Prosimetron

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quinta-feira, 2 de julho de 2009

A EXPOSIÇÃO IMPRESSIONISTA – 1

por Louis Leroy

Oh! Foi um dia difícil, aquele em que me abalancei a visitar a primeira exposição do boulevard des Capucines, na companhia do Sr. Joseph Vincent, paisagista, aluno de Bertin, medalhado e condecorado por diversos governos.
O imprudente tinha ido sem ideias preconcebidas, pensando ir ver pintura como se vê em qualquer parte, boa e má, mais má que boa, mas não atentatória dos bons costumes artísticos, do culto da forma e do respeito pelos mestres. Ai! A forma. Ai! Os mestres. Tudo isso deixou de ser preciso, meu pobre velho! Nós mudámos tudo isso.
Ao entrar na primeira sala, Joseph Vincent recebeu um primeiro golpe diante da bailarina do Sr. Degas.
- Que pena – disse-me – que o pintor, que tem um certo sentido da cor, não desenhe melhor! As pernas da bailarina são tão frouxas como a gaze do tutu.
- Acho que está a ser duro com ele – repliquei eu. – O desenho até é bastante rigoroso.
O aluno de Bertin, pensando que estava a ironizar, limitava-se a encolher os ombros, sem se dar ao trabalho de me responder.
Depois, com muita calma e com o meu ar mais inocente, levei-o até ao Campo Lavrado do Sr. Pissarro.
À vista daquela paisagem espantosa, o bom do homem pensou que tinha as lentes dos óculos sujas. Limpou-as com todo o cuidado e voltou a pôr os óculos em cima do nariz.
- Valha-nos Miguel Ângelo! – gritou. – O que vem a ser isto?
- É o que está a ver: geada sobre sulcos profundos de um campo lavrado.
- Você chama àquilo sulcos? Chama àquilo geada? Eu chamo-lhes arranhões de paleta feitos de maneira uniforme numa tela suja. Aquilo não tem pés nem cabeça, alto nem baixo, frente nem verso.
- Talvez. Mas a impressão está lá.
- Pois olhe, é uma impressão esquisita!... Ah!, e aquilo ali?
- Um pomar do Sr. Sisley. Recomendo-lhe a árvore pequena da direita, que é alegre, mas a impressão…
- Não me venha com essa da impressão… Isto não está feito nem por fazer. Mas temos aqui esta Vista de Melun do Sr. Rouart, onde há qualquer coisa nas águas. Por exemplo a sombra do primeiro plano é muito estranha.
- O que lhe está a fazer confusão é a vibração dos tons.
- Diga antes a distorção dos tons, para eu perceber melhor. Ah! Corot, Corot, quantos crimes se cometem em teu nome! Foste tu que lançaste a moda desta execução descuidada, destas aguadas, destas chapadas de tinta contra as quais o amante da arte se insurgiu durante trinta anos, acabando por aceitá-las obrigado e forçado pela tua tranquila obstinação. Mais uma vez a água mole venceu a pedra dura.
O pobre homem lá ia disparatando pacificamente e nada me levava a prever o acidente desagradável que iria resultar da sua visita àquela louvável exposição.
Suportou mesmo sem grande reacção a visão dos Barcos de pesca saindo do porto do Sr. Monet, talvez porque eu o arranquei a essa perigosa contemplação antes que as figurinhas deletérias do primeiro plano pudessem produzir efeito. Infelizmente, cometi a imprudência de o deixar muito tempo diante do Boulevard des Capucines, do mesmo pintor.
- Ah! Ah! – exclamou, sarcástico. – Este está bem feito! Se isto não é a impressão, não sei o que seja. Só não sei o que representa estas migalhas todas na base do quadro.
- Mas isso são as pessoas a passear – respondi eu.
- Quer você dizer que eu sou assim quando passeio pelo Boulevard des Capucines? Com mil diabos! Então você agora está a gozar comigo?
- Garanto-lhe, Sr. Vincent…
- Mas essas manchas foram feitas pelo método que se utiliza para clarear a pedra das fontes. Zás-trás, como sair saiu. É inaudito, espantoso. Acho que me vai dar uma coisa…

Continua amanhã


Claude Monet - Le Havre, bateaux de pêche sortant du port
Óleo sobre tela, 1874
Los Angeles County Museum of Art



Claude Monet - Boulevard des Capucines
Óleo sobre tela, 1873


Mais uma crítica, desta vez acerca de uma exposição que o grupo realizou em Paris, em 1874. Louis Leroy foi, inadvertidamente, o responsável pela designação de Impressionismo dada a esta corrente pictórica, através desta crítica, publicada em Le Charivari (Paris, 25 Abr. 1874)
Alguém conhece o pintor Joseph Vincent?

4 comentários:

LUIS BARATA disse...

Pois é, de Joseph Vincent não reza a história...
Adorei o "Valha-nos Miguel Ângelo!"

MR disse...

Acho que não vou colocar a restante crítica, bastante longa. É no mesmo tom e ia chatear-vos.

Anónimo disse...

Tenho muito interesse na segunda parte da critica. De qual fonte você retirou?

MR disse...

Já não me lembro o que andava a ler na altura: algum livro sobre Monet ou sobre os impressionistas. Mas pode encontrar a crítica neste link:
https://fr.wikisource.org/wiki/L%27Exposition_des_impressionnistes
Boa tarde!