" (...) Berlusconi é, nesse aspecto, exemplar: da exploração mediática das suas operações plásticas e truques cosméticos à escolha de mulheres ( modelos, actrizes ) apenas pela sua beleza ( e poder mediático ) para deputadas, até às suas gaffes habituais ( como comparar os campos dos sinistrados de L' Aquila com campings de fim-de-semana ), tudo revela a transformação do acontecimento político em pura trivialidade.
Como? Trazendo o trivial para o plano da política, e apresentando o processo como uma democratização da liderança. O líder tornou-se actor ou performer de um espectáculo em que tudo é político- voltamos ao corpo sagrado do rei das realezas mágicas ou dos impérios orientais ( Berlusconi não é apelidado, além de cavaliere, de imperador?) . Os sapatos de Sarkozy e a exposição pública da sua vida sexual, as peripécias do divórcio de Berlusconi testemunham a trivialização-democratização da imagem do líder, um homem como «todos nós» . Resultado: a popularidade de Berlusconi atinge proporções inacreditáveis.
A confusão entre a aura mediática e a aura política, a captação da primeira pela segunda através da exposição da privacidade e do corpo do líder, a transformação do prestígio em forma de poder, eis algumas das características insólitas do novo populismo mediático.
Contra o qual a ética da política nada pode, pois surgiu agora uma nova «ética» ( mais forte, porque perversa) que acompanha um suposto progresso da democracia ( através da espectacularização do corpo do líder ) . (...) "
- José Gil, Prestígios da imagem, na VISÃO da semana passada.
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