Em 1932, Thomas Mann foi convidado pela emissora alemã Westdeutscher Rundfunk para o programa "Autobiographische Plaudereien" (conversas autobiográficas). Como tema, escolheu Os Buddenbrook e confidenciou aos ouvintes o seguinte: "Os Buddenbrook são a expressão mais directa de todo o meu ser que é marcado pela minha terra e pelas minhas origens e que, neste livro, se torna evidente de uma forma mais intensa do que as minhas obras posteriores foram capazes de o manifestar".
Nesta emissão, Mann recorda a época em que escrevera o livro (1897 - 1900 em Palestrina/Roma e Munique), as influências que destinaram a sua vida e as influências que destinaram esta obra, destacando Richard Wagner cujo Tristão e Anel do Nibelungo decoram, em excertos transcritos para piano, este registo sonoro. Uma gravação histórica e única para todos os admiradores de Thomas Mann e Richard Wagner!
Mas voltemos aos Buddenbrook. O romance foi lançado, no seu primeiro volume, a 26 de Fevereiro de 1901 pela editora Fischer-Verlag. Uma das maiores obras de toda a literatura alemã do século passado, conquistou o Prémio Nobel em 1929. Através dela, Mann tornou-se conhecido do público internacional. Na Alemanha, Thomas Mann associa-se, em primeiro lugar, aos Buddenbrook - As confissões de Felix Krull, Morte em Veneza, A Montanha Mágica ou O Eleito, ainda que célebres, carecem da mesma popularidade.
O livro foi alvo de muita atenção e de um enorme interesse na cidade natal de Mann, Lübeck (Lubeque), pois decorre aí praticamente toda a acção excepto algumas passagens por Hamburgo e Munique. Logo após o lançamento, circulavam listas de nomes ilustres para "decifrar" quem dos habitantes correspondia aos personagens do livro. Rapidamente concluiu-se que a família fictícia de nome Buddenbrook tinha por base a família Mann: o patriarca Johann Buddenbrook assemelhava-se ao avô do autor, o pai, tios e até o próprio Thomas Mann (no personagem de Justus Buddenbrook) eram retratados nesta saga.
A curiosidade dos conterrâneos de Mann era também despertada pelo subtítulo Os Buddenbrook - decadência de uma família. Ao fim de quatro gerações que se situam entre 1835 e 1877, é manifesto o declínio dos Buddenbrook: uma família da alta burguesia hanseática, de vivência aparentemente exemplar, ignora as mudanças do tempo, as gerações mais novas abandonam o comércio tradicional dos antepassados e dedicam-se aos mais diferentes ramos tidos por pouco convencionais. O último representante dos Buddenbrook, o jovem Justus Buddenbrook (Hanno), vive num mundo ilusionista, o seu fascínio pela música clássica é rejeitado pelo pai. Hanno morre aos 16 anos. Com o seu desaparecimento extingue-se uma família cuja árvore genealógica remonta até ao século XVI.
O declínio é acompanhado da perda de costumes, tradições e sobretudo de valores morais. Antonie Buddenbrook (Tony) casa-se e divorcia-se por diversas vezes, algo de escandaloso à vista dos padrões da época. Outros membros da família falham na vida profissional, empenham-se em negócios ruinosos, acabando em prisão.
O relato franco do declínio chocou a aristocracia e burguesia de Lübeck que se consideravam detentores de princípios cristãos e morais. A indignação chegou ao extremo de um tio (Friedrich) de Thomas Mann se distanciar do sobrinho publicamente num jornal local.
Lübeck guardou este rancor durante muitas décadas. A 20 de Maio de 1955, poucos meses antes do seu falecimento, Mann foi condecorado com o título de cidadão honorário. Contudo, a decisão a favor desta honra foi tomada apenas com um voto de maioria no respectivo grémio municipal .
Hoje em dia, a relação de Lübeck com o seu ilustre filho é naturalmente pacífica. Em 1975, por ocasião do centenário do nascimento do autor, foi colocada uma lápide na rua Beckergrube nº. 38, casa em que Thomas Mann nasceu.
A casa Buddenbrookhaus, propriedade da família Mann até 1914, é hoje um museu dedicado a Thomas Mann e seu irmão Heinrich. Entre vários pontos de interesse, refira-se a exposição permanente sobre a criação dos Buddenbrook.
1 comentário:
Por que nao:)
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