«Já escolheram, comandante? – perguntou.
«- Eu queria fettuccine com trufas – respondeu della Corte. Brunetti acenou afirmativamente para o proprietário. – E depois, o pato. – Brunetti voltou a acenar.
«- Sugiro o Merlot del Piave – disse o proprietário. Quando della Corte disse que sim, o proprietário fez uma inclinação quase impercetível e afastou-se da mesa deles.
«Della Corte pegou no copo e bebeu um gole de vinho espumante. Brunetti fez o mesmo. […]
«Prestou de novo atenção à mesa e aos pratos de fettuccine, resplandecente com o brilho da manteiga. O proprietário voltou, trazendo uma pequena trufa num prato branco, numa mão, e um ralador metálico na outra. Pousou o prato, inclinou-se para o prato de della Corte e raspou a trufa, depois ergueu-se, voltou a inclinar-se, desta vez para o prato de Brunetti e fez o mesmo. O cheiro silvestre do bolor soltou-se dos fettuccine ainda fumegantes, envolvendo não só os três homens, como toda a área em volta deles. Brunetti enrolou a primeira garfada e começou a comer, entregando-se de alma e coração ao sensual prazer da manteiga, às massas perfeitamente cozinhadas e ao sabor forte e inebriante da trufa.
«Della Corte era obviamente um homem que se recusava a misturar comida e conversa, pelo que conversaram muito pouco até ao fim da refeição. O pato estava quase tão bom como as trufas – para Brunetti nada era tão bom como as trufas – e terminaram com um cálice de Calvados diante deles.»
Donna Leon - Morte e julgamento. Trad. Conceição Pacheco. Lisboa: Presença, 2001, p. 154-155