Este é um tema que sempre me fascinou: a abdicação. Não as abdicações forçadas pela razão de Estado em confronto com o amor ( Eduardo VIII de Inglaterra e em parte Leopoldo III dos Belgas ) ou mais ou menos constrangidas por guerras, mas sim as abdicações mais complexas, mais enigmáticas. Desde logo, a de Carlos V. O historiador Jacques Le Brun dedica-se a este segundo tipo de abdicações neste seu mais recente ensaio, e naturalmente analisa as surpreendentes abdicações do imperador romano Diocleciano, de Filipe V de Espanha e a do já por mim mencionado imperador romano-germânico Carlos de Habsburgo.
As explicações por vezes avançadas como senilidade precoce, cansaço do poder ou procura espiritual não explicam por completo alguns destes casos.
Se calhar o maior acto de exercício do poder absoluto é renunciar ao exercício desse poder, especialmente quando se está no auge da glória.
- Le pouvoir d' abdiquer. Essai sur la déchéance volontaire, Jacques Le Brun, Gallimard, 278p., Abril de 2009, 21€50.
2 comentários:
E se quisermos pôr um toque nacional, com algum paralelo (num regresso ao trono) com Filipe V, temos o nosso D. Afonso V, o único caso que te poderá interessar na perspectiva em que colocas este livro.
A dupla e sucessiva abdicação de D. Pedro (I e IV) tem um contexto inteiramente distinto.
Confesso que nem me tinha lembrado do nosso Africano. Estou ansioso por ler este ensaio do Le Brun.
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