(...) Depois de ter visto o eléctrico nº28 dar a volta na curva extrema do largo, subiu-me da alma à mente uma tristeza serena. Sabia que não podia alterar o que, no passado, me fora ou não concedido. Mas como teria gostado de ir aos figos com os miúdos da aldeia do meu avô, como gostaria de ter aprendido a tocar violencelo na Academia dos Amadores de Música, como gostaria de ter apanhado sol em Tipasa.
Conheço a lição : feliz quem não exige da vida mais do que ela lhe dá, guiando-se pelo instinto dos gatos, que buscam o sol quando há sol e, quando não há sol, o calor, onde quer que esteja. Simplesmente, não sou feita desta massa. A primeira palavra que disse foi " não ", uma atitude que me marcaria para a vida. Custa-me aceitar que existam coisas sobre as quais, por incúria ou impossibilidade, não tenha poder. Quando cheguei a casa, a cameleira que o meu vizinho William me oferecera, vai para quatro meses, tinha morrido.
- Maria Filomena Mónica, no Expresso do passado Sábado.
1 comentário:
Gosto muito do que FM escreve.
O "não" é uma característica à qual me associo.
:))
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