O cisne
«Muitos bons viajantes, como o cisne, emigram para viver. Mas esse mesmo cisne, que não presta para comer o desperdiçado do homem pela sua beleza e graça, o cisne, digo, tão comum na Itália antigamente e de que Virgílio tanto fala, hoje, é lá muito raro. Debalde se buscariam agora essas alvas frotas, que argenteavam com suas velas as águas do Mincio, os pauis de Mântua, chorando Faetonte à sombra das suas irmãs ou no seu voo sublime, canoros levando aos astros o teu nome, ó Varo.
«Este canto, que toda a Antiguidade cita, será mera fábula? Os órgãos músicos, tão desenvolvidos no cisne, ter-lhe-ão sido sempre inúteis? Não funcionariam eles em ditosa liberdade, quando o seu dono gozava de uma atmosfera mais quente, passando a maior parte do ano no doce clima da Grécia e da Ausónia? Inclino-me a crê-lo. O cisne, obrigado a ir para o Norte, onde os seus amores ainda acham o segredo e a paz, sacrificou o seu canto, adoptou o acento bárbaro ou calou-se. A musa expirou: a ave sobreviveu.»
Jules Michelet
In: A ave / trad. F. L. Lopes. Lisboa: Nova Livr. Internacional, 1876, p. 47
«Muitos bons viajantes, como o cisne, emigram para viver. Mas esse mesmo cisne, que não presta para comer o desperdiçado do homem pela sua beleza e graça, o cisne, digo, tão comum na Itália antigamente e de que Virgílio tanto fala, hoje, é lá muito raro. Debalde se buscariam agora essas alvas frotas, que argenteavam com suas velas as águas do Mincio, os pauis de Mântua, chorando Faetonte à sombra das suas irmãs ou no seu voo sublime, canoros levando aos astros o teu nome, ó Varo.
«Este canto, que toda a Antiguidade cita, será mera fábula? Os órgãos músicos, tão desenvolvidos no cisne, ter-lhe-ão sido sempre inúteis? Não funcionariam eles em ditosa liberdade, quando o seu dono gozava de uma atmosfera mais quente, passando a maior parte do ano no doce clima da Grécia e da Ausónia? Inclino-me a crê-lo. O cisne, obrigado a ir para o Norte, onde os seus amores ainda acham o segredo e a paz, sacrificou o seu canto, adoptou o acento bárbaro ou calou-se. A musa expirou: a ave sobreviveu.»
Jules Michelet
In: A ave / trad. F. L. Lopes. Lisboa: Nova Livr. Internacional, 1876, p. 47
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