Prosimetron

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sábado, 5 de fevereiro de 2011

Dança Macabra! - Joanna Chrobak

Joanna Chrobak é uma pintora polaca que descobri recentemente. Gostei dos temas que aborda e do simbolismo e surrealismo das pinturas, para além do ponto de contacto com a pintura medievo-renascentista (segundo a minha observação estética) representadas na dimensão corporal feminina.

Joanna Chrobak, La Danse Macabre
x

Outras telas


Agradecendo ao anónimo que me chamou a atenção para uma gralha.

Cinenovidades - 167 : Tokyo!

Estreia brevemente entre nós este filme a três mãos ( Michel Gondry, Leos Carax e Boon Jong-oh ) que conta três histórias passadas na capital japonesa.

Frase da semana ( que passou )


É melhor um putanheiro que faz boas leis que um bom católico que promulga normas contrárias à Igreja.


-
Vittorio Messori


Este senhor é um teólogo italiano próximo do Opus Dei, e proferiu esta frase, como é fácil de adivinhar, a propósito dos mais recentes casos político-sexuais de Berlusconi. É que, ao contrário do que seria de esperar, ou pelo menos eu esperava, nem todos os católicos italianos estão fartos de Berlusconi. Enquanto que a maioria dos bispos e dos movimentos de leigos o quer fora do poder, alguns movimentos mais tradicionalistas como o Opus Dei e o Comunhão e Libertação e sectores mais conservadores do Vaticano não se mostram muito favoráveis a que Il Cavaliere abandone de vez a chefia do Governo italiano.
Ao menos esta frase teve a virtude de expor o pragmatismo moral de certos sectores...

Jardins - 11


Joaquin Sorrolla y Bastida - Court of the Dances, Alcázar, Sevilla
Col. particular


Joaquin Sorrolla y Bastida - Corner of the Garden, Alcázar, Sevilla
Col. particular

Magnifico es el Alcázar
Con que se ilustra Sevilla,
Deliciosos sus jardines,
Su excelsa portada rica.
[...]
Las adelfas y naranjos
Forman calles extendidas,
Y un oscuro laberinto
Que a los hurtos de amor brinda.
[...]
En las tardes del estío,
Cuando al ocaso declina
El sol entre leves nubes,
Que de oro y grana matiza;

Aquel trasparente cielo
Con ráfagas purpurinas,
Cortado por un celaje
Que el céfiro manso riza;

Aquella atmósfera ardiente
En que fuego se respira,
¡Qué languidez dan al cuerpo!
¡Qué temple al alma divina!
[...]

Duque de Rivas (1791-1865)
De «El Alcázar de Sevilla: Romance primero»

Ítaca

 
Pinturas encontradas em Acrotiri, Thera (Santorini) 

Quando partires de regresso a Ítaca, 
deves orar por uma viagem longa, 
plena de aventuras e de experiências. 
Ciclopes, Lestregónios, e mais monstros, 
um Poseidon irado – não os temas,
jamais encontrarás tais coisas no caminho, 
se o teu pensar for puro, e se um sentir sublime 
teu corpo toca e o espírito te habita. 
Ciclopes, Lestregónios, e outros monstros, 
Poseidon em fúria – nunca encontrarás, 
se não é na tua alma que os transportes, 
ou ela os não erguer perante ti. 
Deves orar por uma viagem longa. 
Que sejam muitas as manhãs de Verão, 
quando, com que prazer, com que deleite, 
entrares em portos jamais antes vistos! 

Em colónias fenícias deverás deter-te 
para comprar mercadorias raras: 
coral e madrepérola, âmbar e marfim, 
e perfumes subtis de toda a espécie: 
compra desses perfumes quanto possas. 
E vai ver as cidades do Egipto, 
para aprenderes com os que sabem muito. 
Terás sempre Ítaca no teu espírito, 
que lá chegar é o teu destino último. 
Mas não te apresses nunca na viagem. 
É melhor que ela dure muitos anos, 
que sejas velho já ao ancorar na ilha, 
rico do que foi teu pelo caminho, 
e sem esperar que Ítaca te dê riquezas.
Ítaca deu-te essa viagem esplêndida. 
Sem Ítaca, não terias partido. 
Mas Ítaca não tem mais nada para dar-te. 
Por pobre que a descubras, Ítaca não te traiu. 
Sábio como és agora, 
senhor de tanta experiência, 
terás compreendido o sentido de Ítaca.

Konstantinos P. Kavafis
Trad. Jorge de Sena

 

EM ÍTACA 
Quando um homem se põe a caminhar 
deixa um pouco de si pelo caminho. 
vai inteiro ao partir repartido ao chegar. 
O resto fica sempre no caminho 
quando um homem se põe a caminhar. 

Fica sempre no caminho um recordar
fica sempre no caminho um pouco mais 
do que tinha ao partir do que tem ao chegar. 
Fica um homem que não volta nunca mais 
quando um homem se põe a caminhar. 

Vão-se os rios sem margens para o mar. 
Ai rio da memória: só imagens. 
O mais é só um verde recordar 
é um ficar (sem as levar) nas verdes margens
quando um homem se põe a caminhar. 

Manuel Alegre (excerto de Um barco para Ítaca)

Música 2800 anos antes de Cristo

Bom pequeno-almoço - 19

De madrugada!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Νίκος Εγγονόπουλος


Nikos Engonopoulos (Greek: Νίκος Εγγονόπουλος; October 21, 1907 – October 31, 1985)pintor e poeta.

São servidos?

Aqui foi o jantar.

Hotel Grande Bretagne, Athens

Καλή νύχτα!


Vangelis Trigas (1960-) tocando bouzouki.

O que está aqui escrito?

A amizade


Picasso - L'amitié, 1908
S. Petersburgo, Hermitage

«Ao amigo e ao companheiro fiel nunca traí,
nem há na minha alma nada de servil.»

Teógnis (séculos VI-V a.C.)
Trad. Albano Martins

4 de Fevereiro - 2

1961: Início da luta armada em Angola. Revolta em Luanda, com ataque à Casa de Reclusão, ao quartel da PSP e à Emissora Nacional. Há 50 anos!...

Adriano Correia de Oliveira musicou e interpretou este poema de Manuel Alegre.


NAMBUANGONGO MEU AMOR


Em Nambuangongo tu não viste nada
não viste nada nesse dia longo longo
a cabeça cortada
e a flor bombardeada
não tu não viste nada em Nambuangongo
Falavas de Hiroxima tu que nunca viste
em cada homem um morto que não morre.
Sim nós sabemos Hiroxima é triste
mas ouve em Nambuangongo existe
em cada homem um rio que não corre.
Em Nambuangongo o tempo cabe num minuto
em Nambuangongo a gente lembra a gente esquece
em Nambuangongo olhei a morte e fiquei nu.
Tu não sabes mas eu digo-te: dói muito.
Em Nambuangongo há gente que apodrece.
Em Nambuangongo a gente pensa que não volta
cada carta é um adeus em cada carta se morre
cada carta é um silêncio e uma revolta.
Em Lisboa na mesma isto é a vida corre.
E em Nambuangongo a gente pensa que não volta.
É justo que me fales de Hiroxima.
Porém tu nada sabes deste tempo longo longo
tempo exactamente em cima do nosso tempo.
Ai tempo onde a palavra vida rima com a palavra morte
em Nambuangongo.

Manuel Alegre

DIUTURNITAS EXTERNI MALI

De sorte que se acendiam na mata
as lâmpadas de bolso dos guerrilheiros
estando eu sentado numa pedra, a 500 metros
do referido local, com uma espécie
de cão tristeza enrolado aos pés,
e a noite: o rumor das estrelas
caindo a prumo na vegetação,
enquanto dos lados de Muxaluando
uma brisa aponta aos lábios secos
e morre devagar
pela garganta abaixo.

Fernando Assis Pacheco

4 de Fevereiro - 1


Fernand Léger - Libérté
Litografia

1881: Nasce Fernand Léger, em Argentan (Orne), na Baixa Normândia.

LIBERTÉ

Sur mes cahiers d'écolier
Sur mon pupitre et les arbres
Sur le sable sur la neige
J'écris ton nom

[...]

Sur l'absence sans désirs
Sur la solitude nue
Sur les marches de la mort
J'écris ton nom

Sur la santé revenue
Sur le risque disparu
Sur l'espoir sans souvenirs
J'écris ton nom

Et par le pouvoir d'un mot
Je recommence ma vie
Je suis né pour te connaître
Pour te nommer
Liberté.

Paul Éluard

Talvez vos interesse ler


Eu vou ler esta entrevista que Carlos Vaz Marques fez a Pedro Tamen.

Amendoeiras em flor

Como as amendoeiras em flor estão lindas na Andaluzia e no Algarve... (Imagino como estarão no Douro...)


Vincent van Gogh - Almond Tree in Blossom
Óleo sobre tela, 1888
Amsterdão, Museu Van Gogh


Vincent van Gogh - Almond Blossom
Óleo sobre tela, 1890
Amsterdão, Museu Van Gogh


[...]
I parked in an almond's
shadow blossom, for the tree
was waving, waving at me
upstairs with a child's hands.
[...]

Jon Stallworthy (1935-) - «The almond tree»

Em Atenas


E quem é o prosimetronista que está de visita à capital da Hélade?

Números - 41


277.712
Este número representa a soma dos votos brancos e nulos nas recentes eleições presidenciais, representando mais do dobro de idêntica soma nas presidenciais de 2006. Um número que me interessou mais, vendo-o eu como voto de protesto, do que o aumento da abstenção.

Passeios por Lisboa

A próxima vinheta vai ser dedicada a Lisboa numa altura em que o Instituto Ibérico do Património está a realizar passeios temáticos pela capital desafiando à redescoberta dos seus encantos e das suas histórias, muitas vezes esquecidos nesta correria diária. Até Abril estão agendados os últimos percursos: "Quantas portas tem Lisboa?" (próximo dia 12); "Sintra The Glourious Eden" (12 de Março) e "Águas de Lisboa" (9 de Abril), em busca dos aquedutos, barragens e fontes que abasteciam a cidade antes e depois da grandiosa obra do Marquês de Pombal.
Mais informações em http://www.iipatromonio.org/

Bom dia!


Hoje com Dalida e uma canção a torcer pelo Egipto.

Domingo, no CCB


«O Coro de Câmara da Escola Superior de Música de Lisboa e o pianista Miguel Henriques, dirigidos por Paulo Lourenço, apresentam A Noite, um percurso musical ilustrativo das metamorfoses que a percepção da noite foi sofrendo ao longo da evolução da Humanidade. Música de Jacques Chailley, Elgar, Rameau, Carrapatoso, Brahms, Frederico Mompou, Fauré, Jens Klimek e Lili Boulanger. » Comentários de Jorge Rodrigues.
Bilhetes: €5,00
Domingo, 6 Fev., às 11h30

Centro Cultural de Belém (Sala Luís de Freitas Branco)

As minhas Asas - Almeida Garrett

Almeida Garrett, Litografia, 1846, [BN E. 4472 P.]


AS MINHAS ASAS

Eu tinha umas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Que, em me eu cansando da terra,
Batia-as, voava ao céu.

— Eram brancas, brancas, brancas,
Como as do anjo que mas deu:
Eu inocente como elas,
Por isso voava ao céu.
Veio a cobiça da terra,
Vinha para me tentar;
Por seus montes de tesouros
Minhas asas não quis dar.
— Veio a ambição, co' as grandezas,
Vinham para mas cortar,
Davam-me poder e glória;
Por nenhum preço as quis dar.

Porque as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Em me eu cansando da terra,
Batia-as, voava ao céu.

Mas uma noite sem lua
Que eu contemplava as estrelas,
E já suspenso da terra,
Ia voar para elas,
— Deixei descair os olhos
Do céu alto e das estrelas...
Vi entre a névoa da terra,
Outra luz mais bela que elas.

E as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Para a terra me pesavam,
Já não erguiam ao céu.
Cegou-me essa luz funesta
De enfeitiçados amores...
Fatal amor, negra hora
Foi aquela hora de dores!

— Tudo perdi nessa hora
Que provei nos seus amores
O doce fel do deleite,
O acre prazer das dores.

E as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Pena a pena me caíram...
Nunca mais voei aos céus.

Almeida Garrett

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

"A Biblioteca"

A Bilblioteca é um livro de contos de Zoran Zivkovic´, escritor sérvio que nasceu em 1948, em Belgrado (antiga Jugoslávia). Com este livro venceu, em 2003, o World Fantasy Award. É o livro que ando agora a ler e estou a gostar.

A Biblioteca Nocturna
Não devia ter ido ao cinema primeiro. Se soubesse que a duração do filme era de quase duas horas, teria passado pela biblioteca primeiro. (...)
Quando o filme finalmente terminou às dez para as oito, apressei-me para abandonar a sala o mais rapidamente possível. (...) Se agora acelerasse o passo, talvez ainda chegasse a tempo. A biblioteca não era longe do cinema. Fechava às oito, mas não era desejável chegar no último minuto. No entanto, como cliente habitual, contava com alguma benevolência do pessoal.
Obviamente tudo seria diferente se hoje não fosse uma sexta-feira. Assim, se agora não conseguisse os livros, só teria uma próxima oportunidade na segunda, o que significava que durante o fim-de-semana não teria nada para ler, hipótese essa que não me agradava nada. Como vivo sozinho, estou inevitavelmente confrontado com uma abundância de tempo livre que precisa de ser preenchido com alguma coisa. Já muito antes tinha verificado que leitura era a actividade satisfatória com que o podia matar. Era de certeza mais útil e mais agradável que a estupidificante assistência à televisão. (...)
«Está a ver», comecei «estou um pouco atrasado...»
«Não está nada atrasado», interrompeu-me o homem atrás do balcão. «Nós trabalhamos de noite. Isto é uma biblioteca nocturna.»
Observei-o perplexo. «Uma biblioteca nocturna? Não sabia que também existiam.»
«Existem, sim. E já há muito tempo. Embora pouca gente saiba de nós. Deseja algum livro?»
«Sim, se for possível. O que mais gostava de fazer durante o fim-de-semana é ler. Já estava com medo que desta vez fosse ficar de mãos vazias. É muito agradável poder levar livros emprestados de noite.»
«É, sim. Talvez a escolha seja diferente da de dia. Nós temos apenas livros de vida.»
Pensei que não o tivesse percebido bem. «Desculpe?»
«Os livros de vida. Nunca ouviu falar deles?»
Abanei a cabeça. «Acho que não.»
«É pena recomendo-lhes certamente. Uma leitura particularmente interessante. ao contrário do preconceito, muito difundido, as vidas reais muitas vezes são mais excitantes do que as inventadas.»
«Que vidas reais?»
«Todas.»
«Como assim - todas?»
«Literalmente. As vidas de todas as pessoas que alguma vez tenham existido.» (...)
«Trata-se mesmo de uma biblioteca gigantesca!» (...)
«Trata, sim.» Na cara do desconhecido apareceu um sorriso orgulhoso. « E está sempre a crescer. Antes de mais, todos os dias se actualizam os livros sobre pessoas que estão vivas neste momento. (...)»
(...)«Qual é que queria?»
Fiquei pensativo. «Não sei dizer. Não é fácil decidir quando se tem à disposição uma escolha dessas. O que me aconselharia?»
«Quase todos optam primeiro pelo livro de si próprio. Isto é um pouco estranho porque, num certo sentido, esse livro já leram. Mas mesmo assim, para muitos ele está cheio de surpresas e de revelações. As pessoas têm principalmente tendência para esquecer ou reprimir.»
x
Zoran Zivkovic´, A Biblioteca, Cavalo de Ferro Editores, 2010, p. 37-47. (Trad. Arijana Medvedec)

Boa noite!


Vicky Mosholiou (1943-2005) interpreta uma canção, composta por Iiannis Markopoulos (música) e Errikos Thalassinos (letra), do filme Katigoro tous anthropous.

Maria Schneider (1952-2011)


Morreu hoje, vítima de cancro, a actriz de O último tango em Paris.

Divisas


Oslo, Galeria Nacional

«A felicidade é o primeiro dos prémios.»

«Não aspires, ó minha alma, a uma vida eterna,
mas esgota o que é possível.»

Píndaro (518 a.C.-438 a.C.)
Trad. Albano Martins

Moradas de grandeza

Vi este quadro na exposição Moradas de Grandeza: La ciudad conventual española, que terminou em Múrcia no dia 30 de Janeiro.


Ignacio Suárez Llanos (1830-1881) - Sor Marcela de San Félix viendo el entierro de su padre, Lope de Vega
Óleo sobre tela, 1862
Madrid, Museu do Prado

«Marcela con tres lustros ya me obliga
a ofrecérsela a Dios, a quien desea;
si El se sirviere, que su intento siga.»
Lope de Vega (da epístola «Belardoa Amarilis», in La Filomena, 1621)

Quando Marcela entra para o convento, o pai, Lope de Vega, escreve na «Epístola a Francisco de Herrera Maldonado» (in La Circe) o seguinte:

«No puedo encareceros a Marcela
hipérbole mayor que su hermosura:
si a la envidia deslumhra, al sol desvela.
Aunque iba nuestra novia tan segura,
el marqués de Povar fue con la guarda
honrando su modestia y compostura...
Madrina, de la mano la llevaba
la señora marquesa de la Tela, ...
Iba el duque de Sesa generoso,
y otros señores, de quien siempre he sido
honrado, no por bueno, por dichoso.
Cantó las letras tierno y bien oído ...
Ponce y Valdés; que encareceros cuánto
extremaron sus gracias, fuera agora
contar las luces del celeste manto....
Volvimos a la iglesia, y despojadas
las galas de la novia, piedras y oro,
las vi en sayales toscos transformadas;
cortados los cabellos que el decoro
tienen de ia hermosura».

Bom dia!


Foto de Guy Thouvenin.

«Feliz o que tece
alegremente o seu dia.»
Álcman (século VII a.C.)

Robert Furber (1674-1756) - Fevereiro

«Fevereiro coxo, em seus dias vinte e oito.»

Boa noite!


Durante uns dias, vou colocar música grega. Começo com o compositor Manos Hadjidakis (1925-1994). Adoro música grega e bouzouki.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A NOITE

Mas a noite ventosa, a noite límpida
que a lembrança somente aflorava, está longe,
é uma lembrança. Perdura uma calma de espanto,
feita também ela de folhas e de nada. Desse tempo
mais distante que as recordações apenas resta
um vago recordar.

xxxxxxxxxxÀs vezes volta à luz do dia,
na imóvel luz dos dias de Verão,
aquele espanto remoto.

xxxxxxxxxxPela janela vazia
o menino olhava a noite nas colinas
frescas e negras, e espantava-se de as ver assim tão juntas:
vaga e límpida imobilidade. Entre a folhagem
que sussurrava na escuridão, apareciam as colinas
onde todas as coisas do dia, as ladeiras
e as árvores e os vinhedos, eram nítidas e mortas
e a vida era outra, de vento, de céu,
e de folhas e de coisa nenhuma.

xxxxxxxxxxÀs vezes regressa
na imóvel calma do dia a recordação
daquele viver absorto, na luz assombrada.

Cesare Pavese
In: Trabalhar cansa / trad. Carlos Leite. Lisboa: Cotovia, 1997, p. 65

Para c.a., depois de ter lido outra «Noite» de Pavese n'A Casa Improvável.


Gorni Kramer (1913-1995) e a sua banda.

Por terras de Nefertiti

Por terras de Nefertiti parece que amanheceu com mais luz. Esperemos para ver os resultados...

Mohamed Maged Song "Ir Nfr" with Ancient Egyptian language, hieroglyphic script

Homenagem a Nuno Teotónio Pereira


Sociedades sustentáveis e solidárias



É apresentado amanhã, 3 Fev., às 20h00, na livraria-bar Les Enfants Terribles, no Cinema King, em Lisboa.

Jacques Demy no Instituto Franco-Português


As segundas-feiras de Fevereiro vão ser dedicadas ao cinema de Jacques Demy, no Instituto Franco-Português, em Lisboa. O primeiro filme a ser exibido, no dia 7, Lola (1961), é a primeira longa-metragem do realizador, com Anouk Aimée na protagonista.
Dia 7 Fev., 19h00

Provérbio Egípcio

As últimas ocorrências políticas registadas no Egipto levaram-me até este provérbio:


"THERE IS NO DARKNESS LIKE IGNORANCE"
daqui

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O futuro site favorito do Luís




Não sei se é novidade. Para mim foi. Hoje soube da existência de um "projecto artístico" do Google, como uma forma razoavelmente detalhada de visita virtual a alguns museus e visualização de algum do seu espólio.

Versailles consta da lista. Experimentem!

http://www.googleartproject.com/museums/versailles

Lá vem a nau catrineta


que tem muito que contar...Acima, acima gageiro/acima ao mastro real/vê se vês terras de Espanha, areias de Portugal...

Os nossos prosimetristas, se não se perderam pela capital andaluza, devem estar a romper por aqui. Bem vindos!

Paul Newman


London: PowerHouse Books, 2010
Esta manhã, depois de eu ter folheado este livro de fotografias tiradas por Leo Fuchs (1911-1994) a estrelas de Hollywood, ouvi ao meu lado alguém (que olhava para a capa do livro) dizer mais ou menos isto: «-Não desfazendo, este tipo é muito bem apessoado!» O mais engraçado é que quem pronunciou a frase referia-se a si próprio.
Ainda bem que não há só Paul Newmen, senão que graça teria a vida? Mas garanto-vos que se o livro fosse todo de fotos desse actor, tinha viajado até Lisboa.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Boa noite!


Joaquín Sabina nasceu em Úbeda, em 1949.

Folias de España

Na versão de Jordi Savall. As nossas estão quase a chegar ao fim, mas não sem antes passar por Sevilha, cidade para a qual nos dirigiremos daqui a umas horas.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Boa noite!


Poema de Lorca; música de Joan Manuel Serrat.

El Cristo de los Gitanos de Sacromonte

Assistimos hoje, por mera casualidade, à intensa devoção dos gitanos de Granada ao seu Cristo, organizados em secular confraria.
Fora da Semana Santa, este dia de hoje é o mais importante, com direito a procissão inesquecível pelo acompanhamento musical e esforço muscular dos devotos. Este vídeo é da Semana Santa, não das Festividades de Santo Cecílio, mas mostra bem o apego dos ciganos de Granada ao Cristo do Consolo.

Na Huerta de San Vicente


Familiares de Federico García Lorca na Huerta de San Vicente, Granada, 1931.
Foi a residência de Verão da família Lorca e nela o poeta escreveu grande parte da sua obra.




Cartazes de Juan Antonio Morales e José Caballero, 1934.
A peça Yerma foi escrita em 1934.

Cuando tu carne huela a jazmín.
¡Que se agiten las ramas al sol
y salten las fuentes alrededor!

(Yerma)

Recordando Federico Garcia Lorca

Foto: jardim na "Huerta de San Vicente"

Cielo Vivo

Yo no podré quejarme
si no encontré lo que buscaba.
Cerca de las piedras sin jugo y los insectos vacíos
no veré el duelo del sol con las criaturas en carne viva.

Pero me iré al primer paisaje
de choques, líquidos y rumores
que trasmina a niño recién nacido
y donde toda superficie es evitada,
para entender que lo que busco tendrá su blanco de alegría
cuando yo vuele mezclado con el amor y las arenas.

Allí no llega la escarcha de los ojos apagados
ni el mugido del árbol asesinado por la oruga.
Allí todas las formas guardan entrelazadas
una sola expresión frenética de avance.

No puedes avanzar por los enjambres de corolas
porque el aire disuelve tus dientes de azúcar,
ni puedes acariciar la fugaz hoja del helecho
sin sentir el asombro definitivo del marfil.

Allí bajo las raíces y en la médula del aire,
se comprende la verdad de las cosas equivocadas.
El nadador de níquel que acecha la onda más fina
y el rebaño de vacas nocturnas con rojas patitas de mujer.

Yo no podré quejarme
si no encontré lo que buscaba;
pero me iré al primer paisaje de humedades y latidos
para entender que lo que busco tendrá su blanco de alegría
cuando yo vuele mezclado con el amor y las arenas.

Vuelo fresco de siempre sobre lechos vacíos,
sobre grupos de brisas y barcos encallados.
Tropiezo vacilante por la dura eternidad fija
y amor al fin sin alba. Amor. ¡Amor visible!

Edem Mills, Vermont, 24 de agosto de 1929

Federico García Lorca

Os primeiros narcisos

Os primeiros narcisos

Joanna Chrobak, Narciso

O Narciso

O desenho impreciso
De cada rosto humano, reflectido!
Mas, o velho Narciso
Continua fiel e debruçado
Sobre o ribeiro…
Porque há-de ver-se inteiro
Quem todo se deseja revelado?

Devorador da vida lhe chamaram,
A ele, artista, sábio e pensador,
Que denodadamente se procura!

À movediça e trágica tortura
De velar dia e noite a líquida corrente
Que dilui a verdade,
Quiseram-lhe juntar a permanente
Ironia
Desse labéu de pérfida maldade
Que turva mais ainda a imagem fugidia…

Miguel Torga

Obrigado, obrigado, obrigado!

Saído (mais coisa menos coisa) de uma gripe que desconfio ser do "novo grito", aqui deixo

a) os meus penhorados agradecimentos pelos amáveis votos formulados;

b) os "parabéns-de-7.º dia" à Ana :)

Lembrando esta entrada (http://prosimetron.blogspot.com/2010/11/primitivos-portugueses-1450-1550-o.html), foi com espanto que há poucos dias revi este quadro num livro editado em Portugal há meia dúzia de anos, com identificação, assim sem mais, do retratado como sendo El-Rei D. Duarte!

Ficam aqui, como símbolos de muita coisa boa que a todos desejo, o vinho, pão e queijo que este não sonhado (certamente não sósia) do Rei Eloquente não dispensava. Só falta o azeite!

Na Irlanda


Enquanto uns prosimetronistas atravessam de carro a Andaluzia, outro, mais afortunado, voou até Dublin. Uma injustiça! :)

Alhambra 1925




É uma das cervejas mais populares de Granada, feita localmente e apresentada em garrafa não muito habitual. Provei e gostei, embora o teor alcoólico (6,8%) não aconselhe várias seguidas...

Bom dia !

Com o prelúdio La Puerta del Vino, de Claude Debussy, também um apreciador do Alhambra, local onde se encontra a dita Porta do Vinho.