Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2022.
José Pedro Zúquete escreve sobre o significado e as características do populismo na Europa e no mundo, mas também nos mostra como esta prática política é uma novidade em Portugal.
«[...] o populismo pode ser definido como uma estratégia. A ideologia não é um fim, mas um meio para atingir o poder. O populismo é um instrumento que serve para o populista mobilizar parte da população contra o status quo contra os que estão no poder. O que importaria neste caso não seria tanto aquilo emq ue se acredita ou se faz, mas a maneira através da qual o populista tenta conquistar ou cimentar o poder; a forma como se mobiliza o povo. Mobilização é a palavra decisiva; sendo por isso que a atenção se vira para o papel do líder populista nesse toque a reunir, uma vez que o sucesso da mobilização depende da competência, do talento e, muitas vezes, do carisma do líder.» (p. 25)
«A retórixa contemporânea é herdeira - uma herdeira distante, é certo, mas ainda com vestígios - da retórica da Antiguidade, que, como afirmava Aristóteles, fazia depender a credibilidade do orador de qualidades éticas como a prudência, a virtude e a benevolência. Trata-se de um campo elitista (portanto, exclusivo) e, acima de tudo, sabedor de que não se deve baixar o nível nem "discutir com qualquer um". Ora, o populista é este "qualquer um". É o intruso na festa, aquele que fala mais alto, sem maneiras e desbocado, que diz coisas que não deveria e torna o ambiente desconfortável para todos, menos para o próprio. [...] Para o populista, o tom justo e o estilo adequado são os que servem de expressão à cultura "de baixo": a linguagem popular, o falar sem rodeios, o gesto desinibido.» (p. 27)
Estou a gostar bastante desta leitura.

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