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Estavas, ó Miguel, posto em socego
De carrasco colhendo o secco fructo,
O mocho ouvindo alli, alli o morcego,
Que como cantão mal, cantarão muito,
Junto ao Tejo, perdoe-me o Mondego,
Cheio de inverno, e de verão enxuto,
De cabellos mostrando alli ervinhas,
Huma dor féra, que no peito tinhas.
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"Esta estância parodia a Oitava cxx do Canto III dos Lusíadas, primeira estância do episódio de Inês de Castro. (...) O tema sublime do amor de Inês de Castro é substituído por outro, ridiculamente banal, de um amigo que não restituiu um candeeiro, mas que é tratado no mesmo estilo elevado."
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"Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruto,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuto,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas"
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Canto III oitava cxx, Lusíadas
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Graça Almeida Rodrigues, in "Literatura e sociedade em Frei Lucas de Santa Catarina", História da Antologia da Literatura Portuguesa, século XVII, Fundação Calouste Gulbenkian, nº 34, 2005, p. 27-30.
4 comentários:
Estava Miguel no meio...
E o candeeiro, chegou a ser devolvido? Ou o poder da pena não é assim tão grande?
Foi uma personagem importante na crítica ao barrôco - não deixando, no entanto, de o praticar - e na teorização do "novo gosto", através de um extenso opúsculo "Serão Poético, Abuso emendado", publicado, creio, em 1704.
JP,
Não sei se o candeeiro foi devolvido mas este frade tem uma ironia fina!
:)
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