Prosimetron

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sábado, 18 de outubro de 2008

Camille Claudel


Auguste Rodin - «Camille au bonnet»
terracota, ca 1884
Paris, col. Musée Rodin

Camille Claudel, escultora francesa, discípula de Rodin, com quem teve uma ligação amorosa, nasceu em Fère-en-Tardenois (França), em 8 de Dezembro de 1864, tendo falecido num manicómio, em Paris, em 19 de Outubro de 1943.



Camille Claudel - «La valse» ou «Les valseurs», bronze, 1905
A escultura original foi executada entre 1889 e 1893 e o seu paradeiro é desconhecido. A que se apresenta, uma das catorze edições executadas, é de 1905 e encontra-se em
Poitiers, col. Musée Saint-Croix

«Ce ne sont plus deux danseurs nus lourdement accouplés mais un gracieux enlacement de formes superbes balancées dans un rythme harmonieux au milieu de l'enveloppement tournoyant des draperies. Ah ces draperies sont bien frêles... Melle Claudel a voulu sacrifier le moins de nu possible et elle a eu raison. Mais elles suffisent cependant à voiler certains détails trop visiblement réalistes et à indiquer en même temps le caractère du sujet. Cette écharpe légère qui se colle aux flancs de la femme, laisant nu tout le torse, un torse admirable renversé gracieusement comme pour fuir un baiser, se termine en une sorte de traîne frissonnante. C'est comme une gaine déchirée d'où semble sortir brusquement une chose ailée! Ce groupe si beau, d'une originalié si saisissante,d'une si puissante exécution, gagnerait beaucoup à être transcrit en marbre. Melle Claudel est une artiste de très grand talent.» (Armand Dayot, 1892, cit. in Camille Claudel & Rodin: la rencontre de deux destins. Paris: Musée Rodin, Hazan, [...], 2005, p. 113)

«Elle [Camille Claudel] a su faire de cette idylle, un poème persuasif et charmant ou qui sait? un peu de son âme, un peu de son coeur l'ont miraculeusement inspirée.» (Mathias Morhardt, 1898, cit. in Camille Claudel: catalogue raisonné. 3ème ed. Paris: Adam Biro, 2001, p. 116)


Camille Claudel - «Auguste Rodin»
bronze, 1892
Paris, col. Musée Rodin

No ano passado, a obra de Camille Claudel foi objecto de uma grande exposição. Espreite-a em:
http://www.musee-rodin.fr/welcome.htm
http://www.camilleclaudel.com.br/

O génio de Oscar - 2 : Sobre biógrafos...

Every great man nowadays has his disciples, and it is always Judas who writes the biography.

S. Lucas - 18 de Outubro

- São Lucas no Livro de Horas do Duque de Berry
- São Lucas pintando a Virgem, Guercino.

Dia 18 de Outubro é o dia reservado a São Lucas ( séc. I D.C.) no calendário católico. Segundo a tradição, foi este médico de formação, companheiro de S. Paulo nas viagens de conversão, o autor do Evangelho de S. Lucas . É o santo protector dos pintores, pois também segundo a tradição terá sido um dos primeiros pintores cristãos. Daí as guildas medievais de pintores com o seu nome e a Accademia di San Luca em Roma.

Biografias, autobiografias e afins - 1


Muita da produção romanesca de Jean d' Ormesson é autobiográfica, inspirada numa vida intensa, mas este recente Qu' ai-je donc fait ? ( publicado na Robert Laffont), é o que mais se aproxima de umas memórias. Ormesson revela segredos de família, fala sobre as suas opções políticas e as suas crises existenciais.

Hoje na Byblos

No âmbito das Tertúlias Byblos , dedicadas este mês ao romance histórico, realiza-se hoje mais uma sessão conduzida pelos escritores Ana Cristina Silva e Paulo Moreiras.
É às 18h30 na Livraria Byblos, Rua Carlos Alberto Mota Pinto, 17 ( Amoreiras ) .

As minhas músicas - 26 : Los poetas andaluces

Lembram-se dos Aguaviva? Aqui estão nesta bela evocação dos poetas andaluzes. O ano é 1975, e por cá o Verão ainda era mais quente do que na cálida Andaluzia...

As minhas músicas - 25 : No woman, no cry

Pois é, também gosto de reggae. Este No woman, no cry, foi o primeiro grande sucesso internacional de Bob Marley, e faz parte do álbum Natty Dread de 1975. Outros grandes álbuns e sucessos se seguiriam até à morte prematura de Marley em 1980 devido a um melanoma. Sem dúvida, o jamaicano mais famoso da História.

«O Salão de Música», de Satyajit Ray

Hoje na Cinemateca, às 22h00... a não perder!
«'O Salão de Música' é um dos filmes mais belos e célebres do grande mestre indiano e foi também o filme através do qual toda uma geração de espectadores europeus o descobriu. Realizado com o habitual requinte de Ray nresta fase da sua obra, o filme conta a história de um aristocrata sem descendência, que desbarata a fortuna realizando sumptuosos espectáculos musicais privados. À beira da ruína, prepara uma derradeira soirée, destinada a ultrapassar em extravagância todas as anteriores. O filme contou com alguns dos mais notáveis músicos e dançarinos indianos da época.» (do programa da Cinemateca). A música é do próprio Satyajit Ray.



Para saberem mais sobre este cineasta, consultem:
http://www.satyajitray.org/

18 de Outubro - 1

Melina Mercouri
Melina Mercouri nasceu em 18 de Outubro de 1920, em Atenas. Actriz, cantora e activista política, foi nomeada Ministra da Cultura do seu país em 1981.

Vejamos e oiçamos uma canção do filme «Nunca ao domingo», de Jules Dassin: «As crianças do Pireu»

18 de Outubro - 2

Chuck Berry
O guitarrista Chuck Berry, por muitos considerado o «inventor» do rock and roll, nasceu em Saint-Louis, no Missouri (EUA), em 18 de Outubro de 1926.


18 de Outubro - 3

Manuel Teixeira Gomes
O escritor Manuel Teixeira Gomes, Presidente da República entre 1923 e 1925, morreu em Bougie (actual Bejaia), na Argélia, em 18 de Outubro de 1941. Vivia exilado desde 1925.

Marques de Oliveira – «Manuel Teixeira Gomes»,
óleo sobre tela, 1881
Porto, col. Museu Nacional de Soares dos Reis

DOIS EXCERTOS:

Junho, 14 [1895]
É um verdadeiro enigma o modo como se mantém o café do Hotel Internacional, conhecido geralmente pelo «Aquário dos imbecis». Os frequentadores, que são pouco numerosos, nada tomam: vão lá para conversar e ver a gente que passa a caminho da Avenida.
Um exemplo bem frisante: uma vez ouvi o barão da Regaleira dizer ao criado: - «Olha, Paço, se alguém procurar por mim dize que não tardo nada; vou ali a casa tomar café e já volto…»* Um freguês fixo, e invariável nas bebidas fortes, complicadas e caras, é o grandíssimo borrachão do encarregado de negócios da Rússia, mas esse nunca paga coisa a conta do hotel, onde ocupa há mais de um ano um belíssimo aposento.
Nisto pensava eu, muito repimpado em cómodo cadeirão, à porta do «aquário», esperando pelo Fialho, a quem dera rendez-vous, quando ele me aparece mais enfeitado do que uma noiva de aldeia. O que el trazia na gravata não era alfinete mas um autêntico broche; a abotoadura do colete de vidro colorido; e a cadeia do relógio toda resplandecente de pedraria falsa. A abordagem foi algo penosa. Não resisti a perguntar-lhe se eram aquelas as jóias com que a Emília das Neves representara «Joana a louca», e ele, todo abespinhado, faz menção de se ir embora. Mas serenei-o como pude e ficou. Passámos o dia juntos, alegres e descuidados como sucedia há dez anos; ele, despido de pompas literárias, estava singularmente feliz nos seus ditos, e eu ri de gosto vezes sem conto. […]
In: Regressos. 2.ª ed. Lisboa: Seara Nova, 1935
* Devíamos seguir este método: sentarmo-nos na Brasileira e ir tomar café à Benard.

Tunes, 7 de Janeiro de 1927
Meu caro Amigo [Ferreira Mira]:
Quando me soltei de Belém, para voltar às minhas antigas peregrinações, foi no propósito de me remeter ao mais absoluto e intangível silêncio. Não tencionava visitar lugares que tivesse visto antes, e a comparação das impressões actuais e passadas desdobrava-me suficientemente, para que eu pudesse manter comigo esse diálogo, a que tanto se prestam as viagens, e que na maioria dos casos torna apreciável a presença de um companheiro, ou a correspondência seguida com um amigo. Supunha-me suficientemente apetrechado para a existência solitária. O meu amor à solidão tem de particular que de forma alguma me exalta ou excita o espírito revolucionário. Dizia um filósofo da antiguidade que viver «sozinho» é próprio de um deus ou de uma fera. Graças ao progresso eu julgo que se pode viver contente na solidão, sem ser deus ou fera. Mesmo o espírito subversivo, hoje, pela complicação da vida actual, precisa, para se desenvolver e fortificar, da cooperação de muitos indivíduos –, aliás não cria asas e morre gorado, como o pinto na casca. […]
In: Miscelânea. Venda Nova: Bertrand, 1991, p. 39-40

18 de Outubro - 4

Manuel Vásquez Montalbán
O jornalista e escritor espanhol Manuel Vásquez Montalbán faleceu, de ataque cardíaco, em Banguecoque, em 2003. Foi o criador do detective Pepe Carvalho, protagonista de alguns dos seus livros policiais. O escritor que era um apreciador de comida, característica que transmitiu ao seu personagem, publicou alguns livros de gastronomia e de cozinha.

Foi deste livro que retirei esta receita valenciana:

ARROZ NEGRO
para 4 personas:
400 g de arroz
1 kg de sepiones de playa
1 dl de aceite de oliva
1 ñora (pimiento rojo, redondo y seco)
perejul, limón, 1 cabeza de ajo
3 tomates maduros

Limpiar los sepiones y ponerlos a cocer sin quitarles la tinta con el agua justa. Seguidamente, poner la paella al fuego con el aceite. Una vez caliente, freír la ñora y llevarla a un mortero. Majarla muy fina junto con los ajos, los tomates, aceite, limón y perejil, para obtener un majado de salmorreta.
En el mismo aceite, incorporar unas cucharadas del majado y el arroz, y sofreír todo un poco. Añadir también los sepiones cocidos con su caldo. Sazonar todo con sal y azafrán y dejar cocer de 18 a 20 minutos. Servir acompañado de alioli.

Depois de treinarem o espanhol, mãos à obra.

Veja mais sobre este escritor em: http://www.vespito.net/mvm/

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Povo que lavas no rio

Outro poema que ficará para sempre na história.

É uma canção de todos nós...

Povo que lavas no rio
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão
Há-de haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tu vida não

Fui ter á mesa redonda
Beber em malga que esconda
Um beijo de mão em mão
Era o vinho que me deste
Água pura, fruto agreste
Mas a tua vida não

Aromas de urze e de lama
Dormi com eles na cama
Tive a mesma condição
Povo, povo eu te pertenço
Deste-me alturas de incenso
Mas a tua vida não


Pedro Homem de Melo

Estrela da tarde

Sem dúvida um dos mais belos poemas de Ary dos Santos.

1976...Que saudades de tudo

Estrela da tarde
Era a tarde mais longa de todas as tardes
que me acontecia
eu esperava por ti, tu não vinhas
tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca,
tardando-lhe o beijo, mordia
quando à boca da noite surgiste
na tarde tal rosa tardia
quando nós nos olhamos tardamos no beijo
que a boca pedia
e na tarde ficámos unidos ardendo na luz
que morria
em nós dois nessa tarde em que tanto
tardaste o sol amanhecia
era tarde de mais para haver outra noite
para haver outro dia.

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza.

Foi a mais bela de todas as noites
Que me aconteceram
Dos nocturnos silencios que à noite
De aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois
Corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa
De fogo fizeram.
Foram noites e noites que numa só noite
Nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites
Que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles
Que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto
Se amarem, vivendo morreram.

Eu não sei, meu amor, se o que digo
É ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo
E acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste
Dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida
De mágoa e de espanto.
Meu amor, nunca é tarde nem cedo
Para quem se quer tanto.

António Ramos Rosa

Quando te vejo triste
porque tudo está sob a cinza e o pó
porque os fundamentos da tua
[construção oscilam
e as portas de veludo da solidão amada
estão perigosamente abertas sobre
[um mundo hostil
tremo contigo entre as sombras movediças
como se nos tivessem devorado
[o ouro vivo das nossas vidas
ou como se o alento que quer durar
[se detivesse nos nossos peitos
Ambos desejaríamos o sossego puro
[para imergir no elemento simples
em que a dor se consuma como
[a água no silêncio
e inteiramente soa na pedra do destino
porque tudo o que amamos se apagou
[sob o arco do tempo
e renasceu na juventude da sombra
[e na consumada lucidez
de uma tristeza imaculada que procurou
[sempre o lábio da luz
e nele ardeu como um beijo que esquecendo
[deslizou para o seu princípio amante

- António Ramos Rosa, in Cem poemas portugueses do adeus e da saudade, Terramar,2002.

António Ramos Rosa nasceu em Faro, a 17 de Outubro de 1924.

Sobre a crise - 3

" (...) Pior do que isso, a gente do poder e a que mandou na economia e nas finanças durante 30 anos pede «confiança». É preciso «confiança» ; a «confiança» é essencial; a «confiança» é, garantidamente, a redenção. Mas «confiança» em quê e em quem ? Não com certeza num sistema que se derretou e numa ordem global insustentável e absurda. Não num sistema «regulamentado» , na essência, por quem dirigiu este. E em quem? Nas virtudes de entidades como o «povo» , a nação - e o contribuinte? Também não. A «confiança» que se pede é precisamente entre os mesmos beneméritos da política e das finanças, que organizaram e provocaram o desastre. Para os « negócios » recomeçarem, tranquilamente, como dantes. Só que desta vez não irá ser tão fácil."

- Vasco Pulido Valente, Mistérios da crise, PÚBLICO de hoje.

Sobre a crise - 2

" (...) os mercados financeiros entraram, nos últimos anos, num ciclo que não pode ser correctamente definido como correspondendo a uma "economia de casino" ou ao "reinado da ganância" ( sempre houve ganância no mundo dos negócios, como sempre houve atracção pelo abuso de poder no mundo da política), mas deve antes ser analisado à luz da quebra de uma das regras que permitiu o sucesso do capitalismo : a de que se deve trabalhar duro e dar tempo ao tempo. Ou, utilizando uma formulação mais sofisticada, a regra da "compensação diferida", isto é, a regra de que não devo esperar resultados imediatos antes estar preparado para os receber mais tarde, ou mesmo para só os receberem os meus filhos.
Estas regras implicam princípios éticos que não se coadunam nem com a ideia do sucesso "já" (...) nem com a pressão para obter bons resultados trimestralmente de forma a agradar aos mercados bolsistas. Neste novo mundo misturaram-se yuppies deslumbrados com a riqueza ao virar da esquina, investidores incapazes de compreenderem a cultura e os planos a médio (ou longo) prazo das empresas e consumidores que, perante um mundo de facilidades onde todos pareciam ganhar, também gastaram ontem o que não sabiam se iam ter amanhã. (...)

- José Manuel Fernandes, Editorial, PÚBLICO, hoje.

Franz Kafka : Aforismos - 4

A morte está diante de nós, mais ou menos como uma imagem da batalha de Alexandre na parede da sala de aula. O importante é escurecer ou mesmo apagar essa imagem com os nossos actos, ainda nesta vida.

-Franz Kafka, aforismos, Ulmeiro, 2001.

As minhas músicas - 24 : Walk on the wild side

Peço desculpa pela qualidade do vídeo, mas escolhi este por ser uma actuação de Lou Reed exactamente no ano em que gravou este tema- 1974. Infelizmente, actuou recentemente em Lisboa na mesma noite que o Leonard Cohen, pelo que ainda não foi desta que ouvi Lou Reed ao vivo...

As minhas músicas - 23 : Superstition

Um grande êxito de Stevie Wonder, voz de que gosto bastante, datado de 1973.

Chopin

Fotografia de 1848
Fryderyk Chopin morreu em Paris em 17 de Outubro de 1849




Sonata para piano "Marcha Fúnebre", opus 35,nº2

Chiquinha Gonzaga


Francisca Edwiges Neves Gonzaga, mais conhecida como Chiquinha Gonzaga, (Rio de Janeiro, 17 de Outubro de 1847 — Rio de Janeiro, 28 de Fevereiro de 1935) foi uma compositora e pianista brasileira.
Foi a primeira “chorona”, primeira pianista de choro, autora da primeira marcha carnavalesca (Ô Abre Alas, 1899) e também a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil.
Filha do general do Exército Imperial José Basileu Neves Gonzaga e da mulata Rosa Maria de Lima, aprendeu música. Desde cedo frequentava rodas de lundu, umbigada e outras músicas populares típicas dos escravos.



Pixinguinha e sua turma de Choro

Aos 16 anos casou por imposição familiar com um oficial da Marinha, de quem se separou por ele a proibir de fazer música e a manter quase sequestrada.
Ganhou a vida como pianista em casa de música, ao mesmo tempo que compunha música para operetas e teatro de revista e polcas, valsas, tangos, cançonetas e choro, música que reunia géneros musicais europeus e ritmos africanos,de que as composições mais conhecidas são de Pixinguinha. Teve uma vida amorosa atribulada e escandalosa para os padrões da época. Foi bandeira do abolicionismo e do republicanismo e uma feminista avant la lettre.
Fontes: Wikipédia e Genea



Choro nº 1, de Heitor de Villa Lobos, por David Russell

Antes dos Pink Floyd...

No ano anterior à canção «Money» dos Pink Floyd, Liza Minnelli
e Joel Grey interpretaram «Money» no filme «Cabaret», de Bob Fosse:

Muito a propósito nos dias que correm...

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Viagens...

Como se falou aqui no blogue de Stefan Zweig, lembrei-me de colocar uns minutos de «Carta de uma desconhecida», belíssimo filme de Max Ophuls, com Joan Fontaine e Louis Jourdan, baseado num conto de Stefan Zweig. Rodado em 1948, foi estreado em Lisboa no ano seguinte.


E uns cartazes:


Obama ou McCain? Se o mundo pudesse votar...

O voto planetário... Com um agradecimento ao Pedro Elias de Oliveira.

PENSAMENTO DO DIA

Porque gostamos de contemplar o mar, o céu ou os vastos espaços desertos? Não será porque isso nos liberta das quotidianas e estreitas focalizações e fixações da atenção nos pensamentos, problemas e aspectos parciais da realidade?... Não será porque isso nos liberta de nós?

- Paulo Borges, A cada instante estamos a tempo de nunca haver nascido- aforismos, Zéfiro, 2008.

16 de Outubro de 1793 : Maria Antonieta

- Maria Antonieta foi guilhotinada ao meio-dia do dia 16 de Outubro de 1793 na actual Praça da Concórdia, então Praça da Revolução.

" (...) Maria Antonieta é um dos mais belos exemplos desse heroísmo involuntário.
Com que arte, com que engenho nos episódios, sob que vasta cena, a História construíu o seu drama em roda desta natureza vulgar, com que ciência ela fez nascer os contrastes em volta dessa personagem central que, desde o princípio tão pouco se prestava a isso!
Com manha diabólica, começou por encher essa mulher de favores... Dá à criança, para morar, um palácio imperial, à adolescente uma coroa, à mulher jovem prodigaliza generosamente todos os dons do encanto e da riqueza, concedendo-lhe também um coração que não se preocupa com o valor desses presentes. Durante anos, acarinha e anima esse ente leviano, até que o torna cada vez mais inconsciente, fazendo-lhe quase perder a razão. Mas se o destino conduziu rápida e facilmente essa mulher ao mais alto grau de felicidade, foi só para a deixar caír, em seguida, com a mais requintada lentidão e crueldade.
Com um realismo melodramático, esta tragédia põe em presença os contrastes mais violentos ; arranca Maria Antonieta de um palácio com cem salões, e atira-a para uma prisão miserável; do coche doirado para o carro penitenciário; do trono para o cadafalso; arremessa-a do luxo para a indigência; de uma mulher , que goza da estima geral e é aclamada por todos, faz um objecto de ódio sobre o qual se abate a calúnia; em resumo, arrasta-a sempre cada vez mais para baixo, sem piedade, até ao supremo abismo.
(...) a desgraça não cessa de martelar a alma mole e fraca de Maria Antonieta, antes de ter obtido dela a firmeza e a dignidade, e de lhe fazer surgir toda a grandeza ancestral, guardada bem no seu íntimo. Esta mulher maltratada, que nunca teve curiosidade de si própria, percebe enfim, com horror, no meio dos seus tormentos, a transformação que se opera justamente no instante em que o seu poder real acaba: sente nascer em si qualquer coisa de grande e de novo, que não seria possível sem essa prova.
« É na desgraça que a gente sente melhor quem é. » Estas palavras, altivas e comovedoras, jorram da sua boca e espantam. Um pressentimento diz-lhe que é justamente devido à dor que a sua pobre vida ficará, como exemplo, para a posteridade. E, graças a esta consciência de um dever superior a cumprir, o seu carácter engrandece-se para além de si próprio. Pouco antes da forma humana se quebrar, a obra-prima imperecível está concluída, pois na última hora da sua vida, mesmo na última hora, Maria Antonieta, natureza mediana, atinge a expressão trágica e torna-se igual ao seu destino. "

- Stefan Zweig, Maria Antonieta ( Introdução)

Também é pelas páginas, de que transcrevi o final, da introdução à obra, que Zweig continua a ser, para mim, o melhor biógrafo da última rainha do Ancien Régime. Tendo lido várias biografias de Maria Antonieta, umas melhores do que outras, é esta a minha biografia de referência, tantos anos depois de a ter lido pela primeira vez numas férias de Verão em casa dos meus avós paternos. Aliás, foi desse exemplar que transcrevi as linhas supra, pelo que fica explicado o uso de algumas palavras hoje menos correntes. É o exemplar do meu avô, por ele assinado, e que nunca devolvi... É a edição de 1958, da Livraria Civilização Editora, com tradução de Alice Ogando.

Sobre a crise - 1

"(...) Ao longo das últimas décadas fomos assistindo a uma verdadeira metamorfose moral na liderança do mundo ocidental. Onde antes existia um sentido de responsabilidade social e até familiar ( as grandes fortunas eram geridas por dinastias de sangue com um nome a defender), voltado para a acumulação no longo prazo, reina hoje uma irresponsabilidade e um anonimato absolutos. Reina o princípio do lucro máximo, sem olhar a consequências sociais, morais, ambientais e até económicas. Estes homens jamais se suicidarão, pois há muito que perderam o quadro de valores que acompanha a decência ética. Como sugere Fareed Zakaria, numa obra já com cinco anos, os actuais multimilionários seriam incapazes de ter a coragem de empresários riquíssimos como John Jacob Astor, ou Benjamin Guggenheim, que pereceram no naufrágio do Titanic, respeitando o código de honra de «mulheres e crianças primeiro». (...) "

- Viriato Soromenho Marques, Já ninguém morre em Wall Street, VISÃO, 16/10.

As minhas músicas - 22: Money

Quanto aos Pink Floyd, é sempre uma escolha difícil. Mas fica este Money daquele que é um dos melhores álbuns deles e de toda a década- The dark side of the moon, 1973.

As minhas músicas - 21: La petite fille de la mer

Uma composição de Vangelis de que gosto muito. La petite fille de la mer é de 1973, do álbum L' apocalypse des animaux. Este grego visionário, musicalmente autodidacta, foi um pioneiro no uso de sintetizadores. Na década seguinte, continuou a sua fama a crescer com bandas sonoras inesquecíveis- Chariots of Fire, Blade Runner, Missing, Mutiny on the Bounty.
É também dele o tema inicial de Cosmos, a grande série documental feita por Carl Sagan, lembram-se?Fica aqui no blogue esta versão para piano, menos tecnológica mas também um bom exemplo das muitas transcrições que se fizeram .

Garota de Ipanema

Uma das músicas mais importantes da bossa nova, cantada e tocada por um dos principais criadores desse novo ritmo (João Gilberto)

na imagem Caetano Veloso que também canta...

outra versão com o saudoso Tom Jobim

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Outro segredo... sobre o chá

Cá vai mais uma dose de chazada...
Reservar um bule exclusivamente para preparar o chá preto de forma tradicional (nada de saquetas) e, no fim, apenas passá-lo por água. Com o tempo vai o bule vai escurecendo por dentro dando ao chá aquele gostinho especial. Segredo de chinês.

O segredo do chá inglês...

– Ah, aí está uma coisa que eu sei fazer – disse eu, toda sorridente. – Faço um óptimo chá. O grande segredo é escaldar o bule.
– Escaldar o bule – interrompeu Herr Rat […]. - Para que é que se escalda o bule? Ah! Ah! Essa é boa! Que eu saiba não é costume comer o bule.
Fixou em mim os seus frios olhos azuis com uma expressão que sugeria mil invasões para daí a pouco.
- É então esse o grande segredo do vosso chá inglês? Afinal basta escaldar o bule.

Katherine Mansfield
In: Numa pensão alemã. Trad. de Ana Maria Almeida Martins. Lisboa: Difel, 1995, p. 12

Katherine Mansfield nasceu em 14 de Outubro de 1888, em Wellington, na nova Zelândia. Há 120 anos.
E desculpem se vos estou a dar uma grande chazada.


Columbano - «A chávena de chá», 1898
Lisboa, col. Museu do Chiado

Juliette Gréco canta amanhã em Lisboa

Sous le ciel de Paris

Um poeta sírio



ONTEM…

1.
Ontem pensei
no meu amor por ti.
Recordei
as gotas de mel nos teus lábios
e lambi o açúcar
das paredes da minha memória.

2.
Por favor,
respeita o meu silêncio,
o silêncio é a minha melhor arma.
Escutaste as minhas palavras
quando fiquei silencioso?
Sentiste a beleza do que disse
quando não disse nada?

Nizar Kabanni
In: Qual é a minha ou a tua língua?: Cem poemas de amor de outras línguas / org. Jorge Sousa Braga. Lisboa: Assírio & Alvim, 2003, p. 33

Breve nota ainda sobre o chá

Pois é Miss Tolstoi, de facto seria interessante fazermos daqui nascer um clube de cházistas...
Se visitarem a First Flush não saiam sem trazer chá Argolas de Jasmim (indicado para momentos especiais), Chá dos Imperadores (ainda utilizado em cerimónias oficiais) ou o chá fumado Lapsang Souchong, cujo saber exótico vai dar um toque mais sofisticado a um qualquer prato de carne. Estas sugestões pertencem à gama dos chás verdes.

Cardoso Pires

A Casa da Comarca da Sertã dedica o fim do próximo dia 22 de Outubro a José Cardoso Pires

Babar, Harry Potter e Companhia


Abriu ontem uma exposição, na Biblioteca Nacional de França, intitulada «Babar, Harry Potter et Compagnie: Livres d'enfants d'hier et d'aujourd'hui», que pode ser vistada até 11 de Abril de 2009. Enquanto não vou, espreitei-a: http://expositions.bnf.fr/livres-enfants/index.htm

Friederich Nitzsche, nasceu em Röcken, Alemanha, em 15 de Outubro de 1844 e morreu Weimar em 25 de Agosto de 1900).Filósofo dos mais importantes do século XIX, escreveu inúmeros livros onde expõe os seus conceitos filosóficos, entre os quais o mais conhecido é “Assim falava Zaratustra”, em que declara a morte de Deus: “Noutros tempos blasfemar contra Deus era a maior das blasfémias; mas Deus morreu, e com ele morreram tais blasfemos. Agora, o mais espantoso é blasfemar contra a terra, e ter em maior conta as entranhas do inescrutável do que o sentido da terra."

"Nietzsche e Bernanos, este último um crente, enquanto que o primeiro proclama a morte de Deus, são autenticamente não-conformistas. Ambos, um em nome de um futuro pressentido, o outro invocando uma imagem idealizada do Ancien Régime, dizem não à democracia, ao socialismo, ao regime de massas. Eles são hostis ou indiferentes à elevação do nível de vida, à generalização da pequena burguesia, ao progresso da técnica. Eles têm horror da vulgaridade, da baixeza, difundida pela práticas eleitorais e parlamentares".

Raymond Aron, “ O Ópio dos Intelectuais”

Rembrandt no Museu do Prado

Artemisa, 1634, Museu do Prado

Inaugurou hoje no Museu do Prado, em Madrid, uma exposição de trinta e cinco óleos e cinco gravauras de Rembrandt, idos de vários museus e colecções de todo o mundo, para acompanhar a única tela do pintor holandês existente no acervo do museu madrileno, Artemisa, de 1634. Serão expostos, para ajudar a compreender o contexto criativo do pintor, seis quadros de Rubens, Ticiano, Veronese e Ribera, propriedade do Museu.

Terça a domingo, das 9 às 20 horas, até 6 de Janeiro. Preço do bilhete a 8 euros.

E mais humor na campanha norte-americana

Aqui fica este momento musical dedicado à Sra.Palin. Agradeço ao Richard mais esta contribuição para o blogue.

A história do chá


Também pertenço ao clube dos apreciadores de chá. Por isso aqui vai o meu contributo:

"O chá nasceu na China e segundo a lenda, através de uma casualidade. Em 2737 a.C. o Imperador Shen Nung sentou-se debaixo de uma árvore para descansar um pouco da jornada e beber uma taça de água, que mandou ferver pois adquirira, na altura, modernos conhecimentos de medicina e bebia água fervida para evitar as contaminações. No momento em que lhe traziam a taça de água fervida uma ligeira brisa soprou e umas folhas caíram na água, dando-lhe uma cor e um perfume delicado. O Imperador bebeu e deleitou-se com a nova e inesperada beberragem. A árvore era um chazeiro selvagem. Com cinco milénios de história, o chá foi desde sempre considerada uma bebida propícia à meditação, sendo uma das bases do pensamento Taoísta do qual surgiu o Budismo Zen. No séc. VII, pela mão do padroeiro do chá Lu Yu, que redigiu "O Clássico do Chá", considerado o primeiro Código do Chá, Lu Yu escreve que ao serviço do chá descobriu "a mesma ordem e a mesma harmonia que rege todas as coisas". "O Clássico do Chá" ficou para sempre inscrito na vida artística, intelectual e filosófica chinesa. Para os chineses o "Tchadô" - a Via do Chá "permitia aos homens alcançar a harmonia na verticalidade: o Céu, a Terra e o Homem. O chá chegou ao Japão através de monges budistas que tinham estudado nos mosteiros chineses a seita do Chan (Zen é a tradução japonesa). Um dos discípulos de Takeno Jô-ô, monge budista, Sem Rikkyû, sendo também um dos maiores devotos do "Tchadô", continuou e aprofundou a filosofia de vida do seu mestre e elevou-a a obra de arte. Baseada nos quatro princípios do "Tchadô": Wa, significa harmonia; Kei, respeito; Sei, pureza e Jaku, tranquilidade. Ainda hoje são eles que regem a famosa Cerimónia do Chá Japonesa. Ao longo da História, o chá foi protagonista de grandes aventuras marítimas na famosa Rota do Chá, onde navegavam os conhecidos "Clippers", tendo sido palco de manobras estratégicas de diferentes potências para adquirirem o controlo da distribuição e comércio do chá. O chá foi também protagonista em revoltas políticas, como a Boston Tea Party (séc. XVIII) que foi considerado o primeiro acto de guerra para a conquista da independência dos EUA."

Este texto foi retirado do site da First Flush, uma loja especializada em chás de todo o mundo que vale a pena conhecer. First Flush é o termo usado para definir um chá de elevada qualidade em termos de aroma e sabor, que pertence a uma "colheita fina" feita após as primeiras chuvas da Primavera. Sempre que em qualquer chá estiver inscrita a denominação Pekoe significa que foi feito a partir da primeira folha do chazeiro e do gomo terminal da planta. Pekoe, termo ocidentalizado de Pak-ho, que quer dizer "cabelo de recém-nascido".

Sobre impérios...

Aqui fica um mui interessante artigo publicado nessa bíblia do jornalismo estadunidense que é o New York Times, sobre os declínios dos Impérios, de Roma aos E.U.A.. E é um artigo que dará alguma luta aos eruditos autores e leitores deste blogue...



http://www.nytimes.com/2008/10/12/opinion/12dowd.html?_r=1&oref=slogin

PENSAMENTO DO DIA

Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor. Há o amor. Que tem que ser vivido até à última gota. Sem nenhum medo. Não mata.

- Clarice Lispector, A DESCOBERTA DO MUNDO, Nova Fronteira, 1984, p.539.

Kiefer na Comporta

- Book with wings, Anselm Kiefer

Parece que é mesmo séria a intenção de Anselm Kiefer se instalar na Comporta. O grande escultor e pintor alemão, de que gosto particularmente, irá transferir a sua habitação e ateliers de Paris para a Comporta, instalando-se nos 600 hectares da Herdade do Vale Perdido. A intenção de Kiefer é também construir um centro de exposições e reconverter a antiga pedreira existente na herdade para expôr ao ar livre algumas das suas esculturas de maior dimensão.
Mais um pretexto para ir até à Comporta, se bem que não são precisos pretextos. É um oásis, especialmente enquanto Tróia ainda é um enorme estaleiro.

Mistérios de Lisboa - 3: Uma novidade

Ontem, uma novidade: António Costa comunicou que a Câmara está a estudar "procedimentos legais" para actualizar as rendas de algumas casas envolvidas nas recentes polémicas, tendo reconhecido que "há valores escandalosamente baixos". Revelou também que mais duas pessoas foram contactadas para entregarem as casas que ocupam, o que eleva o número de notificações para 20. É um começo...

O Conservatório na Assembleia


É hoje que a Assembleia da República discute a petição popular que visa a recuperação do Salão Nobre do Conservatório Nacional, inaugurado em 1881 e com o tecto pintado por Malhoa. O que é lamentável é que tenha sido necessária uma petição para este assunto.

O poder do Nobel...

Ao fazer ontem uma "ronda" pela FNAC do Chiado, detive-me na secção de literatura francesa para ver as novidades. Algumas interessantes. Mas mais interessante foi o vazio que notei numa das prateleiras alfabeticamente ordenadas. Não havia um único Le Clézio à vista. Nem um para amostra. Doris Lessing e outros menos conhecidos estão sós. Esclareceu-me uma simpática funcionária que os Le Clézio "voaram" depois do anúncio do prémio.

As minhas músicas - 20: Angie

Estes parecem ser eternos, e esta é uma balada que adoro. Do álbum Goats head soup de 1973.

As minhas músicas - 19: Papa was a rolling stone

Um grupo nascido no princípio dos anos 60, mas que em 1972 teve um dos seus maiores êxitos com esta canção que desde então já foi interpretada por muitos outros.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Quando vi Nat King Cole...

...lembrei-me destes:

The Platters - «Only You» (1955)


Paul Anka - «Diana» (1957)

Porque há amantes de chá neste blogue...



«Segundo a tradição da gente japonesa, Darumá, o grande apóstolo indiano do budismo, veio à China aí pelo começo do século VI da nossa era cristã, e em terras chinesas pregou em honra da verdade, iluminando o espírito dos povos.
«Consta que, por voluntária desistência das efémeras alegrias terreais, Darumá votou-se a passar a vida de joelhos sobre o solo pedregoso, absorto em contemplações místicas, sem mesmo permitir-se o simples regalo de dormir. [...]
«Consta mais que, em certa noite, as pálpebras se lhe cerraram de fadiga, e o bom Darumá deixou-se adormecer, para só acordar pela manhã. Então, pedindo a alguém uma tesoura ou instrumento parecido, cortou a si próprio as pálpebras indignas e arremessou-as ao solo, num gesto de despeito... As pálpebras, por milagre, enraizaram, dando nascença a um gracioso arbusto nunca visto, que medrou muito de pronto e cujas folhas, tratadas de infusão pela água quente, foram um remédio precioso contra o sono e contra o cansaço das vigílias. Estava conhecido o chá; tem pois na China a sua origem, e é coisa santa, como se acaba de provar.»
Venceslau de Morais – O culto do chá. 2.ª ed. Lisboa: Vega, 1996, p. 17-18. Com desenhos de Yoshiaki.


Sonho Americano

Os europeus (re)descobriram Nova Iorque. Com a falência da economia americana e a subida do euro, NY tornou-se na nova catedral do consumo, sobretudo para quem atravessa o Atlântico em busca das ofertas cultural e de lazer que aquela imensa metrópole tem para oferecer a custos mais atractivos. E à boa maneira americana a adaptação aos novos tempos não se fez esperar, já que uma perspectiva prática sobre a questão viu na voragem do consumo por parte dos europeus um filão a explorar. Até os mais renitentes como os snobs habitantes de Greenwich, que, durante anos, tentaram silenciar os autocarros de turistas para que estes não incomodassem o seu estilo de vida, acabaram por reconhecer os efeitos benéficos do turismo, deixando entreabertas as cortinas das casas e assim permitindo o voyeurismo a quem passa. Só nos últimos meses de Maio, Junho e Julho, o número de visitantes que passaram por NY ultrapassou os três milhões de turistas do Verão de 2007, dando assim uma ideia de como aquele se tornou num dos destinos de eleição para quem está disposto a gastar até ao último cêntimo. Aproveitando o facto da cidade ter acolhido ao longo dos últimos anos várias produções televisivas de sucesso e ciente do impacto audiovisual na vida actual que isso representa, o secretariado de Turismo de Nova Iorque incluiu nos roteiros, visitas aos cenários reais de séries como O Sexo e a Cidade e Os Sopranos. Desse modo, comer uma pizza no restaurante favorito de Tony Soprano ou comprar uns sapatos na loja preferida de Carrie ou de Charlotte são paragens obrigatórias para quem quer sentir NY mais profundamente.

Metamorfoses

As eleições nos States...

Picasso et les Maîtres

Pela primeira vez, três grandes museus de Paris agrupam as versões modernistas realizadas por Picasso a partir de obras de mestres como Velásquez, Delacroix, Van Gogh ou Manet. Até 2 de Fevereiro de 2009, o Grand Palais vai expor 210 obras vindas de várias colecções. O Museu do Louvre irá mostrar 20 variações que Picasso realizou da obra Femmes d'Alger Dans Leur Appartement, de Delacroix. Já o Museu d'Orsay vai exibir 40 peças inspiradas no Déjeneur sur l´herbe, de Manet. Uma oportunidade para comparar obras de grandes artistas com as reinvenções de Picasso.

Do mundo grego outro sol - 1 : Epigramas amorosos

- Afrodite de Rodes, séc.V A.C. , Museu de Rodes

147

Entrelaçarei o goivo branco, entrelaçarei aos mirtos
o delicado narciso, entrelaçarei os lírios risonhos
e o doce açafrão. E entrelaçarei também
o purpúreo jacinto e a rosa cara aos amantes,
para que nas têmporas de Heliodora, de perfumados anéis,
a minha coroa inunde a sua cabeleira com uma chuva de flores.

- Meléagro

216

Se amas, não deixes o teu coração afundar-se inteiramente
cheio de humildes súplicas. Pelo contrário,
mostra-te algo reservado, mantém o sobrolho
erguido, aparentando embora um olhar condescendente.
Com efeito, é próprio das mulheres desprezar os orgulhosos
e troçar das pessoas demasiado choramingas.
O melhor amante é aquele que alia as duas coisas,
que mostra condescendência associada a uma certa altivez.

- Agátias, O Escolástico

221

Até quando, dissimulando o olhar inflamado,
lançaremos um ao outro olhares furtivos?
Declaremos abertamente o nosso amor e, se alguém
se opuser aos doces laços que libertam dos desgostos e à nossa
união, o remédio será para ambos uma espada:
é mais agradável ter sempre em comum a vida ou a morte.

- Paulo Silenciário


in do mundo grego outro sol, Antologia Palatina e Antologia de Planudes, selecção, tradução e notas de Albano Martins, Edições ASA, 2002.


Sem título

Ao consultar um ficheiro de imagens a propósito dos 500 anos da Cidade do Funchal que este ano se comemoram deparei com esta maravilha e apeteceu-me partilhá-la...
Assim o dia até tem outra frescura!

Mistérios de Lisboa - 2: As casas dos artistas

No desenvolvimento do chamado escândalo das casas, vieram também à tona as casas cedidas pela autarquia lisboeta a artistas. É verdade como disse António Costa que por toda a Europa é habitual as cidades cederem espaços para que artistas neles instalem os seus ateliers. É bom para eles e é bom para a cidade. Não contesto, em geral, tal política. O que me causou perplexidade foi saber que artistas consagrados há décadas, cujas obras são transaccionadas por milhares e dezenas de milhares de euros, continuam a usufruir dos espaços municipais pagando em contrapartida rendas escandalosamente baixas.
Faz algum sentido que Lagoa Henriques ou Pedro Croft, sem ter nada contra eles pessoalmente, beneficiem de rendas quase simbólicas ? Atendendo à sua cotação como artistas, não seria justo que pagassem rendas mais consentâneas com o valor do mercado "normal" de arrendamento? É que na verdade o valor das rendas pagas por estes dois e por outros artistas estão ao nível da habitação social, e há que convir que estamos perante realidades bem diferentes.
E o que ainda me surpreendeu mais foi a arrogância com que alguns destes beneficiários lidaram com estas revelações, desde logo por exemplo as declarações de Carlos Amado.
Também no que respeita às casas cedidas a artistas, há que acabar com a casuística que imperou nas últimas décadas e regular mais objectivamente estas atribuições.

Marçal Grilo e a Educação...

Em entrevista ao EXPRESSO no passado sábado :

" A minha geração vai ficar aqui com um peso na consciência por não ter sido capaz de motivar os jovens para a educação. Houve muita euforia mas faltou isto. Não é admissível que tenhamos estas taxas de insucesso e de abandono escolar. "

Como se costuma dizer, mais vale reconhecer tarde do que nunca. Pode ser que os Magalhães ajudem na motivação...

Da caligrafia

A China apresentou à UNESCO há poucos dias a candidatura da sua caligrafia a Património Oral e Imaterial da Humanidade. Usada há quase três milénios, a caligrafia chinesa além do carácter funcional é uma expressão artística.
Justa candidatura.

As minhas músicas - Prólogo a outra década

É chegada a altura de passar aos anos 70 nestas minhas "confissões musicais". Foi, como se sabe, uma década de novidades: o punk, a new wawe, o glam-rock, e é claro o disco. Mas apesar destas novas sonoridades, a soul music e o rock não perderam força.
Sempre eclético, fui no entanto mais sensível a alguns destes novos sons do que a outros, como se verá nas escolhas que serão apresentadas nos próximos dias.
O critério continuará a ser cronológico q.b., o que em nada impedirá que se constate a grande pluralidade musical que marcou esta década.
Continuarão ausentes temas em português, que ficam para outras núpcias...

As minhas músicas - 18 : Space Oddity

O primeiro grande êxito do camaleónico David Bowie, e um dos temas mais interessantes sobre a Era Espacial, que estava a quente, pois esta canção é de 1969. Este é o segundo vídeo feito para o tema, e prefiro-o ao primeiro. Nota-se que Bowie está já a entrar no look do glam-rock, uma das muitas vidas que teve na sua carreira de três décadas.

As minhas músicas - 17: River Deep, Mountain High

Sou um admirador de Tina Turner, e esta canção de 1966 escrita para ela por Phil Spector, é fantástica. O vídeo infelizmente conta com a presença do sinistro marido de Tina, Ike Turner, e com as Ikettes, também dispensáveis. Mas escolhi-o porque Tina está no auge das suas capacidades vocais e esta é a versão original da canção e a que mais me agrada.

Nat King Cole : Mona Lisa

Para miss Toltoi (por causa da cor do seu vestido) e não só...

Nat King Cole : Quizás, Quizás, Quizás

Nat King Cole : Nature Boy

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O Poder da Simpatia

"Durante anos, o edifício dos nossos escritórios em Manhattan teve um segurança que todos adoravam. Na verdade, a maior parte das pessoas que trabalhavam no grupo Kaplan Thaler tinha imensa consideração por ele. Frank, um homem alto, bem-disposto, de cinquenta e tal anos, alegrava os dias de todos quantos entravam no nosso edifício com uma calorosa saudação: "Olá, Linda!" "Olá, Robin!" "Tenham uma boa sexta-feira!"

Linda Thaler e Robin Koval são colegas de trabalho numa das mais poderosas agências de publicidade norte-americanas - o grupo Kaplan Thaler - que inspiradas pelos benefícios da simpatia decidiram escrever "The Power of Nice". Neste livro relatam vivências profissionais de sucesso onde um simples sorriso pode fazer muito mais do que se imagina. Não esquecem o precioso papel do afável segurança da empresa e explicam como a simpatia, das palavras mais fortes que existem, pode fazer excelentes conquistas tanto na vida profissional como no dia-a-dia. Tudo isto, afinal, com um gesto tão simples. Um livro que por cá devia ser lido por muito boa gente com quem nos cruzamos diariamente na rua, nas lojas, cafés, restaurantes, repartições e até nos nossos empregos. Segundo um estudo da Universidade de Toronto, as pessoas simpáticas têm mais sorte ao amor, com consideráveis baixas nas taxas de divórcios. Outro estudo da Universidade de Michigan revela que a simpatia é sinónimo de saúde. Em "Primal Leadership", o professor Daniel Goleman mostra de que forma as emoções afectam o local de trabalho e a estreita relação que existe entre os resultados financeiros de uma empresa e o estado de espírito dos funcionários. Obviamente que estas teorias valem o que valem mas não custa nada reflectir um pouco sobre a questão.

Dois Sherlock portugueses

Como se falou hoje aqui de Sherlock Holmes, aproveito para mostrar dois Sherlocks portugueses do princípio do século XX:

Maria O’Neill, escritora, sufragista e dedicada à causa espírita, publicou, entre outras obras, seis volumes de policiais numa colecção a que chamou «Um imitador de Sherlock-Holmes».


O jornalista Hermano Neves foi, segundo Reinaldo Ferreira, o autor de uma colecção de folhetos, publicados sob o nome de Ponson du Marne, com o título de Sherlock Holmes intrujado por Jack O Estripador.

Nina Simone - My Baby just cares for me

Hoje escolhi a Nina Simone – uma das cantoras que mais oiço – e esta música do diabo:


My baby don’t care for shows
My baby don’t care for clothes
My baby just cares for me
My baby don’t care for cars and races
My baby don’t care for high-tone places

Liz Taylor is not his style
And even Lana Turners smile
Is something he cant see
My baby don’t care who knows
My baby just cares for me

Baby, my baby don’t care for shows
And he don’t even care for clothes
He cares for me
My baby don’t care
For cars and races
My baby don’t care for
He don’t care for high-tone places

Liz Taylor is not his style
And even liberaces smile
Is something he can’t see
Is something he can’t see
I wonder what’s wrong with baby
My baby just cares for
My baby just cares for
My baby just cares for me

Joshua Bell

Segundo a lenda foi o diabo que inventou o violino para fazer chorar os homens.

Joshua Bell "canta" Una furtiva lagrima
Gaetano Donizetti - L'elisir d'amore, 1832

Ramiro Fonte, poeta galego



Poeta, narrador e ensaísta, Ramiro Fonte nasceu em Pontedeume, na Corunha, em 1957. e morreu recentemente em Barcelona vítima de cancro. Estreou-se como poeta no grupo Cravo Fondo, nos finais dos anos 70, tendo publicado nove livros de poesia. Poemas seus foram traduzidos em catalão, italiano, francês, inglês e russo. Até à data foram ainda publicadas duas antologias da sua obra poética e os seus poemas figuram em numerosas antologias de poesia galega e peninsular.
Foi ficcionista e crítico literário em diversas revistas e na imprensa diária., nomeadamente na Colóquio Letras, da Fundação Gulbenkian. Participou em diversos encontors de escritores galegos e portugueses .Recebeu vários prémios pela sua obra.
Ramiro Fonte era Director do Instituto Cervantes de Lisboa desde Março de 2005.

SEGUNDO LARGO ADIÓS PARA UN JOVEN MARINO

Sirtes, Sirtes,
Buscadme propiciasPeñas donde naufragar. Yo sigo vuestro engaño,
El mismo de las olas que en este azul de la noche temprana
Pronto parece víspera
De una partida al sur. Pero dejadme
Contemplar esta tarde, sus restos en la arena,
Pues tanto huele a islas de verano por las corrientes
Mojadas. Permitidme
Permanecer todavía a la orilla de noviembre,
Que es tan hermoso y triste a la misma hora
Quedar solo en lo lejano de los muelles.
Vosotros habláis vocabularios de jóvenes marineros
Que a la decisión de las olas entregaron los pechos.
Decidme también en la bajamar más profunda.

De Designium, 1984

O Banho de Baco

O vinho e a uva deixaram de ser apenas bens gastronómicos para se transformarem numa moderna e avançada terapia de saúde e beleza. Praticada há mais de uma dezena de anos em vários países europeus, a Vinoterapia que ainda é uma novidade em Portugal consiste num tratamento corporal à base de extratos de uva , folhas, vinhos e óleos derivados, que ajudam a relaxar e têm um efeito anti-envelhecimento sobre a pele, graças ao poder antioxidante dos polifenóis que aquele fruto contém.
Quem quiser viver uma experiência diferente pode fazê-lo até Dezembro, nas Termas de Alcafache, concelho de Viseu. O corpo agradece...

Vem aí uma autêntica batalha campal... em livro


"Qual é melhor, o Porto ou Lisboa? O que é que o Porto tem que Lisboa não tenha? O que é que se faz em Lisboa que nunca se fará no Porto? Neste livro, o leitor vai encontrar uma batalha feroz - de defesa e elogio de cada uma das cidades. Ao mesmo tempo, o leitor pode deliciar-se com os mais violentos ataques que já se fizeram a Lisboa e ao Porto. Os responsáveis por estes elogios e por estes ataques são dois autores cujos direitos de livre circulação pelo país vão, a partir de agora, ficar suspensos. António Eça de Queiróz é o paladino do Porto e o dragão vingador que se abate sobre Lisboa. António Costa Santos é o santo protector de Lisboa e a águia negra que ataca o fígado do Porto."

Editado pela Guerra e Paz "Porto versus Lisboa" põe em confronto alguns dos mais destacados símbolos das duas cidades: uma inédita luta entre Sto. António e S. João, o inevitável frente-a-frente entre FCP e SLB, uma batalha fluvial entre Douro e Tejo e muitas outras picardias que não poupam a gastronomia, arquitectura, história ou a música de Lisboa e Porto.
Nas livrarias a 23 de Outubro.


13 de Outubro de 1307

- Jacques de Molay, o último Grão-Mestre .
- o selo dos Templários, símbolo de fraternidade.
No dia 13 de Outubro de 1307, por ordem de Filipe O Belo, Rei de França, foram aprisionados os grandes oficiais e muitos cavaleiros da poderosa Ordem dos Templários. Começava o processo dos Templários e com ele o declínio da mais poderosa e influente ordem de cavalaria que o Ocidente conheceu. Não vou discorrer sobre a história dos Cavaleiros do Templo, até porque seria atrevimento da minha parte perante os conhecimentos de alguns dos meus colegas aqui no blogue, apenas direi que a famosa bravura destes cavaleiros na defesa dos Lugares Santos só foi equiparada pelo seu enorme sucesso como primeira instituição financeira global da História. Foram banqueiros de reis e de papas, criadores de muitas inovações comerciais e cambiárias depois aproveitadas pelos financeiros italianos, e senhores de uma enorme riqueza. Não há dúvidas de que a sua enorme riqueza, e designadamente os créditos que detinham sobre a Coroa francesa foram a motivação determinante para a cobarde actuação de Filipe O Belo.
Durante séculos, e ainda hoje, os Templários exerceram um enorme fascínio sobre as gentes do Ocidente. Inúmeros os livros sobre eles, infindáveis as instituições que se reclamam de uma forma ou outra suas herdeiras, incontáveis as teses mais ou menos esotérico-herméticas sobre a Ordem.
Primeira nota curiosa: 13 de Outubro de 1307 foi uma sexta-feira, portanto uma sexta-feira 13, havendo quem diga que é uma das razões pelas quais tal data ficou no imaginário europeu.
Segunda nota curiosa: No dia da execução de Luís XVI, depois de este ter sido decapitado, alguém gritou na assistência- "De Molay, estás vingado! ". Isto é rigoroso, confirmado pelas mais variadas fontes, até porque não faltava gente a assistir nesse dia...

Na Austrália e na Alemanha

O relato de viagem do nosso João Soares lembrou-me uma notícia que li há dias e que me tem dado que pensar.
Em Adelaide, no sul da Austrália, o incesto está na ordem do dia. Passo a explicar. Há dez anos, 30 mulheres lésbicas foram inseminadas com o sémen de um único dador. Nasceram as crianças, rapazes e raparigas, que evidentemente desconhecem hoje quem são os seus meio-irmãos.
O que se tem discutido em Adelaide, agora que estas crianças irão entrar na adolescência, é o potencial perigo de incesto, no caso involuntário.Até porque Adelaide não é Nova Iorque ou São Paulo, existem realmente grandes probabilidades de relacionamento entre estas crianças.
Em Adelaide não havia há dez anos uma regulação eficaz para as doações de sémen, o que permitiu esta situação. Em muitos países, está previsto um número máximo de inseminações para cada dador, precisamente para evitar casos como este.
E esta notícia trouxe-me à memória vários relatos que li sobre casos de incesto involuntário ( irmãos separados pela Segunda Guerra Mundial, ou adoptados separadamente ) em que os intervenientes relataram que ao conhecerem os seus maridos ou mulheres tinham sentido uma atracção inexplicável por aquelas pessoas...
Aliás, na Alemanha tem sido fonte de aceso debate jurídico um caso de incesto involuntário entre irmão e irmã, do qual nasceram filhos, pelo menos um dos quais com problemas de saúde, e em que o casal se recusa separar. O Tribunal Constitucional Alemão decidiu recentemente que não era inconstitucional a criminalização que havia sido feita no caso, entendendo que, ao contrário do que foi defendido durante décadas pela doutrina jurídica, não estamos perante um "crime sem vítimas" já que os potenciais filhos podem ser potenciais vítimas desde logo de doenças genéticas.
É realmente um assunto muito complexo esta conjunção entre o direito a ter filhos, aos afectos escolhidos, e os direitos dos que nascem absolutamente inocentes.

Humor na crise


Mistérios de Lisboa - 1: O Lisboagate

No passado dia 30 de Setembro , ao embarcar em Fiumicino rumo a Lisboa, à entrada do avião recolhi um exemplar do Diário de Notícias que falava do Lisboagate. Fiquei perplexo. Depois de 12 dias de ausência, o que se teria passado na minha autarquia? Foi o meu primeiro contacto com o chamado "escândalo das casas ". Muitos outros artigos e entrevistas se seguiram.
Neste pequeno país, em que toda a gente se conhece ou conhece um primo do presidente, ou um assessor de um vereador etc, evidentemente eu também sabia da existência destas casas atribuídas por critérios que não os da habitação social. Embora desconhecesse a enorme dimensão do fenómeno, e sobretudo a longa duração temporal de alguns casos.
Compreendo muitas das cedências que vieram a público- por razões funcionais, emergências familiares ou carências transitórias, mas não consigo compreender a manutenção escandalosa de algumas dessa situações durante décadas, acabando por configurar verdadeiras situações de privilégio- desde logo o caso de Ana Sara Brito. Como compreender que alguém que tem estado sempre ligado ao Município, com um vencimento razoável, permaneça numa casa cedida por Abecassis?! Porque não recorrer ao mercado normal de arrendamento, ou a um empréstimo para compra de habitação como fizeram milhares de portugueses durante todos esses anos?
Ou o caso quase anedótico de José Bastos, alto funcionário muncipal que ainda teve o descaramento de dizer que mantinha a casa que lhe foi cedida in illo tempore porque pode precisar dela caso se divorcie novamente... E como compreender a ética republicana de alguns destes privilegiados que passaram o uso das casas aos filhos?
Evidentemente, a responsabilidade política de tudo isto tem de ser assacada aos sucessivos presidentes de câmara que toleraram, não moralizaram e não fiscalizaram este estado de coisas.
Presidentes de esquerda e de direita, porque neste caso o chamado Centrão foi dominante. E quando os "nossos" beneficiam, temos de calar quando vemos os dos "outros" beneficiar também.
Rendas escandalosamente baixas, ausência de critérios objectivos na cedência das casas, e sobretudo uma incompreensível perpetuação de muitas das situações, que ab initio tinham ou deveriam ter carácter transitório. É isto que agora importa regular e fiscalizar.
Amanhã, há mais.

O maior dos detectives

Em 2009 teremos dois filmes sobre o grande ( sim, sou parcial no que respeita a Holmes ) Sherlock Holmes. Um, mais sério, com Robert Downey Jr., que apesar dos altos e baixos é um grande actor, e Jude Law, interpretando respectivamente Holmes e o seu fiel secretário e companheiro de aventuras Doutor Watson. O outro filme é uma comédia que conta com Will Ferrell, nome conhecido das comédias de Hollywood, e Sacha Baron Cohen, mais conhecido mundialmente pelo seu alter-ego Borat.
Como diria Holmes- The game is afoot !

Camus


Albert Camus tem estado a desafiar-me (e a esclarecer-me) nesta viagem.

"A man wants to earn money in order to be happy and his whole effort and the best of a life are devoted to the earning of that money. Happiness is forgotten; the means are taken for the end."

Albert Camus, "The Myth of Sisyphus" (trad. Justin O'Brien), Penguin Classics, p. 94

O Ghan

O Ghan (diminutivo de Afghan, em homenagem às caravanas de camelos paquistanesas que primeiro atravessaram o continente) é um comboio que atravessa a Austrália na vertical, entre Adelaide (no Sul) e Darwin (no Norte, perto de Singapura).

Entrei ontem em Adelaide, uma das cinco "capital cities". Estive a calcorrear a cidade, que faz lembrar um cruzamento entre uma mini-Cambridge e um subúrbio de uma cidade do Faroeste, com uma "Main Street" muito animada em termos de restaurantes e bares.

O passeio cruza o deserto vermelho da Austrália, vendo algum gado de quando em vez, umas avestruzes (ou emus?) e um par de cangurus.

Hoje voltei a ter rede em Alice Springs, onde parámos meia dúzia de horas. É uma aldeia grande, também reminiscente do Faroeste, com uma forte presença de população aborígene. Vale a pena uma visita ao Museu dos Royal Flying Doctors, que socorrem as populações dispersas da ilha.
Com 35º C lá fora, sabe bem regressar ao conforto do Ghan. Vamos partir.

As 100 citações do cinema - #1

"Frankly, my dear, I don't give a damn."

Rhett Butler (Clark Gable), "Gone With the Wind", 1939

VIOLETA PARRA - Gracias a la vida


Com esta música apresento-me. Agradeço ao meu amigo Luís a confiança que depositou em mim ao convidar-me para colaborar neste blogue que acompanho quase desde que nasceu. Aproveito para saudar todos os outros colaboradores assim como os comentadores.

As minhas músicas - 16: Bang Bang ( My Baby Shot Me Down)

Esta canção foi escrita por Sonny Bono para a Cher, mas devido a hesitações desta, acabou por ser interpretada primeiro por Nancy Sinatra em 1966. E é a versão de que mais gosto. Os mais jovens, ou mais cinéfilos, também a reconhecem da banda sonora de Kill Bill, vol.1, de Quentin Tarantino.

As minhas músicas - 15: Nights in white satin

Os grandes Moody Blues e um dos seus maiores êxitos. É o primeiro vídeo, de 1967 .

domingo, 12 de outubro de 2008

12 de Outubro de 1986: Ruy Cinatti

Lembranças

Chorar pelos vivos que falecem
é natural-coisa lacrimal.
A carne sente a falta do costume
às tantas...tem fome.
Não choro ninguém.

Quando digo chorar é outra pressa
de chegar a tempo
da conversa atenta com um amigo
que nos quer bem.

Chorar por ninguém é chorar pelos vivos
que já morreram, sem o saber, e vivem
no seu presídio.

O resto, repito, é fisiologia
provocada, ainda bem, pelo riso,
ou pela dor que temos de já ter nascido
e sermos chorados por alguém.

- Ruy Cinatti, in Cem poemas portugueses do adeus e da saudade ( Selecção, organização e introdução de José Fanha e José Jorge Letria ) , Terramar, 2002.

Ruy Cunatti morreu no dia 12 de Outubro de 1986, aos 71 anos de idade.