Prosimetron

Prosimetron

sábado, 15 de maio de 2010

Boa noite!


Poema de Lorca, música de Joan Manuel Serrat.

O “return” de Julie Andrews (4/4): o capital de estima

Julie Andrews é adorada pelo mundo fora, como se evidenciou pelo fluxo de gente que acorreu à O2 e se consegue comprovar numa pesquisa rápida pela internet, com devoção expressa por figuras como Rupert Everett ou, como sumariza o site “popeater.com”, “[S]he can just make everyone feel alright. ... She was great, and all her real fans will love her forever.

Porventura, o que as pessoas recordam e gostam são os personagens interpretados por Julie Andrews, e a aparente consistência dos valores subjacentes à actriz e aos seus personagens. Em particular, o destaque vai para os personagens de Maria, a “noviça rebelde” como lhe chamaram no Brasil, de “Música no Coração” e para o personagem titular de “Mary Poppins”; e para o público americano que ainda se recorda, a sua interpretação original como a primeira Eliza Doolittle em “My Fair Lady”, na Broadway (aliás, a substituição por Audrey Hepburn para a versão de cinema levou a discussões acesas na época, “vingadas” quando Julie Andrews conquistou o Óscar para Melhor Actriz por “Mary Poppins”, derrotando Hepburn). Todos estes papéis são musicais (como são também musicais a Lili Smith de “Darling Lili”, ou a Victoria Grant de “Victor/Victoria”) e papéis com sólidos valores de esperança, perseverança e capacidade de ultrapassar obstáculos, com raízes de humildade e um certo receio do desconhecido. Vendo bem, são personagens sem um pendor romântico forte: Mary Poppins tem um amigo limpa-chaminés, Bert, mas dificilmente será um dos romances da 7ª Arte (e o que é, é sub-texto); a ligação de Maria ao Capitão tem menos de romântico do que a de Liesl e Rolf, servindo mais de complemento à história do que de fio condutor; Eliza apaixona-se pelo Professor Higgins mais como consequência; Victoria também se envolve emocionalmente pelo King já no decurso do enredo; e apenas em Lili é a vertente romântica central ao personagem. Não são os outros personagens que fazem Julie Andrews: nem o de “Cortina Rasgada”, de Hitchcock; nem o “The Tamarind Seed”, com Omar Sharif; nem o de “10”; nem o de “Our Sons”; nem as várias versões de “Shrek”; nem a série televisiva de muito curta duração de 1992, “Julie”. São os papéis de um conjunto de musicais que fazem a Julie Andrews do imaginário colectivo.



"Wouldn't It Be Loverly" da versão teatral de "My Fair Lady"
A esperança (principalmente das crianças, tudo é possível – e naquele momento, todos na audiência são crianças) e a vitória sobre a adversidade de base humilde, cantadas (algo que foi desaparecendo da sociedade em geral no século XX, hoje em dia ninguém canta, enquanto que nos séculos anteriores se cantava nas igrejas, nas sinagogas, nos campos, nas aldeias) têm sido os motes que cativam as audiências.



"Feed The Birds" de "Mary Poppins"
Exemplos incluem “Wouldn’t It Be Loverly”, “The Rain in Spain” e “I Could Have Dance All Night” em “My Fair Lady”, “A Spoonful Of Sugar”, “Feed The Birds”, “Supercalifragilisticexpialidocious” ou “Let’s Go Fly a Kite” em “Mary Poppins”; “Whistling Away The Dark” em “Darling Lili”; e, muito especialmente, é omnipresente em “Música no Coração”: “Do-Re-Mi”, “My Favorite Things”, “I Have Confidence In Me”, “Climb Ev’ry Mountain”, “Edelweiss”. É verdade que a música e letra geniais de Rodgers e Hammerstein, Lerner e Loewe ou Henri Mancini ajudaram – mas ajudaram a criar os personagens habitados por Julie Andrews, fazem parte dos ingredientes.



"Edelweiss" de "Música No Coração"

Mercê do cinema e da gravação de imagem e som, estes personagens são eternos. E quando se vai a um “return” de Julie Andrews, quer-se ver Maria, Mary e Eliza; porventura também Victoria ou Lili. Até porque sendo eternas, o mundo multimédia permite-nos regressar com Julie Andrews. O espectáculo ideal teria tido estes personagens em clips musicais nos écrans gigantes, intercalados com outros números musicais interpretados ao vivo por Julie Andrews, acompanhada ou não pelos seus convidados, mas sempre com Julie Andrews no centro. Músicas que exijam menor alcance vocal (Barbra Streisand fez igualmente o ajuste, passando para clássico de jazz) e sem inovações de arranjo que desvirtuem as músicas iniciais (como aconteceu com “My Funny Valentine”) provavelmente seriam as que teriam resultado melhor. Até se teria achado graça ao conto infantil musicado.



"Whistling Away The Dark" de "Darling Lili"

Recomendação: que Julie Andrews faça já outro concerto – e que convide também Maria von Trapp, Mary Poppins, Eliza Doolittle, Lili Smith, Victoria Grant, Millie Dillmount, Cinderella e Guinevere. E que, a terminar, cante o tal “mean “Ol’ Man River”. Será um sucesso sem reservas.

O “return” de Julie Andrews (3/4): o concerto


Voltemos a dia 8. A arena encheu-se: e cumpriu-se a premonição das cinco gerações. Desde crianças de colo trazidas pelos pais até nonagenários de andarilhos e cadeiras de rodas, a arena brilhava com o disparar dos flashes das máquinas fotográficas e dos telemóveis, transformando-a num firmamento. Ouvia-se falar alemão, holandês, italiano, francês; vêem-se sikhs de turbante e grupos de chineses cruzavam-se com pequenos bandos de japonesas com máscaras da gripe; os saris misturavam-se com os sotaques sul-americanos do espanhol; ouvia-se português com sotaques de Portugal e do Brasil; os sotaques norte-americanos mapeavam os Estados Unidos. O primeiro anel era completamente circundado com pessoas em cadeiras de rodas, como se de uma tropa de elite se tratasse, visão algo arrepiante pela demonstração de devoção.

A leitura do programa foi decepcionante: todo o segundo acto seria dedicado ao conto infantil. Apenas o primeiro acto traria os musicais do cinema e da Broadway, mas mesmo esses não eram o que se poderia esperar de um espectáculo com Julie Andrews: Três músicas apenas de “Música no Coração”, nada de “Mary Poppins”, nada de “Darling Lili”, nada de “Millie, Rapariga Moderna”, nada de “Victor Victoria”, ou dos seus êxitos na Broadway, “My Fair Lady” ou “Camelot”. É verdade que se recuperava o “Cinderella” de Rodgers and Hammerstein de 1957, uma produção em directo para televisão que bateu todos os recordes de audiência à data. E Julie Andrews tinha interpretado “O Rei e Eu” em estúdio em 1992, com Ben Kingsley. Mas não, as canções seriam de “Oklahoma!”, “State Fair”, “South Pacific” e “Carrossel”, entre outras obras menos conhecidas. Voltando atrás, é verdade que o anúncio indicava que se interpretariam clássicos de Rodgers e Hammerstein, o que não se depreendia é que seria em exclusivo. Bem. Um pouco decepcionante, mas adiante.

O espectáculo começou auspicioso, com um clip da abertura do clássico “Música no Coração” servindo para introduzir Julie Andrews. A arena explodiu em aplauso e a ovação de pé durou e durou. Agradecendo a recepção, fez o aviso reiterado das limitações vocais pós-operações, “I no longer have the voice of that girl you saw up there on the screen”, que lhe rendeu um aplauso redobrado – ninguém esperava uma jovem de 20 anos e a fragilidade reconhecida granjeava-lhe ainda maior ternura. Mesmo assim, o aviso foi mitigado com a referência a poder trazer a casa abaixo com a sua interpretação de “Ol’ Man River”. Foram apresentadas cinco vozes do West End e da Broadway, que a coadjuvariam em palco.

Para o espanto da audiência, a partir desse momento, Julie Andrews passou para o papel de MC (mestre de cerimónias), raramente juntando a sua voz aos demais cantores (que eram bons, muito bons) e saindo frequentemente de palco (o que em termos estritos era legítimo, dado que durante longos períodos de tempo não estava lá a fazer nada).

Fora do previsto no programa, cantou duas músicas: “A Cock-Eyed Optimist” (de “South Pacific”, sobre um optimismo inabalável: “With a thing called hope / And I can't get it out of my heart! / Not this heart...”) e “My Funny Valentine” (com uma nova orquestração, infelizmente fraca e que alterava os padrões tradicionais da canção). A voz não tinha o mesmo alcance (e era minada aqui e ali por insegurança), mas era a mesma: e era por isso que a audiência lá estava. Nestes dois momentos, a arena voltou a erguer-se em aplauso – a homenagem sentida à cantora que, um pouco a medo, se atrevia a voltar cantar em palco em frente a milhares de pessoas. E o facto surpreendente é que, a voz não sendo a mesma, é muito melhor do que provavelmente Julie Andrews pensa. Ou sente.


"My Funny Valentine"


"A Cock-Eyed Optimist"



"Do-Re-Mi"


"Edelweiss"

O “return” de Julie Andrews (2/4): o anúncio e as expectativas



O espectáculo foi anunciado em finais de 2009, sob o título “An Evening With Julie Andrews”: Para entender as fúrias e as decepções, é preciso entender as expectativas. O anúncio original era literalmente o que se transcreve de seguida.

“Musical icon and beloved actress, Julie Andrews, will return to the UK stage for the first time in 30 years with a special performance in The Gift of Music.

The event will be hosted at The O2 arena on Saturday, 8 May and will consist of gifts of music old and new - performances of Rodgers and Hammerstein classics, as well as the musical adaptation and her live narration of "Simeon's Gift", the best selling children's book written by Julie and her daughter, Emma Walton Hamilton.

Accompanied by the Royal Philharmonic Orchestra and conductor Ian Fraser, Ms. Andrews will be joined on stage with an ensemble of 5 performers who have graced the West End and/or Broadway. Together they will take the audience on a nostalgic trip featuring clips, memories and songs of great musical theater that will include material from "The Sound of Music", "The King and I", "South Pacific" and "Carousel".

Dame Julie has captivated audiences throughout her legendary career, from her stage performances in "The Boy Friend", "My Fair Lady", and "Camelot" to unforgettable roles in "Mary Poppins" and "The Sound of Music" right through to her most recent projects, "The Princess Diaries", the "Shrek" films and "Eloise at the Plaza". Her latest films, "Tooth Fairy", and the animated "Despicable Me" will all be released in 2010. She is one of the most recognized performers in the world and has an extraordinary fan base of 5 generations.

In addition to her accomplishments on stage and in filmed entertainment, Dame Julie has become an accomplished best selling author of children's books, several co-written with her daughter. There are 25 books that have been published to date in The Julie Andrews Collection.

Julie said of her new concert in London: "To perform once again in my homeland on the London stage will be a wonderful moment - it is where it all began for me, and I am so excited to be able to share a brand new work with audiences."


Pouco depois, Julie Andrews em entrevista avisava que já não tinha o mesmo alcance vocal de outrora, mercê de uma operação às cordas vocais que correra mal nos anos 90.

Mike Oldfield

Esta inesquecível Tubular Bells é de 1973, aqui interpretada no Festival de Montreux de 1981. Música desde logo associada a um grande filme: O Exorcista, lembram-se? O pioneiro Mike Oldfield faz hoje 57 anos.

PENSAMENTO(S) - 123

O verdadeiro fim da sátira é a correcção dos vícios.

JOHN DRYDEN

O “return” de Julie Andrews (1/4): uma polémica curiosa

Julie Andrews regressou aos palcos no passado Sábado, dia 8, em Londres, depois de mais de trinta anos sem actuar em público na sua terra natal.

Este regresso faz ecoar as palavras da imortal Norma Desmond, quando Joe Gillis lhe diz que não sabia que Norma estava a planear um “comeback”: “I hate that word. It's a return, a return to the millions of people who have never forgiven me for deserting the screen.” Foi para esse “return” que se dirigiram dezenas de milhares de pessoas de todo o mundo, confluindo para a O2 Arena em Londres.

No dia seguinte, as primeiras críticas na imprensa começavam por descrever que Julie Andrews tinha sido acompanhada por cantores a interpretar músicas da Broadway, que a O2 Arena estava cheia, que apesar da operação às cordas vocais a estrela anunciara que ainda fazia ribombar um “Ol’ Man River” (música de assinatura de “Show Boat”, geralmente considerado o primeiro musical da Broadway) e que a entrada e saídas de palco tinham recebido uma ovação de pé.

No mesmo dia, abriam-se as comportas, com títulos como “The Night Julie Andrews lost the Sound of Music” ou “The Tills Are Alive With the Sound of Fury”, com múltiplos espectadores a pedirem a devolução do dinheiro e com o site “News Media Images” escrevendo que “Whilst an anemic Liz Taylor didn’t demand her money back, a sad resigned look on her face told all.

Durante alguns dias, seguiu-se uma disputa cibernética e de imprensa sobre se a audiência se sentiu defraudada ou não, com uma diferença apaixonada de reacções e de retrato do que foi esse espectáculo, desde a BBC ao “Malaysian Times”, do “Daily Mirror” à Wikipédia ou ao “The New York Times”. Os extremos vão desde o aplauso sem reservas ao pedido de restituição do valor dos bilhetes.

A resposta à questão sobre se a audiência se sentiu defraudada é “Sim, mas não faz mal.” É sobre esta bizarra polémica que se debruça uma entrada em quatro partes neste blog, sendo utilizados como idiomas o português e o inglês, sendo este último empregue pela dificuldade de tradução de certas inflexões de idioma (por exemplo, entre “return” e “comeback”), pelo nome de músicas, filmes e musicais que não são de tradução fácil ou reconhecida e para preservar a integridade do anúncio original.

Quem não pecou...

Quem não pecou que atire a primeira pedra...

Para APS pela recordação de Vittorio Gassman!

O Corvo - The Raven!

Hoje ofereceram-me O Corvo, poema magnífico do Edgar Allan Poe, e, embora, já tenha umas três edições deste poema, esta edição é a mais bela de todas. As ilustrações são de Gustave Doré realizadas num período de profunda depressão que terminaria com a sua morte prematura. O facto de ser o último trabalho de Doré é para mim também especial. Obrigada!
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Desenho de Gustave Doré, gravador: H.Claudius
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Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,

Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,

E já quase adormecia, ouvi o que parecia

Osom de alguém que batia levemente a meus umbrais.

"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.

É só isso e nada mais."

x ((...) 1ª estrofe

Desenho de Gustave Doré, gravador: R. A. Muller

Retirada da Wikipedia

Edgar Allan Poe, O Corvo (ed. trilingue português/inglês/espanhol; trad. Fernando Pessoa), Póvoa de Varzim: Editor Manuel Caldas, 2009, p. 8, 15 e 19

Ballet for Life

Ballet for Life, uma coreografia original de Maurice Béjart, datada de 1997, pode ser vista em Lisboa até ao dia 16 de Maio.
Uma Homenagem a Freddie Mercury e a Jorge Donn... com figurinos de Gianni Versace.
A música é dos Queen e de Mozart.
Juro que vale a pena!
Pelo Béjart Ballet Lausanne, no Coliseu de Lisboa.

Que dá a vaca? Uma história de quinta-feira.

Parece que foi uma notícia de quinta-feira dado que os jornais a contaram ontem, sexta.
A Civilização Editora vai retirar, ou retirou, de mercado este livro.


Embora o livro já vá na 4.ª Reimpressão e a 1.ª seja datada de 2006, só agora receberam uma queixa...


E como o livro diz, na p.4, na biografia dos autores, e transcrevo: "Por incrível que pareça, Fabrice Lelarge é professor!" ... pois, mas não é professora!

Mas parece que ainda está à venda, pelo menos na Net.

...Aroma do lilás!


"Entre a falsa alegria e o esquecimento
Virginal, entre o fumo do inebriamento.
Regressa o doce e triste aroma do lilás".

Henri de Régnier
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"Como é que esta água fresca de recordações pôde jorrar uma vez mais na minha alma impura de hoje sem se sujar? Que virtude possui aquele odor matinal dos lilases para assim atravessar tantos vapores fétidos sem com eles se misturar ou debilitar?"
"x
Marcel Proust (p.93)
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Marcel Proust, Os Prazeres e os Dias, Lisboa:Editora Estampa, 2010 (2ª edição), p. 90-93


Jeff Buckley - Lilac Wine

Perfumaria: de um catálogo de 1939






Não só «menos calvos», mas com farta cabeleira, poupa e caracóis.

Boa noite!


Para APS, depois de ter ouvido umas peças de Heinrich Biber (1644-1704) no Arpose e não me ter lembrado que era o compositor das Sonatas do Rosário, ou Os Mistérios do Rosário.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

La Traviata - "Alfredo, di questo core"

A minha companhia esta tarde: Anna Netrebko (soprano) no papel de Violetta Valéry, canta a ária "Alfredo, di questo core", da ópera "La Traviata" de Giuseppe Verdi. Libretto de Francesco Maria Piave. Adaptação da história de Alexandre Dumas, filho, "A Dama das Camélias", livro que li há muitos anos.



"Alfredo, Alfredo, di questo core
Non puoi comprendere tutto l'amore;
Tu non conosci che fino a prezzo
Del tuo disprezzo - provato io l'ho!
Ma verra' giorno in che il saprai
Com'io t'amassi confesserai
Dio dai rimorsi ti salvi allora;
Io spenta ancora - pur t'amero'"


Coro e Orquestra do Teatro Mariinsky, dirigidos pelo maestro Valery Gergiev, St. Petersburg, Mariinsky Theatre, Junho de 2003

Amica


Cartaz de 1905

Esta ópera de Mascagni estreou, em Itália, no Teatro Constanzi (actual Teatro de Ópera de Roma), fez ontem 105 anos. Mas a sua estreia absoluta tinha tido lugar dois meses antes, a 16 de Março, em Monte Carlo.

Amanhã no Porto


A não perder...


Quem já leu, diz que é fantástico.

Good to be back


Depois de uma semana na cidade supra, uma das minhas preferidas sem dúvida alguma, é bom voltar ao convívio prosimetrónico, especialmente depois de quase uma semana sem televisão e internet, fundamentalmente por opção, o que acabou por ser uma boa desintoxicação. Mas sempre com jornais, ou não fosse a capital britânica grande produtora de bons títulos ( e outros menos bons... ).
Mas antes de passar a algumas crónicas londrinas, aproveito para agradecer os gestos generosos do nosso João Soares e dos meus queridos amigos londrinos Malcolm e Robert. Foram eles que tornaram tudo possível. E agradeço também o convívio e hospitalidade desse londrino honorário que dá pelo nome de Filipe V.Nicolau e da Clara e do Titus, londrinos não-honorários.

Saldanha Sanches (1944-2010)

Uma estátua já !

Depois de quase dois anos a ouvir chamar a Henrique Medina Carreira tudo e mais alguma coisa: "exagerado", "catastrofista", "apocalíptico", "Velho do Restelo" e outros epítetos menos simpáticos ainda, estou à espera que se lhe faça justiça.
Quando o Governo, mas não só, proclamava alto e bom som que "isto" não estava assim tão mal e era para se fazer tudo ( TGV, nova ponte sobre o Tejo, novo aeroporto e mais não sei quantas auto-estradas), mesmo já depois de a Grécia começar a ter gente nas ruas e o "nosso" rating ir baixando, uma das poucas vozes que nunca esmoreceu e nos confrontava com o que quase ninguém, a começar pelo nosso teimoso Primeiro-Ministro, queria assumir, foi a de Medina Carreira.
Sugiro, pois, um acto de contrição ( expressão adequada dada a visita papal ) sob a forma de uma estátua a ser colocada junto ao Palácio de S.Bento.
Um euro a cada português e a coisa faz-se. Espero que os primeiros contributos provenham dos bolsos do Eng.Sócrates e daqueles seus muchachos que sistematicamente ridicularizavam Medina Carreira.

14 de Maio de 1998

Devido a um ataque cardíaco, The Voice calava-se para sempre.

É hoje...


... às 21h30, no Coliseu.

«On a beuacoup dit et écrit sur ce ballet [Le Presbytère, rebaptizado Ballet for life] qui depuis dix ans [agora treze] connaît un succès jamais démenti. Quel est le message que vous avez voulu y inculquer?
«[Maurice Béjart -] Les réussites sont des conjonctions de talents et de circonstances. il y a le talent de la musique de Queen que je connaissais peu, que j'ai découverte et qui m'a fascinné, passionné, bouleversé. Il y a le talent de Versace. Il m'a fait beaucoup de très beaux costumes mais là, il a éclaté. Il a réussi son coup en étant à la fois moderne et classique, sobre et délirant. Et puis la compagnie s'est toujours bien sentie dans ce spectacle. Le Presbytère est en réalité le cri d'angoisse d'une jeunesse pour laquelle le problème de la mort par l'amour, en l'occurrence le sida, s'ajoute à celui des guerres multiples qui n'ont cessé dans le monde depuis la fin de la deuxième guerre mondiale! C'est donc à la fois un ballet sur la jeunesse et... sur l'espoir puisque, indécrottable optimiste, je crois malgré tout que "The show must go on" comme le chant Queen. Il est dédié et pensé par rapport à des êtres que j'ai connus et qui sont mort de sida, des hommes qui sont morts trop tôt. C'est por ça qu'il ya mort Mozart. Il n'est pas mort du sida mais il est mort trop jeune. Il y a des artiste sqi sont morts en pleine carrière, en pleine gloire, en pleine force. Dans le ballet, j'évoque de manière évidente, Freddy Mercury, Jorge Donn et Mozart. Trois personnes qui sont mortes à quarante ans au sommet de leur art.»
(Michel Robert - Maurice Béjart, une vie: derniers entretiens. Bruxelles: Luc Pire, 2008, p. 196)

Sabem quem inventou o pára-brisas intermitente?


http://nimg.sulekha.com/others/original700/2008-8-14-18-43-1-a955ecdd3ab9418ebd79d877af9fccaf-e3b7e9421f4f4c62982b5aca5a4b8e5b-2.jpg

Eu não sabia. Foi Robert W. Kearnes (1927-2005), que travou uma batalha judicial de muitos anos para que a sua patente fosse reconhecida, depois de ter sido roubada pela Ford. A história está agora no cinema: Golpe de génio. Fui ver e gostei.

O que estou a ouvir

Haydn: Mass, Hob. XXII: 7 in B flat major 'Kleine Orgelmesse' (Missa brevis Sancti Joannis de Deo 'Little Organ Mass')

Embora não pareça e nela não exista qualquer referência a essa obra, a capa do disco é a seguinte:

Mas no verso lá consta que a Missa Breve de São João de Deus ocupa as faixas 13 a 18.

Trata-se de uma gravação excelente realizada a 20 Junho de 1998, em Estúdio, mas como se estivesse a ser tocado numa grande Igreja. Usa instrumentos da época.
A orquestra é de Budapest: Nicolaus Esterhazy Sinfonia;
Coro: Hungarian Radio Chorus;
Kurt Azesberger (tenor), Robert Holzer (bass-baritone), Viktoria Loukianetz (soprano), Gabriele Sima (contralto);
Maestro: Bela Drahos

Chegou-me, hoje, acompanhado de uma espiga. Obrigado!

Quotidianos - 33


Max Slevogt (1868-1932)
«A bailairina Pavlova», 1909

Desden, Gemäldegalerie, Neue Meister


Jacques-Émile Blanche (1861-1942)
«Tamara Karsavina dançando O Pássaro de Fogo», 1910

Paris, Musée de l'Opéra

Porque hoje é dia de bailado.

Amigo a que Vieste? Pedro Tamen (Amizade o que é?)

As Cartas a Lucílio de Séneca levaram-me a reflectir sobre a amizade. Amizade é um sentimento complexo e se calhar recheado de relativismo. Devia ser um sentimento objectivo, claro e simples, sem lugares comuns tal como Séneca o transmitiu. Não banalizo a palavra amigo mas confesso que não entendo bem esta afirmação:
"Delibera em comum com o teu amigo mas começa por formular sobre ele um juízo correcto: após o início da amizade, há que ter confiança. Antes, sim, é que se deve ajuizar."
Como é que é possível ajuizar a priori sobre um amigo, se a amizade se vai construindo e à medida da sua construção é que se conhece o outro?
Gostava que me ajudassem a descodificar a mensagem.
Perante este problema lembrei-me do poema: Amigo a que vieste? de Pedro Tamen que de algum modo está ligado à minha dúvida. Não o tinha, por isso, o recolhi do site indicado no link.
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Luigi Deleidi, Donizetti e amici , 1840

Olio su tela cm 68x49 - Bergamo, museo donizettiano - da sinistra l'oste Bettinelli, Gaetano Donizetti, Dolci, Simone Mayr in piedi l'autore Deleidi

Amigo, a que Vieste? Onde foste ao bater das quatro horas e, antes, quem eras tu, se eras? Amigo ou inimigo, posso falar-te agora sentado à minha frente e com os ombros vergados ao peso da caneta? Falo-te sobre a cabeça baixa e vejo para além de ti, no horizonte, teus riscos e passadas; mas não sei onde foste, nem se eras. Olho-te ao fundo, sob o sol e a chuva, fazendo gestos largos ou só um leve aceno; dizes palavras antigas, de antes das quatro horas, e nada sei de ti que tu me digas dessa cabeça surda. Não te pergunto pela verdade, que pensas de amanhã ou se já leste Goethe; sequer se amaste ou amas misteriosamente uma mulher, um peixe, uma papoila. Não quero essa mudez de condolências a mim, a ti, ou só à terra que tu e eu pisamos — e comemos. Pergunto simplesmente se tu eras, quem eras, e onde foste depois que se fizeram quatro horas. Será que não tens olhos? Não tos vejo. De longe em longe agitas a cabeça, mas talvez seja engano. Palavra, não te entendo. Amigo, a que vieste? Pedro Tamen, in "Horácio e Coriáceo" Retirado daqui

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Dia da Espiga ("Música" e não só)

1.ª edição (1926) desenho sem autoria

Várias vezes adormeci ao som destes versos... Bons e velhos tempos. Hoje procurei nas Caixas das Músicas e nas Caixas das Coplas, a partitura original, que é rara, e os seus versos.

Dia da Espiga

Óh! ih! oh! ai!
Esta vida é uma cantiga,
E este dia d' alegria
Vale um ano d' aflição...

Óh! ih! oh! ai!
Porque este dia da espiga
É o arauto do dia
Em que o trigo há-de dar pão!

Jorra o vinho dos pichéis
Para os lábios das moçoilas,
Mais vermelhas que papoilas
co'as larachas dos Manéis

Há merendas pelos prados,
Gargalhadas pelo ar,
E à beirinha dos valados,
Ouve a gente murmurar:

Maria, são teus olhos azeitonas!
Cachopa, são teus lábios qual cereja!
E os teus seios, cachos d'uvas que abandonas
À vindima desta boca que os deseja!...

Óh! ih! oh! ai!
Esta vida é uma cantiga,
E este dia d' alegria
Vale um ano d' aflição...

Óh! ih! oh! ai!
Porque este dia da espiga
É o arauto do dia
Em que o trigo há-de dar pão!

Tomam todos os caminhos
um sabor de romaria,
e até mesmo os pobrezinhos
fingem ter alegria...

E, na volta, já sentindo
que foi tudo um sonho em vão,
inda há ecos, repetindo
pelo espaço esta canção:

Maria, são teus olhos azeitonas!
Cachopa, são teus lábios qual cereja!
E os teus seios, cachos d'uvas que abandonas
À vindima desta boca que os deseja!...

Os versos são de Silva Tavares (1893-1964) e a Música de Alves Coelho (1882-1931).

A criação foi da actriz Deolinda de Macedo e foi o grande êxito da Revista Cabaz de Morangos. A sua estreia ocorreu no Eden-Teatro, em Lisboa, em 1926. Acabava a I.ª República.
Vítor Pavão dos Santos, no seu livro A Revista à Portuguesa, considera "O dia da espiga, um dos maiores sucessos revisteiros de sempre" (p. 38).

A capa de música que hoje apresento (1.ª edição) é rara. Vítor Pavão dos Santos só conseguiu encontrar este exemplar de que se serviu para o seu livro (reproduzindo-a, a preto e branco, na página 39). Os versos, tanto quanto consegui apurar, nunca foram publicados na Net, nesta sua versão correcta e completa.

2.ª edição (1926/1927) Desenho de Botelho (1926)

Aos meus amigos


Pedindo autorização à minha colega Adriana Freire Nogueira vou copiar um post do seu blogue, post que dedico aos meus Amigos.

sobre a amizade

A Natya pediu-me parte da carta 3 (Cartas a Lucílio, de Séneca. Uso a tradução de J. A. Segurado Campos, da Gulbenkian) e ela aqui vai:

Dizes-me que entregaste a carta a um amigo teu, para me trazer, mas em seguida aconselhas-me a não trocar impressões com ele sobre quanto te diz respeito, pois nem tu próprio o costumas fazer. Quer dizer, na mesma carta deste-lhe e recusaste-lhe o título de "amigo".
Ora bem: se tu usaste esta palavra não no seu verdadeiro sentido mas antes em sentido genérico, e lhe chamaste "amigo" tal como a todos os candidatos nós chamamos "respeitáveis cidadãos", ou como às pessoas que encontramos e cujo nome não nos ocorre, cumprimentamos como "senhor fulano" ainda é aceitável; se consideras, porém, "amigo" alguém em quem não confias tanto como em ti próprio, então cometes um erro grave e mostras não conhecer bem o significado da verdadeira amizade.
Delibera em comum com o teu amigo mas começa por formular sobre ele um juízo correcto: após o início da amizade, há que ter confiança. Antes, sim, é que se deve ajuizar. Confundem as obrigações inerentes a este princípio aqueles que, ao contrário dos ensinamentos de Teofrasto, formulam juízos depois de iniciada a amizade, e não estabelecem relações de amizade depois de formularem juízos. Pensa longamente se alguém é digno de que o incluas no número dos teus amigos; quando decidires incluí-lo, então recebe-o de coração aberto e fala com ele com tanto à vontade como contigo próprio.


Acrescento, usando as palavras de Antonio Perez, na introdução à sua obra: Cartas de Antonio Perez Secretario de Estado, que fue del Rey Catholico Don Phelippe II. de este nombre. Para diuersas personas despues de su salida de España, Impresso em Paris, [1600] [fl. II].
No se nombran todos à quien se escrive, porque algunos temen por respectos humanos, pero considerables, aunque aman en el coraçon. Rayz de la Fee, y del Amor el coraçon. Pero la confession de la lengua la prueva del coraçon, como las ramas, y las ojas (que la lengua, y las palabras rama, y ojas son del coraçon) de estar la rayz verde, ò seca. Otros, porque son tan temerosos de suyo sin auaer otra causa, que temen el rayo aun despues de oydo el trueno. Otros, porque no se confirmen por amigos los que no tenian en la rayz, sino en la corteza el nombre.

Este livro, que eu não conhecia, veio parar à minha biblioteca pela mão de uma pessoa amiga.

A Visita - 3!

Os portugueses sabem receber, é um traço da nossa personalidade - a diplomacia! Congratulo-me por se pensar isto do nosso povo, embora não tenha contribuído para tal.

No Público:

"Bento XVI está “satisfeito” com a forma como tem sido acolhido em Portugal. O Papa, que se encontra no terceiro dia da visita ao país, manifestou o seu agrado com a recepção dos portugueses durante o breve encontro de ontem com o primeiro-ministro e o ministro dos Negócios Estrangeiros."

A grande preocupação do momento...

Quem teve mais gente em Lisboa: O Papa no Terreiro do Paço ou Jesus no Marquês de Pombal?

Como escreveu Jorge Fiel: "estou-me nas tintas para os excessos em que têm tropeçado alguns jornalistas, levados pelo arrebatador entusiasmo e cega fé benfiquista e/ou católica."

O sofrimento de Job por causa de uma teima entre Deus e o Diabo

London, British Library, Ms. Add. 35254, fol. T
In A Masterpiece Reconstructed : The Hours of Louis XII (2006)

Abertura de leituras e de significados...


A associação da terceira parte do chamado Segredo de Fátima ou "terceiro segredo de Fátima" ao momento vivido actualmente pela Igreja tem ocupado as páginas dos jornais desde o começo da viagem de Bento XVI a Portugal. Também o coordenador da visita papal fala do tema.
D. Carlos Azevedo explica: "o terceiro segredo fala num homem vestido de branco e o Papa veste de branco. E as mensagens proféticas têm uma abertura de leituras e de significados, tal como uma obra de arte. Qualquer coisa que seja sublime tem uma abertura de leituras, também as mensagens espirituais, quando são densas e com sentido, têm mais que uma leitura. " (DN. 13.05.2010, p.11)

A Ascensão - Salvador Dalí!

Não me importava de ter esta "A Ascensão". Só os surrealistas é que poderiam fazer do sagrado uma coisa profana!
A Ascensão, 1958

Oléo sobre tela, 115 x 123 cm, Colecção Privada.

Hoje era dia de ir às hortas


Retiro do Manuel dos Passarinhos, na Calçada do Poço dos Mouros.
Foto Joshua Benoliel (1873-1932), início século XX.Lisboa, Arq. Fot. CML PT/AMLSB/AF/JBN/000970


Antigo Retiro do Quebra-Bilhas, no Campo Grande.
Este foi o último a fechar em Lisboa. Encerrou talvez há três anos.

Foto de Eduardo Portugal, 1941
Lisboa, Arq. Fot. CML
PT/AMLSB/AF/POR/059498


Retiro A Perna de Pau, junto ao apeadeiro do Areeiro, na antiga Estrada de Sacavém.
Foto Paulo Guedes (1886-1947)
Lisboa, Arq. Fot. CML
PT/AMLSB/AF/PAG/000251

No Dia da Espiga, a Lisboa popular ia passar o dia nos retiros e nas hortas - uns quintalões nos arredores da cidade -, com o pretexto de colher a espiga, o ramo de oliveira, papoilas e malmequeres, para formar o ramo. Comiam nas casas de pasto que existiam nesses locais, e os menos abonados levavam o farnel pendurado num pau, transportado ao ombro. Jogavam junquilho ou malha, tocavam guitarra e cantavam o fado.
E o que se comia nessas casas de pasto? A lista era curta: peixe frito, chouriço com ovos e pastéis de bacalhau, regados com tinto; quadrados de marmelada para a sobremesa.
Mas, no Manuel dos Passarinhos, o petisco devia ser grandes tachadas de passarinhos fritos... Ainda me lembro de ver na montra de algumas tascas da Baixa, umas panelas com passarinhos. Para não falar das iscas - com elas e sem. Mas isto talvez fique para um próximo post.

Bom dia da espiga!

Este é o ramo virtual do meu dia da espiga! Ainda o vou apanhar.

Dia da Espiga / Dia da Ascenção (o profano)

Dia da Ascenção / Dia da Espiga (o sagrado)

Quarenta dias depois da Ressurreição, Jesus levou, de novo, os seus discípulos ao Monte das Oliveiras e elevou-se aos céus.
Dizem que foi ao meio-dia.
E segundo antigas crenças ao meio-dia tudo pára (ou parava): as águas nos rios e ribeiros não corriam, os animais não andavam, as folhas cruzavam-se, etc..., etc... E por isso as pessoas não trabalhavam neste dia.
Curiosamente este ano existe, por outros motivos, tolerância de ponto.
E nesse dia (e se possível a essa hora) apanhava-se o ramo de espiga.

Logo que possa tenho que ir a Madrid!


Madrid é uma cidade com muita luz e vida. Soube, através do JL, que existe um espaço obrigatório para quem gosta de livros, só é preciso ir até à capital espanhola e procurar a livraria "La Buena Vida" , uma livraria - café, aberta das 12 horas às 24 horas todos os dias.
Pelo que li noutros sites parece que tem cada vez mais leitores. É interessante que a música e os pazeres como o café estejam intimamente ligados aos livros.

"Situada no coração histórico e monumental da cidade (Calle Vergara, 10, muito perto do Teatro Real e da Plaza de Oriente), tem um ambiente acolhedor que convida à entrada e, logo a seguir, à demora. Numa cidade em que não faltam grandes superfícies do sector (desde a FNAC à Casa del Libro), aposta-se aqui no ambiente e no tratamento personalizado. La Buena Vida, ao alcance do cidadão médio, é aqui, neste auto-denominado "café del libro", em que se pode ler e ver enquanto se toma uma copa ou picar un pincho."
Maria João Martins

Livros de cozinha - 31


Charcuterie and french porc cookery foi o primeiro
livro publicado por Jane Grigson, em 1968.


A 1.ª ed. saiu em 1971.

A 1.ª ed. é de 1974.

A 1.ª ed. é de 1978 e, com ele, Jane Grogson
foi galardoada com Glenfiddich Writer of the Year Award.


Jane Grigson (1928-1990) é talvez a mais conhecida autora inglesa de livros de cozinha do século XX. Autora de mais de 20 obras, colunista do jornal The Observer desde 1968 até á sua morte, a sua biblioteca de livros de cozinha, bem como os seus cadernos manuscritos de receitas e projectos editoriais podem ser consultados na Oxford Brookes University, onde se encontra uma das melhores bibliotecas de livros de culinária e gastronomia do mundo.

Greguerías - 8


http://lua.weblog.com.pt/arquivo/espiga.bmp

«O mais maravilhoso da espiga é como leva bem feita a trança.»
Ramón Gómez de la Serna
In: Greguerías / trad. Jorge Silva Melo. Lisboa: Assírio & Alvim, 1998

Para APS e HMJ.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Luís:

Miguel Torga, um homem que amava a província!

Para JAD, com o meu sorriso e à procura de paz e não guerra. Dedico-lhe este post para mostrar que não estou aborrecida. Retirei daqui porque não encontro o livro em minha casa. :)
Viva o combate salutar no qual se aprende, abaixo tudo o que leva à morte da sabedoria!
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Coimbra, 16 de Junho de 1947 – Sobretudo, não desesperar. Não cair no ódio, nem na renúncia. Ser homem no meio de carneiros, ter lógica no meio de sofismas, amar o povo no meio da retórica.


Coimbra, 5 de Abril de 1948 – Creio que não é preciso. Em todo o caso, fica aqui a declaração.
O que eu fui sempre, o que eu sou, e o que serei, é um artista, um homem e um revolucionário. Na medida em que sou artista, quero um mundo onde a beleza seja o vértice da pirâmide. Na medida em que sou homem, quero que nesse mundo os indivíduos sejam livres e conscientes. E na medida em que sou revolucionário, quero que a revolução traga à tona as grandes massas, e que nunca acabe de percorrer o seu caminho perpétuo, sem estratificações e sem dogmas.

Gerês, 17 de Agosto de 1958 – Sou, na verdade, um geófago insaciável, necessitado diariamente de alguns quilómetros de nutrição. Devoro planícies como se engolisse bolachas de água e sal, e atiro-me às serranias como à broa da infância. É fisiológico, isto. Comer terra é uma prática velha do homem. Antes que ela o mastigue, vai-a mastigando ele. O mal, no meu caso particular, é que exagero. Empanturro-me de horizontes e de montanhas, e quase que me sinto depois uma província suplementar de Portugal. Uma província ainda mais pobre do que as outras, que apenas produz uns magros e tristes versos…


Coimbra, 15 de Outubro de 1963 – Quase a seguir um ao outro, dois fanatismos de pólos opostos a baterem-me à porta. Combati-os com igual denodo, embora o de raiz liberal arregalasse os olhos de espanto à medida que se via contrariado. Não era eu habitante da margem esquerda do rio das ideias? Que significava, pois, semelhante reacção? Isto apenas: a impossibilidade que sempre tive de aceitar como bom do lado de cá o que reprovo do lado de lá. Acredito em certos princípios, mas sem a cegueira dos iluminados. No auge da maior paixão, a lucidez corta-me as asas. E caio envergonhado dos pínacros da certeza no raso chão da dúvida. Daí a minha real incapacidade de adesão a igrejas de qualquer natureza. Saí da religiosa em que fui criado e da literária em que entrei um dia, por motivos idênticos: faltava-me o ar naqueles fechados ambientes de ortodoxia. Na altura, tentei justificar logicamente o meu procedimento. Mas as razões que se dão para certos actos é o que deles menos importa. Abandonei as duas confrarias, e nunca mais entrei em nenhuma. Isto, sim, diz tudo. Significa que o meu espírito, embora sedento de absoluto, como sempre o conheci, se recusa encontrá-lo em qualquer prisão dogmática, e porfia em descobri-lo no descampado inquieto da liberdade crítica.. .

S. Martinho de Anta, 23 de Dezembro de 1982 – Cá estou mais uma vez cingido à minha natureza profunda. Vestido como qualquer camponês e a sentir-me bem dentro desta pele terrosa, cavo o quintal, arranco silvas, podo roseiras, racho lenha. E converso com gente do meu agro que me vem visitar ou consultar, gente que nunca me leu, nem faz ideia do que é ser poeta, que fala de trivialidades e quer ouvir respostas triviais. Alimento como todo o meu ser essas conversas intermináveis, feitas de tudo e de nada, e quando elas acabam retomo a enxada de boa consciência, na paz de quem compreendeu e foi compreendido. Sabe bem compartilhar da condição comum. Lá em baixo sou uma ficção entre ficções; aqui sou uma criatura entre criaturas.

Miguel Torga, Passagem pelo Cárcere, in O Quinto Dia da Criação do Mundo, Coimbra, 1974.

Para JAD, com amizade!

A Visita - 2!

Ontem o Primeiro Ministro José Sócrates referiu a importância desta visita papal neste momento de crise.
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"O primeiro-ministro José Sócrates afirmou hoje aos jornalistas que a “importantíssima” visita de Bento XVI “distingue” e “honra” Portugal.
(...)Esta é uma “visita que nos distingue e nos honra”, afirmou o primeiro-ministro, José Sócrates, à chegada ao Terreiro do Paço onde hoje se celebrou a eucaristia. (...)
Questionado sobre a importância da vinda do papa num momento em que o país atravessa dificuldades financeiras e económicas, José Sócrates considerou positivo o impacto das palavras deixadas pelos responsáveis religiosos em geral".

No Público 11 de Maio 2010

Vale mais ser ou parecer?

Riber: Berlusconi

ainda para A. P. S.

Será que agora se faz luz!

Papa evoca Centenário da República


Por favor, não sejam mais papistas que o Papa!

Bento XVI evocou as comemorações do Centenário da República portuguesa no primeiro discurso que proferiu em território nacional, ainda no Aeroporto de Lisboa, sublinhando a importância da colaboração entre Igreja e Estado.

«A viragem republicana, operada há cem anos, abriu na distinção entre a Igreja e o Estado, um espaço novo de liberdade para a Igreja», disse o papa.

«Só agora me foi possível aceder aos amáveis convites do senhor Presidente e dos meus irmãos bispos para visitar esta amada e antiga Nação, que comemora no corrente ano um século da proclamação da República», disse Bento XVI, após agradecer o acolhimento recebido no aeroporto de Figo Maduro.

Pode conferir aqui.

Livros de cozinha - 30

Aqui há tempos, o Luís falou do programa de Nigella Lawson na SIC-Mulher. Na semana passada passei por um desses programas e estive a vê-lo. Nele ela apresentou a receita Anglo-italian trifle que pode ver em: http://www.nigella.com/recipe/recipe_detail.aspx?rid=313
No final, ela falou de três livros que consulta frequentemente: um de Jane Grigson (de que falarei amanhã), os Classic desserts e um de cozinha italiana (de que não recordo o título, mas tenho pena).

Em Portugal foram publicados este ano dois livros de Nigella:


Porto: DK: Civilização, 2010
€25,00

Delícias de Nigella inclui algumas das receitas apresentadas no programa Nigella Bites. O livro tem secções dedicadas a Pequenos-almoços tardios e a Jantares diante da TV.


Porto: DK: Civilização, 2010
€25,00

Em Na cozinha com Nigella, tradução de Nigella Express que vendeu mais de 1 milhão de livros no Reino Unido em menos de um ano, encontra receitas apetitosas, rápidas de preparar e fáceis de seguir.

Outros títulos de Nigella, publicados por Chatto and Windus: