Prosimetron

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sábado, 14 de agosto de 2010

Boa noite!



CLAIR DE LUNE

Votre âme est un paysage choisi
Que vont charmant masques et bergamasques
Jouant du luth et dansant et quasi
Tristes sous leurs déguisements fantasques.

Tout en chantant sur le mode mineur
L'amour vainqueur et la vie opportune
Ils n'ont pas l'air de croire à leur bonheur
Et leur chanson se mêle au clair de lune,

Au calme clair de lune triste et beau,
Qui fait rêver les oiseaux dans les arbres
Et sangloter d'extase les jets d'eau,
Les grands jets d'eau sveltes parmi les marbres.

Paul Verlaine (1844–1896)
de Fêtes galantes (1869)

As vozes dos animais



Palram pega e papagaio
E cacareja a galinha
Os ternos pombos arrulham
Geme a rola inocentinha.

Muge a vaca, berra o touro
Grasna a rã, ruge o leão,
O gato mia, uiva o lobo
Também uiva e ladra o cão.

Relincha o nobre cavalo,
Os elefantes dão urros,
A tímida ovelha bale,
Zurrar é próprio dos burros.

Regouga a sagaz raposa,
Bichinho muito matreiro;
Nos ramos cantam as aves,
Mas pia o mocho agoureiro.

Sabem as aves ligeiras
O canto seu variar:
Fazem gorjeios às vezes,
vezes põem-se a chilrar.

O pardal, daninho aos campos,
Não aprendeu a cantar;
Como os ratos e as doninhas
Apenas sabe chiar.

O negro corvo crocita,
Zune o mosquito enfadonho,
A serpente no deserto
Solta assobio medonho.

Chia a lebre, grasna o pato,
Ouvem-se os porcos grunhir,
Libando o suco das flores,
Costuma a abelha zumbir.

Bramam os tigres, as onças,
Pia, pia o pintainho,
Cucurica e canta o galo,
Late e gane o cachorrinho.

A vitelinha dá berros
O cordeirinho balidos,
O macaquinho dá guinchos,
A criancinha vagidos.

A fala foi dada ao homem,
Rei dos outros animais:
Nos versos lidos acima
Se encontra em pobre rima
As vozes dos principais.

Pedro Dinis

Um quadro por dia - 79

Rembrandt van Rijn, A lapidação de Santo Estevão, óleo sobre tela, 1625, Musée des Beaux-Arts de Lyon, França.


Em memória de uma lapidada recente, a afegã Bibi Sanubar, viúva de 35 anos de idade, chicoteada 200 vezes e depois executada em público com 3 tiros na cabeça pela "justiça" dos talibans. O outro "adúltero" (pois foi este o "crime" da infeliz viúva ) conseguiu fugir para o Irão.
Mais uma prova, se precisas fossem, que o Afeganistão está longe de estar "pacificado" como sonham os homens do Pentágono e da Casa Branca.

INRO



Sabe o que é um inro? São pequenas caixas herméticas, usadas no Japão no período Edo (1615-1868), para transportar remédios e outras substâncias perecíveis. As caixas tinham gavetas.
Uma grande colecção destas caixas pode ser vista no Museu do Oriente, em Lisboa.

Florença


Para MR matar saudades.

O meu serão de ontem


Ontem, no regresso a Lisboa, passou-se pela Trafaria, terra onde se come muito bem. E optou-se pela A Tasquinha do Aires, um dos restaurantes mais recomendáveis da vila piscatória.

Há 625 anos foi Aljubarrota


Começa-se a travar a incerta guerra;
De ambas as partes de move a primeira ala;
Uns, leva a defensão da própria terra,
Outros as esperanças de ganhá-la.
Logo o grande Pereira, em quem se encerra
Todo o valor, primeiro se assinala:
Derriba e encontra, e a terra enfim semeia
Dos que a tanto o desejam sendo alheia.

Luís de Camões, Os Lusíadas, Canto IV, XXX

Passeio de Prosimitristas

Na passada semana três prosimetristas rumaram a um dia de sol e praia em Troia. Ao fim da tarde foi o "descanso do guerrreiro" com umas bebidas frescas. Da esplanada a vista era esta.

( Duas ) Frase(s) da semana ( que passou )

Sobre os homens em geral:

(...) Desisti de os educar. Mentem com quantos dentes têm e não percebem que somos mais inteligentes.

Sobre os actores em particular:

Há duas coisas muito más na vida: uma má queca e um mau actor.

Duas frases da actriz Guida Maria em entrevista ao Público no passado dia 8 de Agosto.

Em português - 18

Mais uma dos Deolinda, o Fado do Notário, 2010.

Praias de Portugal - 2

Hoje escolhi a Figueira porque penso que um prosimetronista ainda anda por esta praia. Também foi uma das minhas praias, com um mar fabuloso.
JP, se ainda estiver por aqui, boas férias!







Sala do Casino Peninsular.

«Figueira da Foz, que, em belezas naturais, é superior à maioria das praias francesas e belgas, pode bem dizer-se que é ainda um excelente ponto de turismo, não lhe faltando confortáveis casinos e admiráveis motivos de arte.
«Nos meses de Verão é empolgante o seu movimento. Enchem-se de alegria e de cor as suas ruas, as avenidas da beira-mar, os cafés e os casinos.»
(A mais linda praia de Portugal: Figueira da Foz. Figueira da Foz: Comissão Iniciativa, s.d.)

Bom dia!


Estou em Florença a tomar o pequeno-almoço.
Em sonhos. :)

My Way

Frascos de rapé





Alguns exemplares de uma impressionante colecção de frascos de rapé, reunida por Manuel Teixeira Gomes, que se encontra exposta no Museu do Oriente, em Lisboa.

A nossa vinheta


Cemitério de Badajoz, 1936

As forças franquistas tomaram Badajoz em 14 de Agosto de 1936, tendo este episódio sido um dos maiores massacres, no qual foram assassinadas entre 2000 a 4000 pessoas.
Mário Neves, então um jovem repórter «foi testemunha ocular de uma das mais horríveis chacinas da Guerra Civil Espanhola, que se verificou em Badajoz. Ficou tão perturbado com o que viu que jurou nunca mais voltar àquela cidade.» (John Blake e David Hart)


Lisboa: O Jornal, 1985
«Este livro é um desabafo e constitui um alívio para cerca de meio século de opressão da minha consciência dominada pelo constante remorso de quase ter deixado cair no esquecimento o testemunho de um dos mais terríveis acontecimentos que pude presenciar em toda a existência.» (da Introdução)

Desde dia 11 que Mário Neves se encontrava na Fronteira do Caia. Dia 15 foi a Badajoz. Eis o relato:

«Desolação e pavor
«Fronteira do Caia, 15 [de Agosto de 1936] – Sou o primeiro jornalista português a entrar em Badajoz, depois da queda da cidade em poder dos revoltosos. Acabo de presenciar um espectáculo de desolação e de pavor que não se apagará tão cedo dos meus olhos. [...]»
(Vou colocar o resto deste relato em comentário.)

Esta vinheta vai ficar apenas dois dias, hoje e amanhã. Só para não esquecer.

Do universo do poema para uma tela...

Na Galeria Nacional Húngara estava a decorrer uma exposição sobre o futurismo dedicada a Fortunato Depero a quem voltarei. Juntaram a Depero um conjunto de pintores húngaros. Kádár Bela era um dos que fazia parte do grupo. A tela de Béla pode não ser o paradigma de uma pintura futurista mas estava incluída na exposição.
Gostei desta tela porque debaixo das estrelas pode contemplar-se o universo em verso e chegar à conclusão que no homem tudo é exíguo, como expressa o poeta Bábits Mihály.

Kádár Béla (1877-1956), Debaixo das Estrelas, c. 1923


Colecção privada, exposição temporária na Galeria Nacional Húngara, Budapeste, Hungria

O EPÍLOGO DO LÍRICO

Só eu posso ser herói de meus versos
nas minhas canções, início e fim:
desejo pôr em verso o universo,
mas não pude ir além de mim.

E creio. já, que nada existe fora
de mim, mas, se sim, porquê sabe Deus.
Noz cega fechada na casca, ora
espero que a partam em desgostos meus.

Do mágico círculo sair não
sei. Só a flecha do desejo tem
saída - mas, sei, de voo incompleto.

Eu fico, de mim mesmo a prisão,
porque eu sou sujeito e objecto,
ai, alfa e ómega sou também.

Babits Mihály, in Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Lisboa: Assírio & Alvim, 2001, p.1244 ( tradução Ernesto Rodrigues)

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Boa noite!



«Dream when the day is thru,
Dream and they might come true,
Things never are as bad as they seem,
So dream, dream, dream.
»
Johnny Mercer
in Dream, cantiga popular de 1940

Outra epígrafe da Pastoral americana, de Philip Roth.
(Se este escritor um dia chegar a ganhar o Nobel, ficarei contente. Mas não me parece que isso venha a acontecer.)

Chuva de "estrelas"


Esta noite parece que ainda se podem ver

Viajar na BNP



Namíbia, Mar de Dunas no Parque Namib-Naukluft, 1997


Islândia, Glaciar Vatnajokull, 1994

Da Islândia à Namíbia, dos Estados Unidos à Jordânia, Fernando Peres Rodrigues mostra-nos através das suas maravilhosas fotografias um mundo em páginas soltas como se se tratasse de um diário de viagem.
Vá viajar até (e na) Biblioteca Nacional de Portugal até 15 Set.

Frutas - 25

Algumas telas de Louise Moillon (1610-1696)


The fruit and vegetable costermonger, 1631
Paris, Musée du Louvre


At the market stall
Col. particular

Basket of plums and basket of strawberries, 1632

Um poema húngaro.

Cúpula e Altar-mor da Basílica de Santo Estevão, Budapeste, Hungria.



Recordação de uma noite de verão

Do alto do céu um anjo enraivecido
tocou o alarme para a terra triste.
Endoidaram cem jovens pelo menos,
caíram pelo menos cem estrelas,
pelo menos cem virgens se perderam:
foi uma estranha,
estranhíssima noite de verão.
Nossa velha colméia pegou fogo,
nosso potro melhor quebrou a pata,
os mortos, no meu sonho, estavam vivos
e Burkus, nosso cão fiel, sumiu,
nossa criada Mári, que era muda,
esganiçou de pronto uma canção:
foi uma estranha,
estranhíssima noite de verão.
Os ninguéns exultavam de ousadia,
os justos encolhiam-se e o ladrão,
mesmo o mais tímido, roubou então:
foi uma estranha,
estranhíssima noite de verão.
Sabíamos da imperfeição dos homens,
de suas grandes dívidas de amor:
mas era singular, ainda assim,
o fim de um mundo que chegava ao fim.
Jamais tão zombeteira esteve a lua
e nunca foi menor o ser humano
do que foi nessa tal noite em questão:
foi uma estranha,
estranhíssima noite de verão.
Perversamente em júbilo, a agonia
sobre todas as almas se abatia,
os homens imbuíram-se do fado
recôndito de cada antepassado
e, rumo a bodas de um horror sangrento,
seguia embriagado o pensamento,
o altivo servidor do ser humano,
este, por sua vez, mero aleijão:
foi uma estranha,
estranhíssima noite de verão.
Pensava então, pensava eu, todavia,
que um deus negligenciado voltaria
à vida para me levar à morte,
mas eis que vivo e ainda sou o mesmo
no qual me converteu aquela noite
e, à espera desse deus, recordo agora
uma só noite mais que aterradora
que fez um mundo inteiro soçobrar:
foi uma estranha,
estranhíssima noite de verão.

Endre Ady (1877-1919) aqui

Praias de Portugal - 1.c)


O que a Costa da Caparica poderia ter sido, se o projecto de urbanização de Cassiano Branco, elaborado em 1930, tivesse sido desenvolvido e executado.

«A proposta de Cassiano Branco para a Costa da Caparica, embora incompleta e apaixonada [...]. Trata-se de um caso de amor entre um arquitecto e um sítio. [...]
«O "postal" com a proposta utópica para a Costa da Caparica, que seguramente não é um postal, prefigura uma Cidade de Lazer, particularmente apetrechada com equipamentos desportivos, lúdicos e culturais, que também, seguramente, não são Portugal dos anos 30. [...]
«Cassiano Branco, na sua proposta de transformação da Costa da Caparica, pressupõe grandes investimentos na área do lazer e dos tempos livres, bem como a oferta de espaços urbanos exemplarmente qualificados e profundamente inovadores. Evidentemente, nenhuma destas preocupações correspondia nem às capacidades, nem às exigências dos anos 30.
«Trata-se evidentemente de um sonho, de um manifesto daquilo com que o homem, o arquitecto, poderá contribuir para o progresso, a dignificação e o enriquecimento da sociedade de que faz parte.»

Manuel Fernandes de Sá, Francisco Barata Fernandes
In: Cassiano Branco: uma obra para o futuro. Lisboa: CML, 1991, p. 92, 96

Banhistas - 2




Carmen Miranda em Cascais


Abriu em Junho passado, no Centro Cultural de Cascais, uma exposição evocativa desta artista, que apresenta diverso tipo de material, como roupas, jóias, sapatos, pinturas e cartazes, para além de fotografias. No decorrer da exposição são projectados alguns filmes em que Carmen Miranda participou. As peças apresentadas vieram do Museu Carmen Miranda do Rio de Janeiro.

Até 26 Set.
3.ª feira a domingo das 10h00 às 18h00.
Entrada livre.

O meu jantar de ontem...


Eu nem gosto de whisky...


Ontem fui experimentar o Trigo Latino. Gostámos. E todos achámos que é de repetir.
Largo do Terreiro do Trigo, 1
Lisboa

http://www.trigolatino.com/

Do alto de Santa Engrácia




Agradável haver museus e monumentos abertos à 5.ª feira até à meia-noite.

A religiosidade em Budapeste! 2

Budapeste é uma cidade onde paira uma atmosfera religiosa que me espantou. Não estava à espera de ver uma profusão de campanários.
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"o som dos sinos quebra o impulso da desordem" *
xCabantous
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Torre da Basílica de Santo Estevão, Peste. A torre tem um sino que pesa 9144 Kg. Foi financiado pelos católicos alemães para substituir o sino original roubado pelos nazis em 1944.

Cúpula da Basílica de Santo Estevão, é visivel de toda Budapeste (96m de altura). A igreja é dedicada a Santo Estevão, o primeiro rei católico da Hungria. Foi concebida por József Hild em estilo neoclássico usando um plano térreo em forma de cruz grega. A construção foi iniciada em 1851. Miklós Ybl tornou-se responsável por ela em 1867, tendo-lhe acrescentado a cúpula neo-renascentista, após a original ter sido destruída em 1868. József Kauser terminou a igreja em 1905. A basílica guarda como relíquia o antebraço de Santo Estevão.

Perspectiva da cúpula no interior da Basílica. Mosaicos de Károly Lotz. Uma das perspectivas mais belas, no meu entender.



Igreja Calvinista, Buda. O telhado foi construído em 1893-96 e está coberto com telhas coloridas da fábrica Zsolnay.


Interior da Igreja Calvinista.

A Igreja Mátyás, Buda. A igreja paroquial de Santa Maria foi construída entre os séculos XIII e XV. Alguns dos estilos arquitectónicos existentes datam do reinado de Segismundo do Luxemburgo, mas o seu nome refere-se ao rei Mátyás Corvinus, que a aumentou. Muitos dos pormenores originais perderam-se quando os Turcos a transformaram na Grande Mesquita em 1541. Durante a libertação de Buda foi praticamente destruída. Foi reconstruída em estilo barroco pelos franciscanos. Em 1723 sofreu muitos danos e foi restaurada em estilo neogótico por Frigyes Schulek em 1873-96. Esta igreja tem vitrais muito bonitos apesar de recentes (século XIX).
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O telhado é decorado com azulejos vidrados de muitas cores
Altar-mor, Igreja Mátyás

CABANTOUS, Alain – Entre Fêtes et Clochers, Profanes et sacré dans l´Europe moderne XVII – XVIII siècle, Fayard, Paris: 2002, p.96.
Notas retiradas dos catálogos das respectivas igrejas.