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domingo, 27 de março de 2022

Leituras no Metro - 1105


«Em abril de 2014, a NATO decidiu aumentar a sua presença nas suas fronteiras orientais por mais de policiamento do espaço aéreo, do estacionamento de navios no mar Báltico e no Leste do Mediterrâneo e de exercícios e treinos terrestres.
«E nos meses que precederam a cimeira da NATO de setembro de 2014, no país de Gales, começou um debate sobre o possível estacionamento permanente de tropas da NATO na Polónia, nos Países Bálticos e na Roménia. Os líderes destes países alegaram que isto era necessário para que a Aliança tivesse uma dissuasão credível. O general Philip Breedlove, comandante supremo aliado da NATO na Europa, declarou que a organização tinha de "considerar" um estacionamento permanente de tropas no seu flanco oriental.
«Já em princípios de julho, no entanto, Merkel rejeitara publicamente e pusera de parte um estacionamento permanente. Em vez disso, Berlim apoiou com todo o seu peso uma proposta alternativa: constituir uma nova força de resposta rápida capaz de operar prontamente para fazer frente a qualquer ameaça contra membros da NATO [...].
«Para os vizinhos orientais da Alemanha essa nova "força de intervenção" era um fraco substituto de tropas permanentes. Só se um considerável número de soldados dos Estados Unidos e da Europa Ocidental estivessem permanentemente colocados nos membros orientais da NATO, argumentavam, haveria uma garantia credível de que o Ocidente defenderia a frente oriental da NATO em caso de um ataque russo. É uma opinião, deve notar-se, que a própria Alemanha Ocidental tinha partilhado quando era um Estado da linha da frente durante a Guerra Fria.
«Mas Berlim argumentava que uma colocação permanente de forças da NATO em território de países membros orientais violaria o Ato Fundador da NATO-Rússia de 1997, que estabelecera o roteiro da cooperação entre os dois lados. Berlim não estava disposta a rasgar esse documento, mesmo que a Rússia tivesse violado significativamente o acordo ao anexar a Crimeia e atacando a Ucrânia de Leste (como declaravam as conclusões da cimeira da NATO no País de Gales). » 
Ulrich Speck - «O poder alemão e o conflito ucraniano». In: A guerra na Ucrânia. Alfragide: Dom Quixote, 2015, p. 60-61. (Cadernos D. Quixote; 3). 

«Os estados Unidos e a NATO devem responder, tanto em apoio à Ucrânia como para travar o desafio inaceitável da Rússia, à ordem de segurança da Europa do pós-guerra. Isto exigirá uma maior assistência militar, alguma dela letal, mas nenhuma ofensiva. Se protelarmos agir, o Ocidente deve esperar apenas um aumento do custo. Se não agirmos de forma mais contundente, podemos esperar enfrentar mais incursões russas, possivelmente tentativas de redesenhar fronteiras noutros pontos e esforços para intimidar antigos Estados soviéticos e forçá-los a aceitar o domínio russo.»
Ivo Daalder, Michele Flournoy, John Herbst, e outros - «Preservar a independência da Ucrânia, resistir à agressão russa». In: A guerra na Ucrânia. Alfragide: Dom Quixote, 2015, p. 83. (Cadernos D. Quixote; 3). 

Em todos os textos deste pequeno livro de 2015 está descrito o que se viria a passar, o que a Ucrânia e os seus vizinhos estão a viver.
Sempre achei estranho que Willy Brandt, um político alemão, experiente e com visão, fosse contra a unificação da Alemanha, pelo menos na época em que foi feita. Mas achei que a sua opinião devia ter sido tido em conta. 
Há uma série de políticos que quando expressavam as suas opiniões podíamos questioná-las, mas viam longe e o tempo deu-lhes sempre razão.
Eu própria, quando a Guerra Fria acabou (?), me perguntei para que servia a NATO. Agora sei.

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