Prosimetron
sábado, 23 de agosto de 2014
Cavaquismo...
Comparável, em tantos aspectos, ao Fontismo oitocentista, o Cavaquismo caracterizou-se sobretudo por uma política de fomento económico e de saneamento financeiro, visando a modernização do País e a sua integração numa Europa comunitária em que Portugal não ocupasse o último lugar.
Para esse efeito, empenhou-se no desenvolvimento das infra-estruturas de comunicação e transportes [...].
O Cavaquismo tocou ainda aspectos da vida nacional, nomeadamente nas áreas do turismo, do saneamento básico, da concertação social, da construção de novos fogos e estabelecimentos de ensino, etc. A política de liberalização esteve na base de todo o sistema com sucessivas e sistemáticas desprivatizações, hostilizando-se por princípio toda e qualquer estatização.
O Cavaquismo não foi, todavia, acompanhado por um sentido humanista de governo nem por uma política cultural digna do nome. Tentou-se uma ampla reforma do ensino com premissas reaccionárias e resultados dúbios, onde o tecnicismo e cientismo predominaram, clara e excessivamente, sobre as disciplinas de carácter social e humano.
A tentação do autoritarismo despótico e a tendência para o clientelismo e para a confusão entre Estado e partido governante caracterizaram também o período de 1985-95, nomeadamente o seu último mandato. Voltaram à tona, abertamente protegidos e defendidos ou simplesmente tolerados pelo poder, valores muito típico do «Estado Novo» e do reaccionarismo católico, esquecendo-se ou omitindo-se muitos dos princípios da revolução de 25 de Abril e, de uma maneira geral, do esquerdismo socialista e socializante. Nesta medida, o Cavaquismo representou bem a síntese entre Marcelismo pré-1974 e o revolucionarismo dos primeiros anos posteriores ao 25 de Abril.
Breve História de Portugal, 8.ª ed, Lisboa, Presença, 2012, p. 721-722
A. H. de Oliveira Marques nasceu a 23 de agosto de 1933, morreu aos 73 anos.
O Historiador tem de estar atento ao seu dia a dia, tem de participar no colectivo, mas tem de ser rigoroso e isento.
Um daiquiri...
Foto de Christian Schuster
... à memória de A. H. de O. M., que me fez provar, pela primeira vez, um daiquiri, no Alcântara Café.
Selo de João Machado ganha Prémio Asiago
«Os CTT — Correios de Portugal foram distinguidos na categoria de Turismo com o Grande Prémio Asiago de Arte Filatélica, que distingue anualmente o Melhor Selo do Mundo. O selo de 0,36 euros da emissão filatélica ‘Ano Internacional da Estatística’, da autoria do designer João Machado, foi o premiado.
Descritos pelos CTT como os Óscares da Filatelia, Portugal já foi distinguido por duas vezes com o Prémio Melhor Selo do Mundo, com dois selos da autoria da pintora Maluda (que faleceu em 1999): Quiosque do Tivoli e Évora Património Mundial.
João Machado, por sua vez, já arrecadou previamente este galardão. No ano de 2007 foi premiado na categoria ‘Ambiente’ pela emissão dedicada à ‘Água um Bem a Preservar’ e em 2010 foi de novo distinguido com a emissão ‘Selos e os Sentidos’, mais uma vez na categoria ‘Turismo’.»
http://www.espalhafactos.com/2014/07/06/joao-machado-distinguido-com-premio-melhor-selo-do-mundo/
Sou fã de João Machado, desde o tempo em que ele ilustrava livros para crianças. Depois passou aos cartazes (onde tem sido também amplamente premiado) e aos selos.
Um dia destes trarei aqui a sua faceta de ilustrador.
Grande Guerra - 9
Pierre Bonnard - Avenue du Bois de Bologne, 1914
«23 de agosto [de 1914]
«De dia estivemos no Bosque e foi este, depois que começou a guerra, o meu primeiro dia de repouso. Era domingo, fazia calor e o Bosque só cheio de mulheres e crianças parecia uma paisagem de Corot, com ninfas. Numa clareia, um rancho de raparigas jogava a cabra-cega na relva, e no meio de uma alacridade que enchia o ar todo com as suas vozes. Nos barcos nos lagos, outras raparigas remavam. Um destes barcos estava refugiado à sombra de um castanheiro e nele quatro mulheres conversavam ou liam. O ar estava pesado.»
João Chagas - Diário. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1929-1932, vol. 1, p. 176
Corot - Manhã: A dança das ninfas, ca 1850
1914: 23 de agosto
«O pintor francês, Paul Maze, que se tinha juntado às tropas britânicas como intérprete, recordou mais tarde a primeira vez que viu as tropas alemãs, a 23 de agosto, numa aldeia perto de Binche: "Apontei o telescópio para uma linha de caminho-de-ferro num aterro, a cerca de 2000 metros, e vi num círculo de luz muita figurinhas cinzentas a deitarem-se no chão, Movendo-se ao longo da via férrea, iam aparecendo cada vez mais, por detrás de uma elevação no terreno." Maze recordou também como a visão dos alemães teve um efeito imediato nos aldeãos. "As mulheres começaram a lamentar-se e correram para as suas casas, seguidas dos homens, enquanto as crianças cheias de curiosidade, iam atrás, voltando-se para ver." Então os alemães aproximaram-se e começou o tiroteio. "De repente, a atmosfera mudou - em poucos segundos, todos aqueles civis fugiam pelos caminhos, enquanto a invasão, subindo como uma maré, foi ganhando terreno. Nos seus fatos de domingo, as mulheres, de chapéus de plumas na mão, sem terem tido tempo de os pôr na caneça, a pé, com carrinhos de mão, bicicletas e tudo o que tivesse rodas, fugiam com os seus bebés e os seus homens aterrorizados."»
Cit. in Martin Gilbert - A Primeira Guerra Mundial. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2014, vol. 1, p. 131
Não conhecia este pintor franco-inglês, que deixou uma coleção de fotografias sobre a Grande Guerra, que se encontra no Imperial War Museum.
Aqui ficam dois pastéis de sua autoria:
Vista para a cidade
Toronto, Odon Wagner Gallery
Linha da costa
Toronto, Odon Wagner Gallery
Humor pela manhã
Um António toca ferrinhos, outro enfia o barrete, militantes falecidos de Braga pagam quotas - as primárias do PS são mesmo uma campanha alegre. Não é que os outros partidos sejam muito melhores nestas coisas, mas para quem está sempre a criticá-los ...
sexta-feira, 22 de agosto de 2014
Auto-retrato(s) - 204
Daubigny - Autorretrato, 1861
Água-forte da série Voyage en bâteau.
Daubigny tinha um barco-atelier. Outros artistas tiveram ateliers em barcos.
«[...] quand il a son port d'attache à Auvers-sur-Oise, lorqu'il posséde un bateau, et navigue en Oise, en Marme e en Seine.
«Il écrit plaisamment un ami:
«"J'ai acheté à Auvers un terrain de trente perches tout couvert de haricots et sur lequel je planterai quelques gigots si vous venez me voir."
«Lá, il fait construire un atelier avec quelques chambres autour. mais il a un autre atelier, sur son bateau. Les laveuses des bords de la seine ou de l'Oise surnomment ce singulier bateau: Le Botin, qui signifie petite boîte. Dans cette cabane, garnie de boteilles de "piction", de chapelets d'oignons, de casseroles, de pipes et d'un matelas, Daubigny a fait une eau-forte, où on le voit assis, peignant la rivière.»
Charles Léger - La Barbizonnière. Paris: René Julliard, 1946, p. 131
Daubigny - Confluência dos rios Sena e Oise, 1896
A vida no campo - 3
Hoje vou postar alguns quadros de Julien Dupré.
Voltando do campo
Les faneurs dans les champs, 1886
Worcester, Art Museum
Recolha do leite
Regressando do campo
Glaneuses, 1880
quinta-feira, 21 de agosto de 2014
Leituras no Metro - 174
«Quando na guerra seguinte, os ingleses inventaram uma
cantiga segundo a qual Adolph Hitler tinha um só colhão, Bonifácio ganhou o hábito
de passar os domingos sentado no jardim do bairro Languedoque, sorrindo e
murmurando a história de como tinha lançado a granada que deixou o Führer
afanado. Ninguém, como é evidente , atribuiu então qualquer importância ou
crédito ao que ele contava e à cançoneta que tocava na estação de rádio que
ouvíamos clandestinamente . Parecia impossível eu o maligno e orgulhoso Adolph
pudesse ser um homem ao qual faltasse um testículo. Só o português sabia que a
canção que os bifes cantavam por pirraça dizia, afinal, a mais pura das
verdade.»
Manuel Jorge Marmelo – A guerra nunca acaba. Lisboa: Glaciar,
2014, p. 12
A canção a que Manuel Jorge Marmelo se refere intitula-se: «Hitler has only got one ball», de que há várias versões da letra.
quarta-feira, 20 de agosto de 2014
Betty Broadbent: uma das primeiras "freaks"
Perder o coração em Lisboa
"Perdi o coração em Lisboa" é o nome do espetáculo multimédia que entre 30 de agosto e 8 de setembro vai animar as noites na Praça do Comércio, em Lisboa, para comemorar o primeiro ano de abertura ao público do Arco da Rua Augusta. Com a duração de 15 minutos, este jogo de luzes vai ter três horários: 22, 23 e 24 horas. A CML, promotora do evento, garante desde já tratar-se de um espetáculo nunca antes visto na capital.
Um quadro por dia
Bernard Buffet pintou vários palhaços ao longo de décadas, este Le Clown é de 1994 e foi vendido no passado dia 26 de Julho por 122 000 euros.
Citações
(...) Fez-nos mal um certo novo-riquismo?
O novo riquismo faz sempre mal, não é ? Mas a verdade é que as pessoas foram animadas a ter um nível de vida maior e é compreensível que tivessem querido viver melhor. Não foi um despesismo pecaminoso ou irresponsável, só pessoas sem personalidade ou ambição é que se conformam. A maioria não viveu acima das possibilidades. As possibilidades é que desapareceram. Isso custa, até psicologicamente. Há coisas que são analisadas com pouca memória. O que se diz em relação ao País é que houve um disparate de despesismo, culpabiliza-se a irresponsabilidade de sucessivos governos, mas ouço falar pouco do que foi a melhoria de condições de vida e a tentativa de aproximar o litoral do interior. Foi espetacular! Fala-se do betão, das autoestradas e tal, mas as pessoas passaram a comunicar de uma forma completamente diferente. Sinto isso na pele. Quando estive a trabalhar em Pedras Salgadas fiz em hora e meia o que dantes fazia em quatro horas. Não falando no que foi a criação de escolas, universidades, hospitais, centros culturais, museus, etc. Foi espetacular! O primeiro sentimento é de orgulho no que aconteceu. Houve erros e há resquícios disso, mas em 40 anos de democracia deu-se uma transformação maravilhosa do País.
- Excerto da entrevista a Siza Vieira, publicada na Visão da semana passada.
Concordo na generalidade com o que diz Siza, mas a verdade é que como pude verificar recentemente algumas das autoestradas que são tão úteis para nos fazer chegar depressa onde queremos têm escasso tráfego, já para não falar de disparates ainda mais dispendiosos, e difíceis de resolver, como o aeroporto fantasma de Beja ...
Bom dia !
Vídeo de apresentação do novo álbum de Al Jarreau, que é também um tributo ao seu amigo George Duke, compositor e produtor desaparecido em 2013.
terça-feira, 19 de agosto de 2014
Bretanha-Lisboa
A "corrida" Bretanha-Lisboa chegou ontem ao fim. Segundo um dos participantes, apesar do cansaço da viagem o saldo é bastante positivo. Aguardamos os registos do passeio.
Marcadores de livros - 175
Espero que os nossos viajantes estejam a fazer um livro de viagens e que nos deem a conhecer algo da Bretanha.
Lorca, morte de um poeta
Tenho estado a ver esta série, em seis episódios, produzida pela TVE, sobre a vida de Lorca e que começa com o seu assassinato em 19 de agosto de 1936. A série é inspirada na biografia que Ian Gibson escreveu sobre o poeta.
Café Alameda, em Granada, onde Lorca, na juventude, teve uma tertúlia com amigos.
Primeiro livro de Lorca, publicado em 1918
Em 1921, Lorca vai Madrid e instala-se, por sugestão de Fernando de los Rios na Residência de Estudantes, onde conhece, entre outros, Buñuel e Dalí. É aqui também que Lorca se encontra com Rafael Albertí.
Em cima, da esq. para a dir.: Luis Eaton, Juan Centeno, Federico García Lorca, Emilio Prados e Juan Vicens, 1924; em baixo: Dalí, Lorca e Pepín Bello, 1923.
(Há anos, o Instituto Cervantes, em Lisboa, fez uma exposição sobre esta Residência.)
Um dos poemas de Poema del cante jondó, 1921
Dalí e Lorca em Cadaquès, numa foto de Ana María, irmã do pintor.
1928
Mariana Pineda foi escrita por Lorca entre 1923 e 1925 e estreada em 1927, com cenários e figurinos de Dalí.
Ainda só vi os três primeiros episódios e, no próximo, Lorca prepara-se para ir até Nova Iorque.
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