Prosimetron
sábado, 18 de outubro de 2008
Camille Claudel
Auguste Rodin - «Camille au bonnet»
terracota, ca 1884
Paris, col. Musée Rodin
Camille Claudel, escultora francesa, discípula de Rodin, com quem teve uma ligação amorosa, nasceu em Fère-en-Tardenois (França), em 8 de Dezembro de 1864, tendo falecido num manicómio, em Paris, em 19 de Outubro de 1943.
Camille Claudel - «La valse» ou «Les valseurs», bronze, 1905
A escultura original foi executada entre 1889 e 1893 e o seu paradeiro é desconhecido. A que se apresenta, uma das catorze edições executadas, é de 1905 e encontra-se em
Poitiers, col. Musée Saint-Croix
«Ce ne sont plus deux danseurs nus lourdement accouplés mais un gracieux enlacement de formes superbes balancées dans un rythme harmonieux au milieu de l'enveloppement tournoyant des draperies. Ah ces draperies sont bien frêles... Melle Claudel a voulu sacrifier le moins de nu possible et elle a eu raison. Mais elles suffisent cependant à voiler certains détails trop visiblement réalistes et à indiquer en même temps le caractère du sujet. Cette écharpe légère qui se colle aux flancs de la femme, laisant nu tout le torse, un torse admirable renversé gracieusement comme pour fuir un baiser, se termine en une sorte de traîne frissonnante. C'est comme une gaine déchirée d'où semble sortir brusquement une chose ailée! Ce groupe si beau, d'une originalié si saisissante,d'une si puissante exécution, gagnerait beaucoup à être transcrit en marbre. Melle Claudel est une artiste de très grand talent.» (Armand Dayot, 1892, cit. in Camille Claudel & Rodin: la rencontre de deux destins. Paris: Musée Rodin, Hazan, [...], 2005, p. 113)
«Elle [Camille Claudel] a su faire de cette idylle, un poème persuasif et charmant ou qui sait? un peu de son âme, un peu de son coeur l'ont miraculeusement inspirée.» (Mathias Morhardt, 1898, cit. in Camille Claudel: catalogue raisonné. 3ème ed. Paris: Adam Biro, 2001, p. 116)
Camille Claudel - «Auguste Rodin»
bronze, 1892
Paris, col. Musée Rodin
No ano passado, a obra de Camille Claudel foi objecto de uma grande exposição. Espreite-a em:
http://www.musee-rodin.fr/welcome.htm
http://www.camilleclaudel.com.br/
O génio de Oscar - 2 : Sobre biógrafos...
S. Lucas - 18 de Outubro
Biografias, autobiografias e afins - 1
Hoje na Byblos
É às 18h30 na Livraria Byblos, Rua Carlos Alberto Mota Pinto, 17 ( Amoreiras ) .
As minhas músicas - 26 : Los poetas andaluces
As minhas músicas - 25 : No woman, no cry
«O Salão de Música», de Satyajit Ray
«'O Salão de Música' é um dos filmes mais belos e célebres do grande mestre indiano e foi também o filme através do qual toda uma geração de espectadores europeus o descobriu. Realizado com o habitual requinte de Ray nresta fase da sua obra, o filme conta a história de um aristocrata sem descendência, que desbarata a fortuna realizando sumptuosos espectáculos musicais privados. À beira da ruína, prepara uma derradeira soirée, destinada a ultrapassar em extravagância todas as anteriores. O filme contou com alguns dos mais notáveis músicos e dançarinos indianos da época.» (do programa da Cinemateca). A música é do próprio Satyajit Ray.
Para saberem mais sobre este cineasta, consultem:
http://www.satyajitray.org/
18 de Outubro - 1
Melina Mercouri nasceu em 18 de Outubro de 1920, em Atenas. Actriz, cantora e activista política, foi nomeada Ministra da Cultura do seu país em 1981.
Vejamos e oiçamos uma canção do filme «Nunca ao domingo», de Jules Dassin: «As crianças do Pireu»
18 de Outubro - 2
O guitarrista Chuck Berry, por muitos considerado o «inventor» do rock and roll, nasceu em Saint-Louis, no Missouri (EUA), em 18 de Outubro de 1926.
18 de Outubro - 3
O escritor Manuel Teixeira Gomes, Presidente da República entre 1923 e 1925, morreu em Bougie (actual Bejaia), na Argélia, em 18 de Outubro de 1941. Vivia exilado desde 1925.
Marques de Oliveira – «Manuel Teixeira Gomes»,
óleo sobre tela, 1881
Porto, col. Museu Nacional de Soares dos Reis
DOIS EXCERTOS:
Junho, 14 [1895]
É um verdadeiro enigma o modo como se mantém o café do Hotel Internacional, conhecido geralmente pelo «Aquário dos imbecis». Os frequentadores, que são pouco numerosos, nada tomam: vão lá para conversar e ver a gente que passa a caminho da Avenida.
Um exemplo bem frisante: uma vez ouvi o barão da Regaleira dizer ao criado: - «Olha, Paço, se alguém procurar por mim dize que não tardo nada; vou ali a casa tomar café e já volto…»* Um freguês fixo, e invariável nas bebidas fortes, complicadas e caras, é o grandíssimo borrachão do encarregado de negócios da Rússia, mas esse nunca paga coisa a conta do hotel, onde ocupa há mais de um ano um belíssimo aposento.
Nisto pensava eu, muito repimpado em cómodo cadeirão, à porta do «aquário», esperando pelo Fialho, a quem dera rendez-vous, quando ele me aparece mais enfeitado do que uma noiva de aldeia. O que el trazia na gravata não era alfinete mas um autêntico broche; a abotoadura do colete de vidro colorido; e a cadeia do relógio toda resplandecente de pedraria falsa. A abordagem foi algo penosa. Não resisti a perguntar-lhe se eram aquelas as jóias com que a Emília das Neves representara «Joana a louca», e ele, todo abespinhado, faz menção de se ir embora. Mas serenei-o como pude e ficou. Passámos o dia juntos, alegres e descuidados como sucedia há dez anos; ele, despido de pompas literárias, estava singularmente feliz nos seus ditos, e eu ri de gosto vezes sem conto. […]
In: Regressos. 2.ª ed. Lisboa: Seara Nova, 1935
* Devíamos seguir este método: sentarmo-nos na Brasileira e ir tomar café à Benard.
Tunes, 7 de Janeiro de 1927
Meu caro Amigo [Ferreira Mira]:
Quando me soltei de Belém, para voltar às minhas antigas peregrinações, foi no propósito de me remeter ao mais absoluto e intangível silêncio. Não tencionava visitar lugares que tivesse visto antes, e a comparação das impressões actuais e passadas desdobrava-me suficientemente, para que eu pudesse manter comigo esse diálogo, a que tanto se prestam as viagens, e que na maioria dos casos torna apreciável a presença de um companheiro, ou a correspondência seguida com um amigo. Supunha-me suficientemente apetrechado para a existência solitária. O meu amor à solidão tem de particular que de forma alguma me exalta ou excita o espírito revolucionário. Dizia um filósofo da antiguidade que viver «sozinho» é próprio de um deus ou de uma fera. Graças ao progresso eu julgo que se pode viver contente na solidão, sem ser deus ou fera. Mesmo o espírito subversivo, hoje, pela complicação da vida actual, precisa, para se desenvolver e fortificar, da cooperação de muitos indivíduos –, aliás não cria asas e morre gorado, como o pinto na casca. […]
In: Miscelânea. Venda Nova: Bertrand, 1991, p. 39-40
18 de Outubro - 4
O jornalista e escritor espanhol Manuel Vásquez Montalbán faleceu, de ataque cardíaco, em Banguecoque, em 2003. Foi o criador do detective Pepe Carvalho, protagonista de alguns dos seus livros policiais. O escritor que era um apreciador de comida, característica que transmitiu ao seu personagem, publicou alguns livros de gastronomia e de cozinha.
Foi deste livro que retirei esta receita valenciana:
ARROZ NEGRO
para 4 personas:
400 g de arroz
1 kg de sepiones de playa
1 dl de aceite de oliva
1 ñora (pimiento rojo, redondo y seco)
perejul, limón, 1 cabeza de ajo
3 tomates maduros
Limpiar los sepiones y ponerlos a cocer sin quitarles la tinta con el agua justa. Seguidamente, poner la paella al fuego con el aceite. Una vez caliente, freír la ñora y llevarla a un mortero. Majarla muy fina junto con los ajos, los tomates, aceite, limón y perejil, para obtener un majado de salmorreta.
En el mismo aceite, incorporar unas cucharadas del majado y el arroz, y sofreír todo un poco. Añadir también los sepiones cocidos con su caldo. Sazonar todo con sal y azafrán y dejar cocer de 18 a 20 minutos. Servir acompañado de alioli.
Depois de treinarem o espanhol, mãos à obra.
Veja mais sobre este escritor em: http://www.vespito.net/mvm/
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Povo que lavas no rio
É uma canção de todos nós...
Povo que lavas no rio
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão
Há-de haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tu vida não
Fui ter á mesa redonda
Beber em malga que esconda
Um beijo de mão em mão
Era o vinho que me deste
Água pura, fruto agreste
Mas a tua vida não
Aromas de urze e de lama
Dormi com eles na cama
Tive a mesma condição
Povo, povo eu te pertenço
Deste-me alturas de incenso
Mas a tua vida não
Pedro Homem de Melo
Estrela da tarde
1976...Que saudades de tudo
Estrela da tarde
Era a tarde mais longa de todas as tardes
que me acontecia
eu esperava por ti, tu não vinhas
tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca,
tardando-lhe o beijo, mordia
quando à boca da noite surgiste
na tarde tal rosa tardia
quando nós nos olhamos tardamos no beijo
que a boca pedia
e na tarde ficámos unidos ardendo na luz
que morria
em nós dois nessa tarde em que tanto
tardaste o sol amanhecia
era tarde de mais para haver outra noite
para haver outro dia.
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza.
Foi a mais bela de todas as noites
Que me aconteceram
Dos nocturnos silencios que à noite
De aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois
Corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa
De fogo fizeram.
Foram noites e noites que numa só noite
Nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites
Que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles
Que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto
Se amarem, vivendo morreram.
Eu não sei, meu amor, se o que digo
É ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo
E acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste
Dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida
De mágoa e de espanto.
Meu amor, nunca é tarde nem cedo
Para quem se quer tanto.
António Ramos Rosa
porque tudo está sob a cinza e o pó
porque os fundamentos da tua
[construção oscilam
e as portas de veludo da solidão amada
estão perigosamente abertas sobre
[um mundo hostil
tremo contigo entre as sombras movediças
como se nos tivessem devorado
[o ouro vivo das nossas vidas
ou como se o alento que quer durar
[se detivesse nos nossos peitos
Ambos desejaríamos o sossego puro
[para imergir no elemento simples
em que a dor se consuma como
[a água no silêncio
e inteiramente soa na pedra do destino
porque tudo o que amamos se apagou
[sob o arco do tempo
e renasceu na juventude da sombra
[e na consumada lucidez
de uma tristeza imaculada que procurou
[sempre o lábio da luz
e nele ardeu como um beijo que esquecendo
[deslizou para o seu princípio amante
- António Ramos Rosa, in Cem poemas portugueses do adeus e da saudade, Terramar,2002.
António Ramos Rosa nasceu em Faro, a 17 de Outubro de 1924.
Sobre a crise - 3
- Vasco Pulido Valente, Mistérios da crise, PÚBLICO de hoje.
Sobre a crise - 2
Estas regras implicam princípios éticos que não se coadunam nem com a ideia do sucesso "já" (...) nem com a pressão para obter bons resultados trimestralmente de forma a agradar aos mercados bolsistas. Neste novo mundo misturaram-se yuppies deslumbrados com a riqueza ao virar da esquina, investidores incapazes de compreenderem a cultura e os planos a médio (ou longo) prazo das empresas e consumidores que, perante um mundo de facilidades onde todos pareciam ganhar, também gastaram ontem o que não sabiam se iam ter amanhã. (...)
- José Manuel Fernandes, Editorial, PÚBLICO, hoje.
Franz Kafka : Aforismos - 4
-Franz Kafka, aforismos, Ulmeiro, 2001.
As minhas músicas - 24 : Walk on the wild side
As minhas músicas - 23 : Superstition
Chiquinha Gonzaga
Foi a primeira “chorona”, primeira pianista de choro, autora da primeira marcha carnavalesca (Ô Abre Alas, 1899) e também a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil.
Filha do general do Exército Imperial José Basileu Neves Gonzaga e da mulata Rosa Maria de Lima, aprendeu música. Desde cedo frequentava rodas de lundu, umbigada e outras músicas populares típicas dos escravos.
Aos 16 anos casou por imposição familiar com um oficial da Marinha, de quem se separou por ele a proibir de fazer música e a manter quase sequestrada.
Ganhou a vida como pianista em casa de música, ao mesmo tempo que compunha música para operetas e teatro de revista e polcas, valsas, tangos, cançonetas e choro, música que reunia géneros musicais europeus e ritmos africanos,de que as composições mais conhecidas são de Pixinguinha. Teve uma vida amorosa atribulada e escandalosa para os padrões da época. Foi bandeira do abolicionismo e do republicanismo e uma feminista avant la lettre.
Choro nº 1, de Heitor de Villa Lobos, por David Russell
Antes dos Pink Floyd...
e Joel Grey interpretaram «Money» no filme «Cabaret», de Bob Fosse:
Muito a propósito nos dias que correm...
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Viagens...
Obama ou McCain? Se o mundo pudesse votar...
PENSAMENTO DO DIA
- Paulo Borges, A cada instante estamos a tempo de nunca haver nascido- aforismos, Zéfiro, 2008.
16 de Outubro de 1793 : Maria Antonieta
" (...) Maria Antonieta é um dos mais belos exemplos desse heroísmo involuntário.
Com que arte, com que engenho nos episódios, sob que vasta cena, a História construíu o seu drama em roda desta natureza vulgar, com que ciência ela fez nascer os contrastes em volta dessa personagem central que, desde o princípio tão pouco se prestava a isso!
Com manha diabólica, começou por encher essa mulher de favores... Dá à criança, para morar, um palácio imperial, à adolescente uma coroa, à mulher jovem prodigaliza generosamente todos os dons do encanto e da riqueza, concedendo-lhe também um coração que não se preocupa com o valor desses presentes. Durante anos, acarinha e anima esse ente leviano, até que o torna cada vez mais inconsciente, fazendo-lhe quase perder a razão. Mas se o destino conduziu rápida e facilmente essa mulher ao mais alto grau de felicidade, foi só para a deixar caír, em seguida, com a mais requintada lentidão e crueldade.
Com um realismo melodramático, esta tragédia põe em presença os contrastes mais violentos ; arranca Maria Antonieta de um palácio com cem salões, e atira-a para uma prisão miserável; do coche doirado para o carro penitenciário; do trono para o cadafalso; arremessa-a do luxo para a indigência; de uma mulher , que goza da estima geral e é aclamada por todos, faz um objecto de ódio sobre o qual se abate a calúnia; em resumo, arrasta-a sempre cada vez mais para baixo, sem piedade, até ao supremo abismo.
(...) a desgraça não cessa de martelar a alma mole e fraca de Maria Antonieta, antes de ter obtido dela a firmeza e a dignidade, e de lhe fazer surgir toda a grandeza ancestral, guardada bem no seu íntimo. Esta mulher maltratada, que nunca teve curiosidade de si própria, percebe enfim, com horror, no meio dos seus tormentos, a transformação que se opera justamente no instante em que o seu poder real acaba: sente nascer em si qualquer coisa de grande e de novo, que não seria possível sem essa prova.
« É na desgraça que a gente sente melhor quem é. » Estas palavras, altivas e comovedoras, jorram da sua boca e espantam. Um pressentimento diz-lhe que é justamente devido à dor que a sua pobre vida ficará, como exemplo, para a posteridade. E, graças a esta consciência de um dever superior a cumprir, o seu carácter engrandece-se para além de si próprio. Pouco antes da forma humana se quebrar, a obra-prima imperecível está concluída, pois na última hora da sua vida, mesmo na última hora, Maria Antonieta, natureza mediana, atinge a expressão trágica e torna-se igual ao seu destino. "
- Stefan Zweig, Maria Antonieta ( Introdução)
Também é pelas páginas, de que transcrevi o final, da introdução à obra, que Zweig continua a ser, para mim, o melhor biógrafo da última rainha do Ancien Régime. Tendo lido várias biografias de Maria Antonieta, umas melhores do que outras, é esta a minha biografia de referência, tantos anos depois de a ter lido pela primeira vez numas férias de Verão em casa dos meus avós paternos. Aliás, foi desse exemplar que transcrevi as linhas supra, pelo que fica explicado o uso de algumas palavras hoje menos correntes. É o exemplar do meu avô, por ele assinado, e que nunca devolvi... É a edição de 1958, da Livraria Civilização Editora, com tradução de Alice Ogando.
Sobre a crise - 1
- Viriato Soromenho Marques, Já ninguém morre em Wall Street, VISÃO, 16/10.
As minhas músicas - 22: Money
As minhas músicas - 21: La petite fille de la mer
É também dele o tema inicial de Cosmos, a grande série documental feita por Carl Sagan, lembram-se?Fica aqui no blogue esta versão para piano, menos tecnológica mas também um bom exemplo das muitas transcrições que se fizeram .
Garota de Ipanema
na imagem Caetano Veloso que também canta...
outra versão com o saudoso Tom Jobim
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Outro segredo... sobre o chá
Reservar um bule exclusivamente para preparar o chá preto de forma tradicional (nada de saquetas) e, no fim, apenas passá-lo por água. Com o tempo vai o bule vai escurecendo por dentro dando ao chá aquele gostinho especial. Segredo de chinês.
O segredo do chá inglês...
– Escaldar o bule – interrompeu Herr Rat […]. - Para que é que se escalda o bule? Ah! Ah! Essa é boa! Que eu saiba não é costume comer o bule.
Fixou em mim os seus frios olhos azuis com uma expressão que sugeria mil invasões para daí a pouco.
- É então esse o grande segredo do vosso chá inglês? Afinal basta escaldar o bule.
Katherine Mansfield
In: Numa pensão alemã. Trad. de Ana Maria Almeida Martins. Lisboa: Difel, 1995, p. 12
Katherine Mansfield nasceu em 14 de Outubro de 1888, em Wellington, na nova Zelândia. Há 120 anos.
E desculpem se vos estou a dar uma grande chazada.
Columbano - «A chávena de chá», 1898
Lisboa, col. Museu do Chiado
Um poeta sírio
ONTEM…
1.
Ontem pensei
no meu amor por ti.
Recordei
as gotas de mel nos teus lábios
e lambi o açúcar
das paredes da minha memória.
2.
Por favor,
respeita o meu silêncio,
o silêncio é a minha melhor arma.
Escutaste as minhas palavras
quando fiquei silencioso?
Sentiste a beleza do que disse
quando não disse nada?
Nizar Kabanni
In: Qual é a minha ou a tua língua?: Cem poemas de amor de outras línguas / org. Jorge Sousa Braga. Lisboa: Assírio & Alvim, 2003, p. 33
Breve nota ainda sobre o chá
Se visitarem a First Flush não saiam sem trazer chá Argolas de Jasmim (indicado para momentos especiais), Chá dos Imperadores (ainda utilizado em cerimónias oficiais) ou o chá fumado Lapsang Souchong, cujo saber exótico vai dar um toque mais sofisticado a um qualquer prato de carne. Estas sugestões pertencem à gama dos chás verdes.
Babar, Harry Potter e Companhia
"Nietzsche e Bernanos, este último um crente, enquanto que o primeiro proclama a morte de Deus, são autenticamente não-conformistas. Ambos, um em nome de um futuro pressentido, o outro invocando uma imagem idealizada do Ancien Régime, dizem não à democracia, ao socialismo, ao regime de massas. Eles são hostis ou indiferentes à elevação do nível de vida, à generalização da pequena burguesia, ao progresso da técnica. Eles têm horror da vulgaridade, da baixeza, difundida pela práticas eleitorais e parlamentares".
Rembrandt no Museu do Prado
E mais humor na campanha norte-americana
A história do chá
Também pertenço ao clube dos apreciadores de chá. Por isso aqui vai o meu contributo:
"O chá nasceu na China e segundo a lenda, através de uma casualidade. Em 2737 a.C. o Imperador Shen Nung sentou-se debaixo de uma árvore para descansar um pouco da jornada e beber uma taça de água, que mandou ferver pois adquirira, na altura, modernos conhecimentos de medicina e bebia água fervida para evitar as contaminações. No momento em que lhe traziam a taça de água fervida uma ligeira brisa soprou e umas folhas caíram na água, dando-lhe uma cor e um perfume delicado. O Imperador bebeu e deleitou-se com a nova e inesperada beberragem. A árvore era um chazeiro selvagem. Com cinco milénios de história, o chá foi desde sempre considerada uma bebida propícia à meditação, sendo uma das bases do pensamento Taoísta do qual surgiu o Budismo Zen. No séc. VII, pela mão do padroeiro do chá Lu Yu, que redigiu "O Clássico do Chá", considerado o primeiro Código do Chá, Lu Yu escreve que ao serviço do chá descobriu "a mesma ordem e a mesma harmonia que rege todas as coisas". "O Clássico do Chá" ficou para sempre inscrito na vida artística, intelectual e filosófica chinesa. Para os chineses o "Tchadô" - a Via do Chá "permitia aos homens alcançar a harmonia na verticalidade: o Céu, a Terra e o Homem. O chá chegou ao Japão através de monges budistas que tinham estudado nos mosteiros chineses a seita do Chan (Zen é a tradução japonesa). Um dos discípulos de Takeno Jô-ô, monge budista, Sem Rikkyû, sendo também um dos maiores devotos do "Tchadô", continuou e aprofundou a filosofia de vida do seu mestre e elevou-a a obra de arte. Baseada nos quatro princípios do "Tchadô": Wa, significa harmonia; Kei, respeito; Sei, pureza e Jaku, tranquilidade. Ainda hoje são eles que regem a famosa Cerimónia do Chá Japonesa. Ao longo da História, o chá foi protagonista de grandes aventuras marítimas na famosa Rota do Chá, onde navegavam os conhecidos "Clippers", tendo sido palco de manobras estratégicas de diferentes potências para adquirirem o controlo da distribuição e comércio do chá. O chá foi também protagonista em revoltas políticas, como a Boston Tea Party (séc. XVIII) que foi considerado o primeiro acto de guerra para a conquista da independência dos EUA."
Este texto foi retirado do site da First Flush, uma loja especializada em chás de todo o mundo que vale a pena conhecer. First Flush é o termo usado para definir um chá de elevada qualidade em termos de aroma e sabor, que pertence a uma "colheita fina" feita após as primeiras chuvas da Primavera. Sempre que em qualquer chá estiver inscrita a denominação Pekoe significa que foi feito a partir da primeira folha do chazeiro e do gomo terminal da planta. Pekoe, termo ocidentalizado de Pak-ho, que quer dizer "cabelo de recém-nascido".
Sobre impérios...
http://www.nytimes.com/2008/10/12/opinion/12dowd.html?_r=1&oref=slogin
PENSAMENTO DO DIA
- Clarice Lispector, A DESCOBERTA DO MUNDO, Nova Fronteira, 1984, p.539.
Kiefer na Comporta
Parece que é mesmo séria a intenção de Anselm Kiefer se instalar na Comporta. O grande escultor e pintor alemão, de que gosto particularmente, irá transferir a sua habitação e ateliers de Paris para a Comporta, instalando-se nos 600 hectares da Herdade do Vale Perdido. A intenção de Kiefer é também construir um centro de exposições e reconverter a antiga pedreira existente na herdade para expôr ao ar livre algumas das suas esculturas de maior dimensão.
Mais um pretexto para ir até à Comporta, se bem que não são precisos pretextos. É um oásis, especialmente enquanto Tróia ainda é um enorme estaleiro.
Mistérios de Lisboa - 3: Uma novidade
O Conservatório na Assembleia
O poder do Nobel...
As minhas músicas - 20: Angie
As minhas músicas - 19: Papa was a rolling stone
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Quando vi Nat King Cole...
The Platters - «Only You» (1955)
Paul Anka - «Diana» (1957)
Porque há amantes de chá neste blogue...
«Consta que, por voluntária desistência das efémeras alegrias terreais, Darumá votou-se a passar a vida de joelhos sobre o solo pedregoso, absorto em contemplações místicas, sem mesmo permitir-se o simples regalo de dormir. [...]
«Consta mais que, em certa noite, as pálpebras se lhe cerraram de fadiga, e o bom Darumá deixou-se adormecer, para só acordar pela manhã. Então, pedindo a alguém uma tesoura ou instrumento parecido, cortou a si próprio as pálpebras indignas e arremessou-as ao solo, num gesto de despeito... As pálpebras, por milagre, enraizaram, dando nascença a um gracioso arbusto nunca visto, que medrou muito de pronto e cujas folhas, tratadas de infusão pela água quente, foram um remédio precioso contra o sono e contra o cansaço das vigílias. Estava conhecido o chá; tem pois na China a sua origem, e é coisa santa, como se acaba de provar.»
Venceslau de Morais – O culto do chá. 2.ª ed. Lisboa: Vega, 1996, p. 17-18. Com desenhos de Yoshiaki.
Sonho Americano
Picasso et les Maîtres
Do mundo grego outro sol - 1 : Epigramas amorosos
147
Entrelaçarei o goivo branco, entrelaçarei aos mirtos
o delicado narciso, entrelaçarei os lírios risonhos
e o doce açafrão. E entrelaçarei também
o purpúreo jacinto e a rosa cara aos amantes,
para que nas têmporas de Heliodora, de perfumados anéis,
a minha coroa inunde a sua cabeleira com uma chuva de flores.
- Meléagro
216
Se amas, não deixes o teu coração afundar-se inteiramente
cheio de humildes súplicas. Pelo contrário,
mostra-te algo reservado, mantém o sobrolho
erguido, aparentando embora um olhar condescendente.
Com efeito, é próprio das mulheres desprezar os orgulhosos
e troçar das pessoas demasiado choramingas.
O melhor amante é aquele que alia as duas coisas,
que mostra condescendência associada a uma certa altivez.
- Agátias, O Escolástico
221
Até quando, dissimulando o olhar inflamado,
lançaremos um ao outro olhares furtivos?
Declaremos abertamente o nosso amor e, se alguém
se opuser aos doces laços que libertam dos desgostos e à nossa
união, o remédio será para ambos uma espada:
é mais agradável ter sempre em comum a vida ou a morte.
- Paulo Silenciário
in do mundo grego outro sol, Antologia Palatina e Antologia de Planudes, selecção, tradução e notas de Albano Martins, Edições ASA, 2002.
Sem título
Mistérios de Lisboa - 2: As casas dos artistas
Faz algum sentido que Lagoa Henriques ou Pedro Croft, sem ter nada contra eles pessoalmente, beneficiem de rendas quase simbólicas ? Atendendo à sua cotação como artistas, não seria justo que pagassem rendas mais consentâneas com o valor do mercado "normal" de arrendamento? É que na verdade o valor das rendas pagas por estes dois e por outros artistas estão ao nível da habitação social, e há que convir que estamos perante realidades bem diferentes.
E o que ainda me surpreendeu mais foi a arrogância com que alguns destes beneficiários lidaram com estas revelações, desde logo por exemplo as declarações de Carlos Amado.
Também no que respeita às casas cedidas a artistas, há que acabar com a casuística que imperou nas últimas décadas e regular mais objectivamente estas atribuições.
Marçal Grilo e a Educação...
" A minha geração vai ficar aqui com um peso na consciência por não ter sido capaz de motivar os jovens para a educação. Houve muita euforia mas faltou isto. Não é admissível que tenhamos estas taxas de insucesso e de abandono escolar. "
Como se costuma dizer, mais vale reconhecer tarde do que nunca. Pode ser que os Magalhães ajudem na motivação...
Da caligrafia
Justa candidatura.
As minhas músicas - Prólogo a outra década
Sempre eclético, fui no entanto mais sensível a alguns destes novos sons do que a outros, como se verá nas escolhas que serão apresentadas nos próximos dias.
O critério continuará a ser cronológico q.b., o que em nada impedirá que se constate a grande pluralidade musical que marcou esta década.
Continuarão ausentes temas em português, que ficam para outras núpcias...
As minhas músicas - 18 : Space Oddity
As minhas músicas - 17: River Deep, Mountain High
Nat King Cole : Mona Lisa
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
O Poder da Simpatia
Linda Thaler e Robin Koval são colegas de trabalho numa das mais poderosas agências de publicidade norte-americanas - o grupo Kaplan Thaler - que inspiradas pelos benefícios da simpatia decidiram escrever "The Power of Nice". Neste livro relatam vivências profissionais de sucesso onde um simples sorriso pode fazer muito mais do que se imagina. Não esquecem o precioso papel do afável segurança da empresa e explicam como a simpatia, das palavras mais fortes que existem, pode fazer excelentes conquistas tanto na vida profissional como no dia-a-dia. Tudo isto, afinal, com um gesto tão simples. Um livro que por cá devia ser lido por muito boa gente com quem nos cruzamos diariamente na rua, nas lojas, cafés, restaurantes, repartições e até nos nossos empregos. Segundo um estudo da Universidade de Toronto, as pessoas simpáticas têm mais sorte ao amor, com consideráveis baixas nas taxas de divórcios. Outro estudo da Universidade de Michigan revela que a simpatia é sinónimo de saúde. Em "Primal Leadership", o professor Daniel Goleman mostra de que forma as emoções afectam o local de trabalho e a estreita relação que existe entre os resultados financeiros de uma empresa e o estado de espírito dos funcionários. Obviamente que estas teorias valem o que valem mas não custa nada reflectir um pouco sobre a questão.
Dois Sherlock portugueses
Maria O’Neill, escritora, sufragista e dedicada à causa espírita, publicou, entre outras obras, seis volumes de policiais numa colecção a que chamou «Um imitador de Sherlock-Holmes».
O jornalista Hermano Neves foi, segundo Reinaldo Ferreira, o autor de uma colecção de folhetos, publicados sob o nome de Ponson du Marne, com o título de Sherlock Holmes intrujado por Jack O Estripador.
Nina Simone - My Baby just cares for me
My baby don’t care for shows
My baby don’t care for clothes
My baby just cares for me
My baby don’t care for cars and races
My baby don’t care for high-tone places
Liz Taylor is not his style
And even Lana Turners smile
Is something he cant see
My baby don’t care who knows
My baby just cares for me
Baby, my baby don’t care for shows
And he don’t even care for clothes
He cares for me
My baby don’t care
For cars and races
My baby don’t care for
He don’t care for high-tone places
Liz Taylor is not his style
And even liberaces smile
Is something he can’t see
Is something he can’t see
I wonder what’s wrong with baby
My baby just cares for
My baby just cares for
My baby just cares for me
Joshua Bell
Joshua Bell "canta" Una furtiva lagrima
Gaetano Donizetti - L'elisir d'amore, 1832
Ramiro Fonte, poeta galego
Foi ficcionista e crítico literário em diversas revistas e na imprensa diária., nomeadamente na Colóquio Letras, da Fundação Gulbenkian. Participou em diversos encontors de escritores galegos e portugueses .Recebeu vários prémios pela sua obra.
Ramiro Fonte era Director do Instituto Cervantes de Lisboa desde Março de 2005.
SEGUNDO LARGO ADIÓS PARA UN JOVEN MARINO
O Banho de Baco
Quem quiser viver uma experiência diferente pode fazê-lo até Dezembro, nas Termas de Alcafache, concelho de Viseu. O corpo agradece...
Vem aí uma autêntica batalha campal... em livro
13 de Outubro de 1307
Na Austrália e na Alemanha
Em Adelaide, no sul da Austrália, o incesto está na ordem do dia. Passo a explicar. Há dez anos, 30 mulheres lésbicas foram inseminadas com o sémen de um único dador. Nasceram as crianças, rapazes e raparigas, que evidentemente desconhecem hoje quem são os seus meio-irmãos.
O que se tem discutido em Adelaide, agora que estas crianças irão entrar na adolescência, é o potencial perigo de incesto, no caso involuntário.Até porque Adelaide não é Nova Iorque ou São Paulo, existem realmente grandes probabilidades de relacionamento entre estas crianças.
Em Adelaide não havia há dez anos uma regulação eficaz para as doações de sémen, o que permitiu esta situação. Em muitos países, está previsto um número máximo de inseminações para cada dador, precisamente para evitar casos como este.
E esta notícia trouxe-me à memória vários relatos que li sobre casos de incesto involuntário ( irmãos separados pela Segunda Guerra Mundial, ou adoptados separadamente ) em que os intervenientes relataram que ao conhecerem os seus maridos ou mulheres tinham sentido uma atracção inexplicável por aquelas pessoas...
Aliás, na Alemanha tem sido fonte de aceso debate jurídico um caso de incesto involuntário entre irmão e irmã, do qual nasceram filhos, pelo menos um dos quais com problemas de saúde, e em que o casal se recusa separar. O Tribunal Constitucional Alemão decidiu recentemente que não era inconstitucional a criminalização que havia sido feita no caso, entendendo que, ao contrário do que foi defendido durante décadas pela doutrina jurídica, não estamos perante um "crime sem vítimas" já que os potenciais filhos podem ser potenciais vítimas desde logo de doenças genéticas.
É realmente um assunto muito complexo esta conjunção entre o direito a ter filhos, aos afectos escolhidos, e os direitos dos que nascem absolutamente inocentes.
Mistérios de Lisboa - 1: O Lisboagate
Neste pequeno país, em que toda a gente se conhece ou conhece um primo do presidente, ou um assessor de um vereador etc, evidentemente eu também sabia da existência destas casas atribuídas por critérios que não os da habitação social. Embora desconhecesse a enorme dimensão do fenómeno, e sobretudo a longa duração temporal de alguns casos.
Compreendo muitas das cedências que vieram a público- por razões funcionais, emergências familiares ou carências transitórias, mas não consigo compreender a manutenção escandalosa de algumas dessa situações durante décadas, acabando por configurar verdadeiras situações de privilégio- desde logo o caso de Ana Sara Brito. Como compreender que alguém que tem estado sempre ligado ao Município, com um vencimento razoável, permaneça numa casa cedida por Abecassis?! Porque não recorrer ao mercado normal de arrendamento, ou a um empréstimo para compra de habitação como fizeram milhares de portugueses durante todos esses anos?
Ou o caso quase anedótico de José Bastos, alto funcionário muncipal que ainda teve o descaramento de dizer que mantinha a casa que lhe foi cedida in illo tempore porque pode precisar dela caso se divorcie novamente... E como compreender a ética republicana de alguns destes privilegiados que passaram o uso das casas aos filhos?
Evidentemente, a responsabilidade política de tudo isto tem de ser assacada aos sucessivos presidentes de câmara que toleraram, não moralizaram e não fiscalizaram este estado de coisas.
Presidentes de esquerda e de direita, porque neste caso o chamado Centrão foi dominante. E quando os "nossos" beneficiam, temos de calar quando vemos os dos "outros" beneficiar também.
Rendas escandalosamente baixas, ausência de critérios objectivos na cedência das casas, e sobretudo uma incompreensível perpetuação de muitas das situações, que ab initio tinham ou deveriam ter carácter transitório. É isto que agora importa regular e fiscalizar.
Amanhã, há mais.
O maior dos detectives
Como diria Holmes- The game is afoot !
Camus
O Ghan
As 100 citações do cinema - #1
Rhett Butler (Clark Gable), "Gone With the Wind", 1939
VIOLETA PARRA - Gracias a la vida
Com esta música apresento-me. Agradeço ao meu amigo Luís a confiança que depositou em mim ao convidar-me para colaborar neste blogue que acompanho quase desde que nasceu. Aproveito para saudar todos os outros colaboradores assim como os comentadores.
As minhas músicas - 16: Bang Bang ( My Baby Shot Me Down)
As minhas músicas - 15: Nights in white satin
domingo, 12 de outubro de 2008
12 de Outubro de 1986: Ruy Cinatti
Chorar pelos vivos que falecem
é natural-coisa lacrimal.
A carne sente a falta do costume
às tantas...tem fome.
Não choro ninguém.
Quando digo chorar é outra pressa
de chegar a tempo
da conversa atenta com um amigo
que nos quer bem.
Chorar por ninguém é chorar pelos vivos
que já morreram, sem o saber, e vivem
no seu presídio.
O resto, repito, é fisiologia
provocada, ainda bem, pelo riso,
ou pela dor que temos de já ter nascido
e sermos chorados por alguém.
- Ruy Cinatti, in Cem poemas portugueses do adeus e da saudade ( Selecção, organização e introdução de José Fanha e José Jorge Letria ) , Terramar, 2002.
Ruy Cunatti morreu no dia 12 de Outubro de 1986, aos 71 anos de idade.