Prosimetron

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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

1 de Fevereiro

Numa Europa em que eu quase me não reconheço vejo - constantemente - esquecerem-se valores e certezas que se tinham ganho e reconquistado, dia a dia, após a difusão do «iluminismo». Quase todos pactuam face ao valor efémero do dinheiro. Trocam os valores que se conquistaram por migalhas...
- Sim, recordo as cenas tristes que envolveram a visita ao Espaço Europeu de figuras que ainda não foram «iluminadas» pela Razão. Tapar estátuas, mudar quadros, que são património da Humanidade, para agradar a uma personagem - que daqui a 500 ou 2000 anos ninguém saberá quem foi.
- Sim, recordo as cenas de «confisco» dos poucos valores que alguns refugiados levam consigo para poderem ter direito a um direito que deveria ser Universal - o direito da dignidade - que são duas mil calorias diárias, um local para dormir e um livro para ler - como alguém já escreveu.
- Sim, recordo a lei que tentam aprovar pela Europa em que o «sangue» é mais importante do que a dignidade, tendo os crimes valores diferentes conforme o sangue que lhes corre nas veias e não atendendo antes à qualidade do crime - cuja pena deve ser igual para todos. 
- Sim, recordo o Presidente da República Portuguesa que acha que um beijo dado a uma criança, ao adormecer, no momento em que se lhes aconchegam os lençóis, tem sexo ( ou é diferente de sexo para sexo ) quando a criança quer é sentir o carinho e a dedicação de uma pessoa que se preocupa com a vida. 
- Sim, recordo um Homem que fez da condenação disto tudo a Razão da sua vida. Recordo Raúl Rêgo (faleceu a 1 de Fevereiro de 2002).


Batista Bastos deixou-nos um testemunho que é uma lição de vida: um homem entra no Parlamento, sentado numa cadeira de rodas e puxado pela imposição da coragem e pela firmeza das certezas. O homem chama-se Raul Rego, e ali está para atribuir o seu voto à proposta de despenalização do aborto. E há qualquer coisa de grandioso nesta situação tão invulgar como dramaticamente comovente. Um homem visivelmente diminuído, porém indestrutível nas suas mais sólidas e profundas convicções. Um homem que recusa a perda do sentido das coisas e que combate, até ao fim, a transitória vitória das múltiplas infalibilidades.
Foto de Rui Ochôa.

3 comentários:

APS disse...

É bom lembrar. É importante transmitir e passar a quem vem.
Boa noite.

MR disse...

Passou-me essa do nosso ainda PR. No pressuposto de foi mais ma cavaquice. :(

Já tenho pensado que ainda bem que certas pessoas não estão cá a assistir «ao estado a qu'isto chegou», porque não vem aí nada de bom.

Bom dia!!!

ana disse...

Uma Europa enegrecida. Uma Europa com condições para ser cada vez menos unida.
Boa noite.