Prosimetron

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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Leituras no Metro - 30


Manet - Au Café Guerbois
Litografia, 1869
Washington, National Gallery of Art

«O nome do Café Guerbois, onde depois de [18]70 os jovens pintores se reuniam à volta de Manet, raramente era mencionado nas nossas conversas. Já o de La Nouvelle Athènes vinha muitas vezes à baila. Paul Cézanne filho levou-me lá a tomar uma bebida antes da guerra de 14. Os proxenetas e as meninas da Place Pigalle tinham tomado o lugar de Manet, Cézanne e Pissarro. Eu tentava imaginar Van Gogh, levado pelo irmão, a sentar-se à mesa em que Gauguin e Frank Lamy discutiam pintura à espátula. Era difícil imaginas as figuras barbudas e ardentes dos jovens pintores do século passado nos lugares agora ocupados pelas figuras barbeadas, solenes e circunspectas dos novos clientes. Agora é a decadência completa, a queda irremediável. La Nouvelle Athènes, felizmente com outro nome e com outra decoração, transformou-se num clube nocturno de pederastas. E nem isso garante a sobrevivência daquelas paredes povoadas de sombras ilustres. A última tentativa de salvação apresenta-se hoje sob a forma de um "supermercado" de strip-tease: vinte nus pelo preço de um bilhete de cinema. As pobres raparigas desfilam e exibem os seus encantos cansados no local de reunião da escola francesa que purificou o nu e o libertou de qualquer conotação libertina. Às vezes penso: "Que diria o meu pai se visse isto?" A evocação de Renoir remete-me rapidamente para uma justa apreciação das coisas. Sei muito bem o que ele diria: "Este sítio está cheio de correntes de ar. As pobres raparigas vão apanhar uma constipação."»
Jean Renoir - Pierre-Auguste Renoir, meu pai. Lisboa: Bizâncio, 2005, p. 118-119


Federico Zandomeneghi - Il Café de la Nouvelle-Athènes
Óleo sobre tela, 1885
Col. particular

1 comentário:

Miss Tolstoi disse...

Este livro é um encanto. Já aqui tínhamos falado sobre ele, parece-me.