Prosimetron

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quinta-feira, 18 de junho de 2009

Pelo sabor das cerejas...

Existe um prolóquio, escrito por Göthe, que diz qualquer coisa como: Pelo sabor das cerejas e das amoras pergunte-se às crianças e aos pardais. Isto é, para mim, o que se passa com D. Sebastião, cada apaixonado ou desapaixonado "do Rei Desejado" tem a sua opinião.

Existe, para mim, um único livro obrigatório sobre D. Sebastião:
Queirós Veloso, D. Sebastião: 1554-1578, 3.ª ed. revista e aumentada, Lisboa, Empresa Nacional de Publicidade, 1945, 452 pp. (1.ª e 2.ª ed. 1935)
O autor escolheu para epigrafe deste seu excelente livro o seguinte parágrafo de Alexandre Herculano:
"A nossa história, mais ainda do que a de outras nações da Europa, para surgir da sombra das lendas à luz clara da realidade, carece de indagações profundas, e de apreciações sinceras e desinteressadas."


BNP, Iconografia, E. 2073 V.

E sabem o que é que o António Sérgio escreveu sobre D. Sebastião no seu famoso Boquejo de História de Portugal?
Vejam como o próprio Sérgio comenta o assunto:
Pediu-me Raúl Proença, um dia, uma pequena introdução histórica para o seu Guia de Portugal. Começei por me escusar a favor de pessoa mais idónea, mal pensando que o meu escrito se tornaria tão famoso. Mas ele insistiu, e obedeci.
Apresentei nesse trabalhito (Bosquejo de História de Portugal) hipóteses sobre todos os pontos interessantes da história do país, que ninguém discutiu; e ao ter de mencionar o Desejado (como era forçoso) disse o que dele pensava, isto é: que era um fanfarrão e mentecapto, pois assim se revelara na sua expedição de Marrocos. O que toda a gente discutiu. Somos assim, em Portugal!
(António Sérgio, Tréplica a Carlos Malheiro Dias sôbre a questão de O Desejado, Lisboa, Ed. Seara Nova, S/data [1925].

2 comentários:

ana disse...

Fantástico este post!
Gosto muito do pensamento de Romero de Magalhães sobre D. Sebastião! Não tenho aqui o livro para colocar um pequeno excerto.

Gostei imenso do que diz Alexandre Herculano.

Discordo do que diz António Sérgio porque julgo que tem que haver uma maior distância entre o objecto estudado e o analista, isto é, tem de se apreciar sem paixão.
Reconheço que é difícil estarmos desapaixonados quando estudamos algo que nos encanta mas tem que se fazer um esforço!
Obrigada pelo seu post há-de haver sempre pontos de vista opostos.

Anónimo disse...

"A nossa história, mais ainda do que a de outras nações da Europa, para surgir da sombra das lendas à luz clara da realidade, carece de indagações profundas, e de apreciações sinceras e desinteressadas."

Gostei verdadeiramente deste trecho porque vai de encontro às minhas ideias. Tem que haver distanciamento para se construir História com dignidade e alguma "ciência", acima de tudo, respeitando os documentos sem o sujeito colocar os seus ideais políticos e outros...
A.R.