Prosimetron

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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Entre o ser e as coisas

Onda e amor, onde amor, ando indagando
ao largo vento e à rocha imperativa,
e a tudo me arremesso, nesse quando
amanhece frescor de coisa viva.

Às almas, não, as almas vão pairando,
e, esquecendo a lição que já se esquiva,
tornam amor humor, e vago e brando
o que é de natureza corrosiva.

N´água e na pedra amor deixa gravados
seus hieróglifos e mensagens,
suas verdades mais secretas e mais nuas.

E nem os elementos encantados
sabem do amor que os punge e que é, pungido,
uma fogueira a arder no dia findo

Carlos Drummond de Andrade
(Declaração de Amor, 4.ª ed, Rio de Janeiro, Record, 2006) 

2 comentários:

APS disse...

Uma belíssima escolha!

MR disse...

Não nos cansamos de o ler. Sempre novo.