Prosimetron

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domingo, 9 de janeiro de 2011

A Carlos Drummond de Andrade


Carlos Drummond de Andrade, escultura de Leo Santana, 2003.
Rio de Janeiro, na Praia de Copacabana, frente à rua onde C. D. de A. viveu.
X
Não há guarda-chuva
contra o poema
subindo de regiões onde tudo é surpresa
como uma flor mesmo num canteiro.

Não há guarda-chuva
contra o amor
que mastiga e cospe como qualquer boca,
que tritura como um desastre.

Não há guarda-chuva
contra o tédio:
o tédio das quatro paredes, das quatro
estações, dos quatro pontos cardeais.

Não há guarda-chuva
contra o mundo
cada dia devorado nos jornais
sob as espécies de papel e tinta.

Não há guarda-chuva
contra o tempo,
rio fluindo sob a casa, correnteza
carregando os dias, os cabelos.

João Cabral de Melo Neto [que faria hoje 91 anos]

2 comentários:

ana disse...

É uma beleza este poema!

MR disse...

Este poema está feito mais dentro do registo de Drummond do que do de João Cabral.