Prosimetron

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sábado, 21 de junho de 2008

DON CARLO no ROYAL OPERA HOUSE de COVENT GARDEN



O Royal Opera House de Covent Garden celebra este ano o seu 150º aniversário. Das novas produções que assinalam o acontecimento, destaca-se o Don Carlo de Verdi na chamada versão italiana “Modena” de 1886 que representa a concepção final em cinco actos após várias revisões feitas pelo próprio compositor. Curiosamente, a mesma obra integrou a temporada que comemorava o 100º aniversário: em 1958, Giulini em tandem com Visconti levariam a cabo uma das mais célebres produções de Don Carlo em toda a história da ópera.
Recuemos ainda mais ao passado: a 4 de Junho de 1867, decorridos apenas três meses após a estreia em Paris (11 de Março desse ano), Don Carlo subira ao palco em Londres.
A ligação do Royal Opera House a Verdi, e a Don Carlo em especial, foi sempre forte. Interessante por isso recordar a presença do Infante de Espanha nesta magnífica casa.

Frederick Gye, director da Royal Italian Opera (assim a designação do Royal Opera House na época), assistira à estreia mundial de Don Carlo em Paris. Pelo preço de £800, adquiriu o direito exclusivo de representação para a Grã-Bretanha e Irlanda. As dúvidas e os receios de Gye aumentavam com o aproximar da estreia. Os registos pessoais de Gye, pertencentes ao espólio das recordações do ROH, dão conta da complexidade de Don Carlo, porventura demasiado “heavy that it will be a failure”. As críticas, no entanto, foram mais benevolentes: “Verdi´s new opera, Don Carlos, in its Italian dress, was brought out at the Royal Italian Opera, on Tuesday evening, with complete success. The theatre was crowded to the doors, and the applause enthusiastic”.
A programação do ano seguinte incluía novamente Don Carlo. Mas 1868 foi marcado por enormes problemas financeiros, e as três récitas da ópera de Verdi agravaram a situação. Segundo Gye, a récita de 6 de Abril terá sido “the worst house we ever had at Covent Garden – only £36 in the house – but it is Passion week”.

Don Carlo voltaria a ser representado em Londres apenas em 1933.

Por ocasião do centenário do ROH em 1958, a direcção decidiu realizar um conjunto de novas produções, dignas deste aniversário especial. Don Carlo era imprescindível. Carlo Maria Giulini dirigia a orquestra; a produção, a encenação e o guarda-roupa ficavam a cargo de Luchino Visconti que optara por uma representação conservadora, "coroada" por dois lobecães verdadeiros "no papel" de fiéis companheiros de Filippo II. Giulini e Lord Harewood, director da ROH da época, reconheciam a dificuldade na escolha dos cantores, em particular para o infante e para Rodrigo (Marchese di Posa). A decisão fora a favor do brilhante Jon Vickers e de Tito Gobbi respectivamente. A estreia de 12 de Maio de 1958 contava ainda com outros ícones do estrelato operático: o lendário Boris Christoff (Filippo II), Gré Brouwenstijn (Elisabetta di Valois) e Fedora Barbieri (Principessa di Eboli).

As críticas foram unânimes. Para Desmond Shawe-Taylor do New Statement, esta produção era "opera as it should be. It is hard to imagine a more splendid celebration of the Covent Garden centenary than the current revival of Verdi's Don Carlos." O Sunday Times aplaudia"Verdi Vindicated".

Don Carlo vive, seguramente, de um elenco de grande craveira. A produção original do Théâtre du Châtelet na versão francesa subiu ao palco em Covent Garden em 1996 sob a direcção de Bernard Haitink. Cantavam e encantavam Roberto Alagna (Don Carlo), José van Dam (Filippo), Karita Mattila (Elisabetta), Thomas Hampson (Rodrigo) e Waltraud Meier (Eboli).

2008 brilha pela sonoridade refinadíssima da orquestra do ROH, dirigida por Antonio Pappano. Rolando Villazón (Don Carlo) eleva-nos com o seu domínio vocal e seu autodomínio cénico. Ferruccio Furlanetto é indescritivelmente magnífico no papel de Filippo. De referir ainda Marina Poplavskaya (Elisabetta), Simon Keenlyside (Rodrigo) e Sonia Ganassi (Eboli).

Última nota: este Don Carlo é coproduzido com a Norwegian National Opera e será a primeira ópera a ser representada em Setembro na nova Oslo Opera House, a primeira casa noruguesa exclusivamente dedicada à ópera e inaugurada no passado dia 12 de Abril com uma gala. Os Noruegueses esperaram cem anos por este acontecimento e, certamente, não serão desiludidos ao ver e ouvir o Infante imortalizado por Friedrich von Schiller.

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