Prosimetron

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segunda-feira, 18 de maio de 2009

A Tentação de Santo Antão: Bosch,II.

Bosch é para mim o mais fantástico pintor da sua época. Se víssemos este tríptico lindíssimo com uma lupa demorariamos uma infinidade de tempo para descrever a sua simbologia.
Guardado e exposto no Museu Nacional de Arte Antiga esta obra maravilha quem passar um tempo sentado a observá-lo.
Bosch representa a antinomia mal/bem, trevas/luz, Diabo/Deus. Neste quadro o tema fundamental é a luta constante, num ambiente satírico e crítico, entre a mentalidade cristã de finais da Idade Média, e o surgimento de uma nova era, a da Idade Moderna: o Renascimento (que para a maioria dos historiadores começa com a queda do Império Romano do Oriente). Em suma, Bosch anuncia a era do antropocentrismo versus teocentrismo. Escolhi dois fragmentos do tríptico para olhar mais profundamente:
O Voo e a Queda de Santo Antão, volante esquerdo
óleo sobre madeira, 131,5x53cm
Neste pequeno fragmento do volante esquerdo vemos Santo Antão no Céu, levado por demónios, enquanto outros monstros o cercam como insectos malignos.
Volante direito, pormenor, Santo Antão em Meditação (não é visível nesta imagem)
óleo sobre madeira, 131,5x53cm
Escolhi este pormenor não para falar na meditação do santo mas, para mostrar a subversão do mundo representado, o peixe gigantesco que transporta a união do homem/mulher o pecado da luxúria. Ao fundo visualiza-se a cidade da Rainha-Demónio.
Os sete pecados estão representados neste tríptico de Bosch.
Do painel central não vou falar talvez fique para outra altura.
Os valores representados por Santo Antão eram os da vida solitária do convento longe da vida mundana. Estes valores estavam a ser postos emcausa. Erasmo de Roterdão e outros humanistas defendiam já a doutrina de que a salvação podia ser alcançada através da vida e do trabalho, neste mundo. Um ano após a morte de Bosch Lutero estava a pregar as 95 teses no portão da capela de Wittenberg .
A lenda de Santo Antão é que a luz milagrosa acabou por afugentar os demónios.
Bosch pintou de forma magnífica a realidade entre o Céu e o Inferno tão discutida na época.
Não cito fontes porque o que escrevi é o resultado de várias leituras feitas há muito tempo.

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