Prosimetron

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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Fado...

Recordo D. Francisco Manuel de Melo em vésperas do feriado comemorativo da Restauração da Independência Portuguesa. O seu fado...
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D. Francisco Manuel de Melo nasceu em Lisboa em 1608, foi um dos principais escritores do século XVII. Poeta, doutrinário político, militar, genealogista, biógrafo, apologista do direito próprio e da restauração brigantina. Viveu na Corte em Madrid, conviveu com os intelectuais palacianos, participou na pacificação de Évora, aquando do levantamento antitributário de 1637. Em 1641 aderiu ao movimento da Restauração.
As suas obras mais relevantes foram escritas na prisão e no exílio, no Brasil, após ter sido acusado de ter participado no homicídio de Francisco Cardoso (1644), um criado do conde de Vila Nova. Não estão bem esclarecidos os motivos da acusação e prisão. D. João IV usou de um excessivo rigor, possivelmente, porque foi considerada dúbia a posição política de D. Francisco Manuel de Melo. Faleceu em 1666.
Do amor e da saudade falou na obra: Epanáfora Amorosa, baseada num texto quatrocentista sobre a descoberta da Madeira por um casal de amantes infelizes, Roberto Machin e Ana d'Arfet. Em Teodósio II, escrito em castelhano, traçou a genealogia, que ficou incompleta, e a história do duque de Bragança, pai do Restaurador ligando-a à história dinástica e geral do Reino até à expedição de D. Sebastião. Em Tácito Português fez a biografia de D. João IV. Na Epanáfora Trágica descreveu a sua vida militar e naval, incluindo o naufrágio junto ao golfo da Biscaia. Na Epanáfora Política narrou os acontecimentos sociais vividos em Portugal nas vésperas da Restauração. Na Epanáfora Bélica descreveu os episódios militares contra os Holandeses, e a derrota espanhola na batalha naval de Dunes (1639). Na Historia de los Movimientos e Separación da Cataluña focou a revolta dos catalães (1640) usando o pseudónimo de Clemente Libertino. Dos momentos vividos na prisão escreveu dois memoriais e uma Epístola Declamatória.
Muitas das suas obras só se podem ler a partir de primeiras edições "Reservadas" e de micro-filmes, existentes na Biblioteca Nacional. É o caso das Obras Métricas, A Feira dos Anexins, Tratado da Ciência Cabala, entre outras. A Poesia, em português e castelhano foi coligida em Obras Métricas, editada por um espanhol e editada em França em 1665. Escreveu peças de teatro, a mais famosa foi Auto do Fidalgo Aprendiz (1646). Os quatro Apólogos Dialogais: Relógios Falantes, A Visita das fontes, O Escritório Avarento e O Hospital das Letras retratam os costumes de então. As Cartas Familiares escritas, na sua maioria, durante a prisão e o exílio, são dirigidas a pessoas de relevo na época. A Carta de Guia de Casados (1650) é de natureza moralista.
Na Fénix Renascida encontram-se alguns poemas de D. Francisco Manuel de Melo
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CADA UM É FADO DE SI MESMO

Mas adonde irei eu que este não seja,
Se a causa deste ser levo comigo?
E se eu próprio me perco e me perigo,
Quem será que me poupe ou que me reja?
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Porque me hei-de queixar do Tempo e da Inveja,
Se eu a quis mais fiel ou mais amigo?
Fui deixado em mi mesmo por castigo:
Triste serei enquanto em mi me veja.
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Esta empresa que, em mi tanto em vão tomo,
Esta sorte que em, mi seu dano ensaia,
Esta dor que a minha alma em mi cativa
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Vós só podeis mudar. Mas isto como?
Como? Fazendo o que a minha alma saia
De mi, Senhora, e dentro de vós viva.
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"D. Francisco Manuel de Melo, Obras Métricas, Tomo II. En Leon de Francia: por Horacio Boessat y G. Remeus, 1665, p. 8". in História e Antologia da Literatura Portuguesa, Século XVII, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004, nº 31, p. 32.

Nota - os breves dados biográficos foram retirados do Dicionário de História de Portugal, dir. Joel Serrão.

12 comentários:

APS disse...

Fêz bem lembrá-lo.
E a 23/11 celebraram-se 401 anos do seu nascimento. Precisamente há uma semana atrás.
A prisão pode ter tido mais do que uma razão. Parece que houve "saias"
partilhadas pelo rei e FMM (ver Camilo).

ana disse...

Obrigada, irei procurar

Anónimo disse...

Há uma edição de 2006, das Obras métricas, em 2 vols. (Braga : APPACDM, 2006), que saiu na col. Obras clássicas da literatura portuguesa. Século XVII.
M.

Anónimo disse...

BNP L. 94959-60 V.

Jad disse...

Mesmo as boas obras precisão de ser actualizadas com a Bibliografia subsequente. É o que acontece com o Dicionário de História de Portugal. "O estado da arte" referente a FMM é hoje muito diferente.

Jad disse...

E é bem verdade: "CADA UM É FADO DE SI MESMO".

LUIS BARATA disse...

Uma grande verdade. E as obras precisam mesmo de ir sendo actualizadas, mesmo as notáveis como o referido Dicionário.
Gosto muito de D.Francisco Manuel de Melo, que acho que até já teve outros poemas aqui lembrados.

ana disse...

Obrigada M.
Sobre esta personalidade os dados que tenho são da revista da Fundação Calouste Gulbenkian, nº32 que referi; esqueci-me de colocar a data, tenho que ver em casa, foi lá que tirei os dados sobre as publicções existentes.

O meu DHP, já tem uns anitos valentes não o tenho actualizado porque preciso de livros mais especializados, as obras gerais, têm ficado para segundo plano.

"Mas adonde irei eu que este não seja", o fado, o eterno fado que faz parte da alma lusitana.

ana disse...

Jad,
Venho desafiá-lo, pedindo-lhe para actualizar os dados sobre FMM. Era uma mais-valia para todos.

MR disse...

A obra que citei está na Porbase. O Dicionário de Joel Serrão já tem uns anos.
Foi feita uma pequena exposição sobre este autor, no ano passado, na BNP. E publicado um catálogo.

Anónimo disse...

Há pachorra para estas tretas sobre o "fado" e a "alma lusitana"?
Ana S.

ana disse...

MR,
Obrigada não procurei na Porbase, nem sabia da exposição na BN. Quando puder ir à BN procurarei o Catálogo.

Retirei os dados bibliográficos da revista: História e Antologia da Literatura Portuguesa, Século XVII, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004, nº 31, p. 32.