A antiga Escola de Equitação (Felsenreitschule) de Salzburgo foi descoberta por Max Reinhardt para o teatro. Por Herbert von Karajan para a ópera. Mas nunca Romeu beijou a sua Julieta neste magnífico espaço...
Há instantes, terminou a estreia de Roméo et Juliette de Charles Gounod desta edição do Festival de Salzburgo, transmitida em directo através de um canal cultural de televisão. A obra, composta em cinco actos, tem libretto de Jules Barbier e Michel Carré.
A Escola foi palco desta produção extraordinária: o jovem canadiano Yannick Nézet-Séguin dirigiu a orquestra Mozarteum Orchester Salzburg e o coro Konzertvereinigung Wiener Staatsoper que estiveram à altura da sonoridade e majestosidade orquestral que Gounod exige nesta obra. A encenação ficou a cargo de Bartlett Sher que já deu provas do seu talento, quer em ópera (Met de Nova Iorque) quer em musical. Optou-se por um cenário adequadamente conservador, transposto para o barroco do século XVIII sem pormenores rococó supérfluos.
E os protagonistas? Na perspectiva da imprensa cor-de-rosa, Rolando Villazón e Ana Netrebko formariam, seguramente, o par ideal. Dado o intervalo profissional em que a grávida Netrebko se encontra, Juliette foi interpretada pela jovem soprano Nino Machaidze de 25 anos da Geórgia. Machaidze inicia a sua presença em palco imediatamente com uma voz segura, peca, no entanto, por alguma infantilidade na sua actuação cénica - mas não nos esqueçamos que a verdadeira (?) Julieta ascendeu ao estatuto de viúva com apenas 15 jubilosas primaveras... À medida que a narrativa se desenvolve e a partir da ária Je veux vivre, descobre-se uma artista com talento promissor, tecnicamente brilhante, como se de uma vasta experiência operática já dispusesse. Machaidze convenceu e encantou o público.
Russell Braun como Mercutio e Mikhail Petrenko no papel de Frère Laurent afirmaram-se como valores seguros do universo do canto lírico.
E Roméo? Rolando Villazón - sem dúvida, um dos maiores tenores da actualidade. O brilho e o belo timbre da voz, a segurança e o domínio técnicos deste mexicano são ímpares. Como actor, Villazón dificilmente deixará alguém indiferente. Com uma naturalidade e agilidade invulgares, encarnou um Roméo que ficará na memória deste festival.
Ao longo de todo o espectáculo, Villazón vive uma paixão por Julieta que ressuscita em nós momentos de felicidade que apenas sentimos ao estarmos apaixonados.
Die Liebe ist stärker als der Tod! O amor é mais forte do que a morte! - eis o mote que a Direcção deu a esta produção de Roméo et Juliette. Com Villazón, acreditamos nesta máxima...