Prosimetron

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sábado, 25 de dezembro de 2021

A adoração dos pastores

Várias composições natalícias do final do século XVII e início do século XVIII intitulam-se por “Pastorale”. A origem da Pastorale instrumental remonta aos chamados Pifferari, pastores da Calábria e Campânia que, durante o Advento, se dirigiam à Cidade Eterna para, diante de imagens de Nossa Senhora e do Menino Jesus, tocarem nos seus instrumentos tradicionais, como o pífaro ou a flauta – naturalmente em alusão aos pastores de Belém que, chamados por anjos, adoraram o Menino. O estilo musical destes Pifferari manteve-se praticamente inalterado durante séculos. Obras como a Pastorale per la notte di Natale de J. D. Heinichen que, por volta de 1720, detinha o cargo de Hofkapellmeister em Dresden, ou a célebre Sinfonia a iniciar a segunda cantata da Oratória de Natal de 1734 de J. S. Bach, dão continuidade à abordagem dos protagonistas paisanos, naturalmente em versão erudita.


Ainda durante as últimas décadas do século XVII, surgiram os Concerti Grossi que se destinavam especificamente à quadra festiva. Subtítulos como “fatto per la notte di Natale” indiciam esta finalidade. Mestres formados em Bologna contribuíram significativamente para a divulgação deste género musical, entre eles, G. Torelli, compositor oriundo de Verona, que se mudou para Bologna por volta de 1680, onde concluiu grande parte da sua obra, como os doze Concerti Grossi, opus 8. O sexto concerto deste conjunto dedica-se à noite de Consoada: "Concerto a quattro, in forma di Pastorale per il Santissimo Natale”.
Dos inúmeros compositores da época italianos, destaca-se o conhecido Tomaso Giovanni Albinoni (1671-1751), cujos concertos para oboé continuam ainda hoje a integrar a programação de concertos de Natal de música clássica. Como sugestão, segue o belíssimo terceiro andamento do Concerto no. 2 em ré menor para oboé (infelizmente, sem identificação possível dos intérpretes).

A todos, um Bom Natal!


Imagens: Adoração dos pastores, de Bartolomé Esteban Murillo; retrato dos Pifferari, autor desconhecido

3 comentários:

Miss Tolstoi disse...

Albinoni dispõe-nos sempre bem.
Boas festas!

M,Franco disse...

Subscrevo o comentário de Miss Tolstoi.
A capa do disco é linda.
Desejo-lhe um feliz novo ano.

Filipe Vieira Nicolau disse...

Um Bon Ano para vós também, obrigado!