Ute Lemper e o Quarteto Vogler estão esta noite na Gulbenkian.
Prosimetron
sábado, 24 de novembro de 2012
Poema de António Gedeão
Poema da malta das naus
Lancei ao mar um madeiro,
espetei-lhe um pau e um lençol.
Com palpite marinheiro
medi a altura do sol.
Deu-me o vento de feição,
levou-me ao cabo do mundo.
Pelote de vagabundo,
rebotalho de gibão.
Dormi no dorso das vagas,
pasmei na orla das praias,
arreneguei, roguei pragas,
mordi peloiros e zagaias.
Chamusquei o pêlo hirsuto,
tive o corpo em chagas vivas,
estalaram-me as gengivas,
apodreci de escorbuto.
Com a mão direita benzi-me,
com a direita esganei.
Mil vezes no chão, bati-me,
outras mil me levantei.
Meu riso de dentes podres
ecoou nas sete partidas.
Fundei cidades e vidas,
rompi as arcas e os odres.
Tremi no escuro da selva,
alambique de suores.
Estendi na areia e na relva
mulheres de todas as cores.
Moldei as chaves do mundo
a que outros chamaram seu,
mas quem mergulhou no fundo
Do sonho, esse, fui eu.
O meu sabor é diferente.
Provo-me e saibo-me a sal.
Não se nasce impunemente
nas praias de Portugal.
António Gedeão
In Teatro do Mundo, 1958
Manuel Freire canta António Gedeão, nascido em 24 de Novembro de 1906
Lancei ao mar um madeiro,
espetei-lhe um pau e um lençol.
Com palpite marinheiro
medi a altura do sol.
Deu-me o vento de feição,
levou-me ao cabo do mundo.
Pelote de vagabundo,
rebotalho de gibão.
Dormi no dorso das vagas,
pasmei na orla das praias,
arreneguei, roguei pragas,
mordi peloiros e zagaias.
Chamusquei o pêlo hirsuto,
tive o corpo em chagas vivas,
estalaram-me as gengivas,
apodreci de escorbuto.
Com a mão direita benzi-me,
com a direita esganei.
Mil vezes no chão, bati-me,
outras mil me levantei.
Meu riso de dentes podres
ecoou nas sete partidas.
Fundei cidades e vidas,
rompi as arcas e os odres.
Tremi no escuro da selva,
alambique de suores.
Estendi na areia e na relva
mulheres de todas as cores.
Moldei as chaves do mundo
a que outros chamaram seu,
mas quem mergulhou no fundo
Do sonho, esse, fui eu.
O meu sabor é diferente.
Provo-me e saibo-me a sal.
Não se nasce impunemente
nas praias de Portugal.
António Gedeão
In Teatro do Mundo, 1958
Manuel Freire canta António Gedeão, nascido em 24 de Novembro de 1906
Com esta voz me visto
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTGclMwJ7SePxdE9kuMZuLnIjV-XSflX1EwVXtRmq-0MzNPxj39rH0-tvTboJUcrlSqE8FMYu08183NVao4pcengRT-0TGVwBkOsSKY8FtgAN11RRXtzLGAEwQSpSGeUzDk0FHKixXQFqR/s1600/MT_blog_fado_moda.jpg
A exposição "Com Esta Voz Me Visto - O Fado e a Moda" abriu ontem as celebrações do primeiro aniversário da classificação do Fado como Património Imaterial da Humanidade, e está patente em dois pólos: no Museu do Fado e no MUDE.
O objetivo é destacar a diversidade de estilos das diferentes fadistas e cantoras de fado, colocando em evidência as peças e os criadores que as vestem.
A mostra, segundo Sara Pereira, diretora do Museu do Fado, «surge na sequência de anteriores exposições que referenciaram o fado nas Artes Plásticas e no Cinema».
No MUDE mostram-se cerca de 60 trajos, nomeadamente de Amália, Maria da Fé, Camané, Mariza, Ana Moura, Cristina Branco, Carminho, Mísia e Paulo Bragança, que cederam peças do seu guarda-roupa.
Além dos trajos estarão também patentes os diferentes adornos, como jóias, bijutaria, lenços e xailes.
No Museu do Fado, segundo núcleo desta mostra, estão dispostos ao longo da exposição permanente do museu doze trajos e os respetivos acessórios de cena.
As exposições podem ser vistas até março de 2013.
http://mulher.sapo.pt/atualidade/noticias/mude-inaugura-hoje-exposicao-s-1283569.html
Outono
Castelo Branco, 10 nov. 2012
CANÇÃO DE OUTONO
Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.
De que serviu tecer flores
pelas areias do chão,
se havia gente dormindo
sobre o próprio coração?
E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando àqueles
que não se levantarão...
Tu és a folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...
Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.
De que serviu tecer flores
pelas areias do chão,
se havia gente dormindo
sobre o próprio coração?
E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando àqueles
que não se levantarão...
Tu és a folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...
Cecília Meireles
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
"...fechava o livro do rainer maria rilke"
Uma amiga ofereceu-me o livro "o apocalipse dos trabalhadores". Tal como a caixa que guarda uma casa - imagem usada na capa - é um livro que surpreende pela abordagem única com que carateriza a personagem principal e todas as outras.
Valter Hugo Mãe, o apocalipse dos trabalhadores. Lisboa: Quidnovi, 2009 (3ª edição), p. 62.
E porque o livro fala de amor deixo uma ária que me é muito querida.
Obrigada!:)
Para dois viajantes em Antuérpia
Van Gogh - Pátios de casas velhos na neve, em Antuérpia
Óleo sobre tela, 1885
Amesterdão, Museu Van Gogh
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
Para Santa Cecília
Associo-me à comemoração deste dia de Santa Cecília, padoeira da música sacra, com uma outra Ode para o Dia de Santa Cecília, esta de Georg Friederich Haendel, um dos meus compositores de eleição.
Santa Cecília, em Bolonha
O post do Luís com a «Ode a Santa Cecília» levou-me até ao Oratório de Santa Cecília em Bolonha, onde foi comprado o CD de Purcell que tenho - uma oferta.
Não foi fácil encontrar a entrada para o Oratório, situado no convento San Giacomo Maggiore, ornado com dez frescos sobre a vida de Cecília e Valeriano.
Penso que já em tempos fiz um post sobre este Oratório.
Penso que já em tempos fiz um post sobre este Oratório.
Aspecto do Oratório
Coroação de Cecília e Valeriano
Fresco atribuído a um colaborador de Francesco Francia, 1504-1506
http://www.wga.hu/html_m/f/francia/maggiore/scene04.html
Em dia de Santa Cecília
Em dia de Santa Cecília
Partilho uma imagem que acho assaz curiosa: «Entrada dos Alaudistas» do Ballet des fées des forêts de Saint-Greman, um Ballet de Court dançado no Louvre em 11 de Fevereiro de 1625.
Aguarela de Daniel Rabel.(1578-1637)
Imagem retirada daqui. Vi pela primeira vez a imagem no Livro da Música ilustrado editado pela Dinalivro (1997 1ª edição), p.30 e 31. Diretor da edição original Chester Fisher e investigação iconográfica de Jenny de Gex.
Para quem está em Colónia
Anjos em Santa Cecília
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
"Ao mar me fiz"
Agradeço a João Mattos e Silva ter-me despertado o interesse sobre a exposição As Idades do Mar patente na Fundação Calouste Gulbenkian.
A exposição composta por seis espaços ou seis Idades do Mar leva-nos a viajar desde a Idade dos Mitos, A Idade do Poder, A Idade do Trabalho, A Idade das Tormentas, A Idade Efémera até à Idade Infinita. Cada espaço expõe telas com as temáticas correspondentes num diálogo entre o passado e o presente.
As telas que mais me tocaram na Idade dos Mitos foram:
Ao mar me fiz. Ao mar do ignorado
desejo de encontrar outras distâncias.
Tracei rotas de sol rumos de espanto
e parti insensato à aventura
as velas enfunadas o vento de feição.
No cais da despedida meu cansaço
ficou aquietado. Me fiz assim ao mar.
O que irá encontrar meu louco coração?
João Mattos e Silva, Intemporal. Lisboa: Editora Universitária, 2003, p.82.
2 - A tela de Giulio Aristide Sartorio, A Sereia, 1893, Galleria Cívica d'Arte Moderna e Contemporanea, Turim.
Das outras Idades do Mar voltarei a falar oportunamente.
Obrigada JMS!
Hoje, no Telhal
Esta exposição apresenta cerca de 200 obras que dão a conhecer retratos e caricaturas feitos por artistas, como Mário Eloy, Abel Salazar, Stuart de Carvalhais, Joaquim Guerreiro, e outros menos conhecidos ou anónimos, que estiveram internados nas Casas de Saúde da Ordem Hospitaleira de São João de Deus, de que a mais conhecida é a do Telhal.
Um croquis para lá chegar.
Velhos são ...
- Jacqueline Murdoch, 82 anos, antiga bailarina, escolhida por Alber Elbaz para a campanha Lanvin Outono-Inverno 2012-2013.
- Jacky, 60 anos, nova imagem de marca da American Apparel.
- Carmen dell' Orefice, 80 anos, manequim reformada que voltou a trabalhar depois de ter sido arruinada por Bernard Madoff.
- Irene Sinclair, 96 anos, veterana das veteranas que foi contratada pela Dove dada a sua pele fantástica.
Uma tendência que parece contrariar o espírito do tempo. E ainda bem.
- Jacky, 60 anos, nova imagem de marca da American Apparel.
- Iris Apfel, 90 anos, dá a cara pela grande marca de artigos de maquilhagem M.A.C. .
- Irene Sinclair, 96 anos, veterana das veteranas que foi contratada pela Dove dada a sua pele fantástica.
Uma tendência que parece contrariar o espírito do tempo. E ainda bem.
A arte do retrato
Anton Einsle, Francisco-José I, Imperador da Áustria e Rei da Hungria, 1854, óleo sobre tela, castelo de Miramar, Trieste.
Um retrato que aparece devido a uma impressiva coincidência : terminei hoje, 21 de Novembro, a leitura da excelente biografia do penúltimo imperador austro-húngaro escrita por Jean-Paul Bled, no mesmo dia em que o biografado faleceu em 1916.
Hora de silêncio
Henri Meunier - Hora de silêncio
«L'amitié est un amour où la guerre et la haine sont proscrites, où le silence est possible.»
Tahar Ben Jelloun - Éloge de l'amitié, 1994
terça-feira, 20 de novembro de 2012
Boa noite!
Rokia Traoré, uma cantora do Mali, apresenta-se amanhã na Gulbenkian.
A nossa vinheta
Painel de Azulejos sobre os Conjurados, existente no Palácio da Independência
Termina o mês de Novembro com a memória dos 40 Conjurados que, em 1640, prepararam a reconquista da soberania nacional e, correndo riscos de vida e fazenda, se sublevaram contra a monarquia dual dos Áustrias que nos foi imposta em 1580.
Num tempo em que, apesar de tudo, o povo português continua a ser soberano, em que Portugal, como Nação e como Estado, mantém a sua independência - mesmo com as perdas a que a integração na União Europeia obrigaram - é salutar recordar esses Conjurados e recordar a conquista da liberdade e da independência nacionais, sem os quais seríamos hoje, certamente, mais um estado autonómico de Espanha, a nossa língua estaria reduzida a quase um dialecto, porventura não existiriam os países a que estamos ligados pela lusofonia.
É, nos tempos conturbados e nebulosos que vivemos, uma homenagem a esses quarenta homens corajosos, mas também e sobretudo uma homengem ao povo anónimo que os secundou e tornou possível o Portugal que somos e queremos continuar a ser.
Para o tempo que vivemos
Morreu em 20 de Novembro de 1910
Leão Tolstoi
«As Idades do Mar»: as minhas escolhas
Fui, há dias, ver a exposição da Gulbenkian. Mas vou voltar para a ver de novo. Uma exposição maravilhosa que pode ser vista até 27 de janeiro de 2013.
Para já as minhas escolhas foram, para além de telas de uma tela de Peder Severin Kroyer (pintor que já andou aqui pelo Prosimetron) e outra de Arpas Szenes.
Johannes Larsen - Migração de patos
Óleo sobre tela, 1924
Copenhaga, Parlamento da Dinamarca
Henrique Pousão - Paisagem, Anacapri
Óleo sobre tela, 1883
Porto, Museu Nacional Soares dos Reis
Ludovic-Napoléon Lepic - A praia de Berck
Óleo sobre tela, ant. 1877
Musée des beaux-arts de Lille
Não escolhi nem Monet, nem Sorolla, porque já andaram neste blogue em diversas ocasiões.
Humor pela manhã...
Memórias de outros tempos... Um dos protagonistas já voltou à amada ( e burlada ) pátria, outro nem por isso...
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
Purcell para MR
Uma das árias que me consegue, sempre, fazer pele de galinha. De Henry Purcell, na voz de Jessye Norman, O Lamento de Dido, When I am laid in earth, da ópera Dido e Eneias, que ofereço a MR.
When I am laid, am laid in earth, may my wrongs create
No trouble, no trouble in, in thy breast.
When I am laid, am laid in earth, may my wrongs create
No trouble, no trouble in, in thy breast.
Remember me, remember me, but ah!
Forget my fate.
Remember me, but ah!
Forget my fate.
Remember me, remember me, but ah!
Forget my fate.
When I am laid, am laid in earth, may my wrongs create
No trouble, no trouble in, in thy breast.
When I am laid, am laid in earth, may my wrongs create
No trouble, no trouble in, in thy breast.
Remember me, remember me, but ah!
Forget my fate.
Remember me, but ah!
Forget my fate.
Remember me, remember me, but ah!
Forget my fate.
Um quadro por dia
Vincent Van Gogh, La nuit étoilée sur le Rhône
" Souvent il me semble que la nuit est encore plus richement colorée que le jour "
- carta do pintor a sua irmã.
Cinenovidades
Com muita vontade de ver este Argo, realizado por Ben Affleck e baseado num caso verídico : os 6 americanos que escaparam do assalto à embaixada dos EUA em Teerão a 4 de Novembro de 1979.
Lá fora : Do chá e sua história
A milenar cultura do chá, nascida na China, invocada no Musée Guimet, o museu da arte asiática de Paris, através da mostra dos recipientes cerâmicos e de porcelana, dos vários processos de preparação da bebida, da arte associada ao seu consumo.
Até 7 de Janeiro de 2013.
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Paris
É hoje posto à venda
«Poemas para Leonor é muito mais do que um livro de versos dedicado a Leonor de Almeida Portugal. Estes poemas, mais do que inspirados na mulher que foi a 4.ª Marquesa de Alorna, fazem parte do processo de escrita do romance As luzes de Leonor. Escritos ao mesmo tempo que o romance e ao longo dos mais de dez anos que durou a sua preparação, falam sobre a experiência da criação da personagem central, interrogam-na, acompanham-na, espelham-na, dialogam com ela.» (da nota à imprensa da Dom Quixote)
Pensamento (s)
Quand la souffrance est ce que l'on connaît le mieux, y renoncer est une épreuve.
- Da filósofa italiana Michela Marzano.
No Dia Mundial do Xadrez
Honoré Daumier - Os jogadores de xadrez, ca 1863-1867
Paris, Petit Palais
aqui ainda podemos jogar obcessivamente o xadrez.
aqui ainda podemos gostar de futebol
Daniel Filipe sobre o tempo do Estado Novo
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