Prosimetron

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sábado, 25 de janeiro de 2014

Boa noite!

Pâtisserie Gloppe

Jean Béraud - Pâtisserie Gloppe, Champs Elysées, 1889

É pena que já não exista para se poder visitar.

O "poeta esquecido"



              Aguinaldo Fonseca

Morreu ontem em Portugal, onde vivia desde 1945,com 91 anos, natural do Mindelo, Cabo Verde. Muito poucos saberão quem foi. Mas muitos conhecerão o poema

Mãe Negra 
 
A mãe negra embala o filho.
Canta a remota canção
Que seus avós já cantavam
Em noites sem madrugada.
Canta, canta para o céu
Tão estrelado e festivo.
É para o céu que ela canta,
Que o céu
Às vezes também é negro.
No céu
Tão estrelado e festivo
Não há branco, não há preto,
Não há vermelho e amarelo.
—Todos são anjos e santos
Guardados por mãos divinas.
A mãe negra não tem casa
Nem carinhos de ninguém...
A mãe negra é triste, triste,
E tem um filho nos braços...
Mas olha o céu estrelado
E de repente sorri.
Parece-lhe que cada estrela
É uma mão acenando
Com simpatia e saudade...
 
Foi publicado em Portugal e o primeiro autor a utilizar áfrica na substância poética de Cabo Verde, que reuniu alguns  dos seus poemas no suplemento Notícias de Cabo Verde em 1957, depois de ter publicado em 1951 a colecção "Linha do Horizonte".  As injustiças sociais e o ardor cívico perpassam pelos seus poemas, bem como o sentido da insularidade.
 
Canção dos rapazes da ilha
 

Eu sei que fico.
Mas o meu sonho irá
pelo vento, pelas nuvens, pelas asas.
 
Eu sei que fico
Mas o meu sonho irá ...
 
Eu sei que fico
Mas o meu sonho irá
Nos frutos, nos colares
E nas fotografias da terra,
Comprados por turistas estrangeiros
Felizes e sorridentes.
Eu sei que fico mas o meu sonho irá ...
 
Eu sei que fico
Mas o meu sonho irá
Metido na garrafa bem rolhada
Que um dia hei de atirar ao mar.
Eu sei que fico
Mas o meu sonho irá ...
sei que fico
Mas o meu sonho irá
Nos veleiros que desenho na parede. 
  

 
 

No banho

Cartaz de Leopoldo Metlicovitz 

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Utilidade


   Senhora da Rosa, 1425-1450 , Museu Nacional Machado de Castro
UTILIDADE

Sá as mãos que se estendem para a frente interessam.
Só os olhos que vêem para além do que se vê,
só o que vai para o que vem depois,
só o sacrifício por uma realidade que ainda não existe,
só o amor por qualquer coisa que ainda não se vê e ainda, nem nunca, será
nossa,
interessa.

Mário Dionísio, in Geração do "Novo Cancioneiro", Poemas Ditos por Maria de Jesus Barroso, Música de Luísa Amaro. Lisboa: Althum. com, 2010, p. 49.

Claudio Abbado (1933-2014)

Alguém precisa de um sapateiro?


La Vie Parisienne - 3

Ilsutração de Maurice Milliere, 1919