Prosimetron

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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Heróis da Literatura - 3

( A melhor biografia que conheço do verdadeiro D'Artagnan é esta de Jean-Christian Petitfils, notável historiador francês, e da qual foi lançada recentemente uma edição de bolso, ao preço mais simpático de €9, pela Tallandier)
( Castelo de Castelmore, em Lupiac, local de nascimento e infância do verdadeiro D'Artagnan )
( Estátua de D'Artagnan, em Maastricht, Países Baixos. )


J'ai perdu d'Artagnan en qui j'avais la plus grande confiance et m' était bon à tout. D'Artagnan et la gloire ont le même cercueil.



( Este belo epitáfio consta de uma carta escrita em Junho de 1673 por Luís XIV para a sua mulher, Maria Teresa de Áustria, após o cerco de Maastricht. )



É sempre bom começar pelo princípio, o que no caso dos meus heróis literários passa necessariamente por D'Artagnan, o quarto mosqueteiro. Infelizmente, não está em Lisboa a primeira edição dos 3 Mosqueteiros que li, e esqueci-me de a trazer, mas posso garantir-vos que está gasta pelo uso. Lida e relida. A minha paixão dumasiana, e creio que mesmo o meu grande interesse pelo Siècle de Louis XIV, para usar o título da obra de Voltaire, nasceu com a leitura desta obra-prima do prolífico e prodigioso Alexandre Dumas.
Comecemos pelos factos, antes da ficção. Foi no castelo que está acima, o castelo de Castelmore, que nasceu, entre 1611 e 1615, o verdadeiro D'Artagnan: Charles Ogier de Batz-Castelmore, filho de Bertrand de Batz e de Françoise de Montesquiou d' Artagnan, que foi para Paris ser Mosqueteiro do Rei e acabou sendo uma personagem importante no reinado de Luís XIV, já que tinha a confiança deste monarca.
Foi D'Artagnan quem prendeu Fouquet, o famoso "ministro das Finanças" caído em desgraça, tal como foi também a ele que o rei confiou a detenção de Lauzun, o amigo de Luís XIV que olhou muito alto, querendo casar com a Grande Mademoiselle, a riquíssima prima direita do rei.
Mas Charles d'Artagnan não foi apenas um homem da corte, tendo sido também um competente soldado, carreira que o levou a perecer no Cerco de Maastricht de 1673, uma das muitas e ruinosas campanhas militares do Rei-Sol.
Apesar de todos estes feitos, que lhe garantiram um lugar na história francesa, creio que seria mais um nome esquecido no meio de tantos outros que ocupam os rodapés da História.
Não fora um dia de Junho de 1843, e aqui começa a segunda vida de D'Artagnan: foi nesse ano e mês que um escritor chamado Alexandre Dumas descobriu na biblioteca de um amigo umas memórias de um antigo companheiro de armas e amigo de D'Artagnan e pediu o livro emprestado ( que nunca devolveu...) já que tinha ficado fascinado com as façanhas destes quatro mosqueteiros ( Aramis, Athos e Porthos foram baseados em reais amigos de Charles d'Artagnan ).
Como é sabido, seguiu-se uma das mais duráveis e apaixonantes trilogias literárias ( Os Três Mosqueteiros, 20 Anos Depois e o comovente O Visconde de Bragelonne ), que fez, no entanto, vários entorses à História ( D'Artagnan a ser mosqueteiro no reinado de Luís XIII, e inimigo de Mazarin, ou o pretenso romance entre Ana de Áustria e o duque de Buckingham, entre outros).
Trilogia literária esta que no século seguinte se tornou das obras mais adaptadas ao cinema, embora nem sempre com igual padrão de qualidade.
E o interesse cinematográfico não esmoreceu, já que em 2011 estreará mais uma adaptação de Os Três Mosqueteiros, segundo li muito fiel à obra, estando já disponíveis no YouTube fotografias das filmagens, que estão infra.
D'Artagnan, meu primeiro herói literário, foi o catalisador de várias outras paixões minhas: o romance histórico ( e a descoberta de Sir Walter Scott foi outra "febre"), a História de França, Luís XIV e o seu século ( e a descoberta do duque-memorialista, Louis de Saint-Simon, foi um outro coup de foudre ). Paixões que levam quase três décadas de existência, e que tiveram altos e baixos como acontece com todas as paixões, mas permanecem.



6 comentários:

MR disse...

Adorei! Também é um dos meus heróis. As primeiras leituras que fiz destes livros de Alexandre Dumas foram adaptações, da Biblioteca dos Rapazes. Depois abalancei-me para os originais.
Se esta série continuar e escolhermos um segundo herói, acho que será um da minha juventude.

MR disse...

E já agora obrigada pela informação da biografia do verdadeiro D'Artagnan. Vou mandar vir.

Miss Tolstoi disse...

Parabéns! Também tive uma paixão por D'Artagnan e pelos Três Mosqueteiros. E por Walter Scott.

João Mattos e Silva disse...

Não quereria repetir os outros comentadores e o LB, mas a minha paixão pelo romance histórico, que ainda hoje perdura mais do que eu quereria, começou com essa trilogia de Dumas, continuou com Sir Walter Scott e com um escritor do género, talvez menor mas contador de histórias empolgantes, Ponson du Terrail.
Também vou encomendar essa biografia.

LUIS BARATA disse...

Meu caro João, também Rocambole, cujas peripécias até deram um adjectivo a várias línguas, me fascinou, se bem que mais tarde. Curiosamente, é possível ver algumas coisas das primeiras séries televisivas e filmes que adaptaram as histórias de Ponson du Terrail no YouTube.

ana disse...

Adorei também e já se disse tudo!
Li e vi o filme. :)