Prosimetron

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sexta-feira, 22 de maio de 2009

Sonho de uma Noite de Verão, William Shakespeare.

Ao ler Lewis Carrol no País das Maravilhas cruzei-me com O Sonho de uma Noite de Verão e por associação de ideias resolvi colocar este excerto.

Sonho de uma Noite de Verão
O duque de Teseu, ao cabo das atribulações nocturnas dos amantes na floresta, exprime aqui a voz do cepticismo racionalista, ao passo que a sua futura esposa, Hipólita, defende os poderes do sonho e da imaginação.


HIPÓLITA- Estranho, meu Teseu, o que os amantes dizem.
TESEU – Mais estranho que certo. Nunca creio
Contos de fadas, fábulas antigas.
Loucos e amantes têm cabeça quente,,
Formando fantasias envolventes
Mais do que a fria razão compreende.
O lunático, o amante e o poeta
São todos feitos de imaginação.
Um vê mais demónios do que há no inferno:
Esse é louco. O amante, todo emoção,
Vê a beleza de Helena em toda a fronte.
Os olhos do poeta, em alvo postos,
Vão do céu à terra e da terra ao céu;
E como a imaginação arquitecta
O desconhecido, a pena do poeta
Dá-lhe formas, e confere ao que é nada
Uma existência própria e dá-lhe um nome.
Tais artes tem a imaginação forte
Que, se puder sentir uma alegria,
Ela incluirá quem traz essa alegria;
Ou à noite, se o medo imaginar,
Fará dum arbusto um urso a espreitar!
HIPÓLITA – Mas contada toda a história da noite.
Suas mentes, tão alteradas todas,
Atestam mais que imagens fantasistas,
E cresce em substância qualquer coisa;
Seja o que for, estranho e admirável.
[…]
OBERON – Agora até alvorada,
Vá pela casa cada fada
A melhor noiva escolher,
Sua cama abençoar;
E o filho que lhe nascer
Com tudo de bom fadar.
E serão os três casais
Ao amor sempre leais
E os sinais da natureza,
Que desfeiam a beleza
Mancha ou lábio leporino
Ou cicatriz do destino,
Nunca seus filhos terão.
Prestai então atenção:
Cada fada vá voando
Cada quarto abençoado
Neste palácio amoroso;
Sempre descanse feliz.
Que se faça o que se diz.
Vão todas, sem excepção:
Pela alvorada voltarão. (V,1)

William Shakespeare, Sonho de uma Noite de Verão, trad. Maria Cândida Zamith, Porto: Campo das Letras, 2002, p.136

William Shakespeare's "A Midsummer Night's Dream" - 1968 film Directed by Peter Hall
This clip starts with Act 2, scene 2, line 35 (Pelican edition) to end of scene, line 156 (Hermia awakes and ends speech with "Either death, or you, I'll find immediately."

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