Prosimetron

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quinta-feira, 13 de maio de 2010

Dia da Espiga ("Música" e não só)

1.ª edição (1926) desenho sem autoria

Várias vezes adormeci ao som destes versos... Bons e velhos tempos. Hoje procurei nas Caixas das Músicas e nas Caixas das Coplas, a partitura original, que é rara, e os seus versos.

Dia da Espiga

Óh! ih! oh! ai!
Esta vida é uma cantiga,
E este dia d' alegria
Vale um ano d' aflição...

Óh! ih! oh! ai!
Porque este dia da espiga
É o arauto do dia
Em que o trigo há-de dar pão!

Jorra o vinho dos pichéis
Para os lábios das moçoilas,
Mais vermelhas que papoilas
co'as larachas dos Manéis

Há merendas pelos prados,
Gargalhadas pelo ar,
E à beirinha dos valados,
Ouve a gente murmurar:

Maria, são teus olhos azeitonas!
Cachopa, são teus lábios qual cereja!
E os teus seios, cachos d'uvas que abandonas
À vindima desta boca que os deseja!...

Óh! ih! oh! ai!
Esta vida é uma cantiga,
E este dia d' alegria
Vale um ano d' aflição...

Óh! ih! oh! ai!
Porque este dia da espiga
É o arauto do dia
Em que o trigo há-de dar pão!

Tomam todos os caminhos
um sabor de romaria,
e até mesmo os pobrezinhos
fingem ter alegria...

E, na volta, já sentindo
que foi tudo um sonho em vão,
inda há ecos, repetindo
pelo espaço esta canção:

Maria, são teus olhos azeitonas!
Cachopa, são teus lábios qual cereja!
E os teus seios, cachos d'uvas que abandonas
À vindima desta boca que os deseja!...

Os versos são de Silva Tavares (1893-1964) e a Música de Alves Coelho (1882-1931).

A criação foi da actriz Deolinda de Macedo e foi o grande êxito da Revista Cabaz de Morangos. A sua estreia ocorreu no Eden-Teatro, em Lisboa, em 1926. Acabava a I.ª República.
Vítor Pavão dos Santos, no seu livro A Revista à Portuguesa, considera "O dia da espiga, um dos maiores sucessos revisteiros de sempre" (p. 38).

A capa de música que hoje apresento (1.ª edição) é rara. Vítor Pavão dos Santos só conseguiu encontrar este exemplar de que se serviu para o seu livro (reproduzindo-a, a preto e branco, na página 39). Os versos, tanto quanto consegui apurar, nunca foram publicados na Net, nesta sua versão correcta e completa.

2.ª edição (1926/1927) Desenho de Botelho (1926)

3 comentários:

MR disse...

Capas giríssimas.

Margarida Elias disse...

Que maravilha. Já aprendi imenso hoje!

Fernando Luis disse...

Esta canção é lindíssima, só a conheço cantada por Sandra.