa: João Sá da Costa, 1984, p. 21-23
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2 comentários:
Belo poema e bela "montra". Sempre que por lá passo, fico a admirar o que está por detrás dos vidros ou no passeio.
"...A César o que é de César. Às flores o que é das flores."
Achei lindo este final!
http://jp.youtube.com/watch?v=tfkgEjlFlOE&feature=related
A.R.
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