«É doce, quando se sofre, deitarmo-nos no calor da cama e ali, suprimido todo o esforço e toda a resistência, com a cabeça debaixo dos cobertores, abandonarmo-nos por completo, gemendo, como os ramos ao vento do Outono. Mas há uma cama ainda melhor, cheia de odores divinais. É a nossa terna, profunda, impenetrável amizade. Quando essa cama é triste e gelada, deito nela, friorento, o meu coração. Sepultando o meu próprio pensamento na nossa quente ternura, longe de tudo o que se passa lá fora, recusando-me a defender-me, desarmado, mas, por milagre da nossa ternura, inesperadamente revigorado, invencível, choro com a pena e com a alegria de ter uma confiança onde encerrá-la.»
Marcel Proust
In: Os prazeres e os dias. Lisboa: Estampa, 1989, p. 151
Marcel Proust
In: Os prazeres e os dias. Lisboa: Estampa, 1989, p. 151
1 comentário:
É bonito este trecho!
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