Retrato de Fernando Pessoa feito por João Luiz Roth
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SINFONIA DE UMA NOITE INQUIETA
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Dormia tudo como se o universo fosse um erro; e o vento, flutuando incerto, era uma bandeira sem forma desfraldada sobre um quartel sem ser.
Dormia tudo como se o universo fosse um erro; e o vento, flutuando incerto, era uma bandeira sem forma desfraldada sobre um quartel sem ser.
Esfarrapava-se coisa nenhuma no ar alto e forte, e os caixilhos das janelas sacudiam os vidros para que a extremidade se ouvisse. No fundo de tudo, calada a noite era o túmulo de Deus (a alma sofria com pena de Deus).
E, de repente - uma nova ordem das coisas universais agia sobre a cidade - o vento assobiava no intervalo do vento, e havia uma noção dormida de muitas agitações na altura. Depois a noite fechava-se como um alçapão, e um grande sossego fazia vontade de ter estado a dormir.
xBernardo Soares, Livro do Desassossego, Lisboa: Assírio & Alvim, 1998, p. 68.
1 comentário:
Adoro o Livro do desassossego, que foi vagamente referido num comentário hoje.
M.
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