Prosimetron

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domingo, 12 de outubro de 2008

12 de Outubro de 1986: Ruy Cinatti

Lembranças

Chorar pelos vivos que falecem
é natural-coisa lacrimal.
A carne sente a falta do costume
às tantas...tem fome.
Não choro ninguém.

Quando digo chorar é outra pressa
de chegar a tempo
da conversa atenta com um amigo
que nos quer bem.

Chorar por ninguém é chorar pelos vivos
que já morreram, sem o saber, e vivem
no seu presídio.

O resto, repito, é fisiologia
provocada, ainda bem, pelo riso,
ou pela dor que temos de já ter nascido
e sermos chorados por alguém.

- Ruy Cinatti, in Cem poemas portugueses do adeus e da saudade ( Selecção, organização e introdução de José Fanha e José Jorge Letria ) , Terramar, 2002.

Ruy Cunatti morreu no dia 12 de Outubro de 1986, aos 71 anos de idade.

4 comentários:

Anónimo disse...

O poema é lindo!
Envio-lhe este que fui procurar porque não tenho nada de Ruy Cinatti:

Agarrei no ar...

Agarrei no ar um véu
esmaecido de azul,
igual ao azul do céu
iluminado pela lua.

Eu passo a vida a sonhar
iluminado pela lua.

http://www.astormentas.com/din/poemas.asp?autor=Ruy+Cinatti

Anónimo disse...

PORQUE MORRE UM POETA?
Na morte de Ruy Cinaty

Porque morre um poeta? Porque parte
a desvendar o sonho o encoberto
se tudo o que um poema silencia
seria revelado ou descoberto?

Porque morre um poeta? Porque morre?

1976, in "Memória(s)
João Mattos e Silva

Anónimo disse...

Ruy Cinatti protagonizou para mim um daqueles breves momentos que duram uma vida. Na Páscoa de 85, em Coimbra, num encontro de estudantes católicos, aliás dinamizado pelo Padre Peter Stilwell, falou-nos, sobre si e sobre tudo. Ganhei coragem e fui-lhe falar no fim. Foram 10 ou 15 minutos fascinantes, com um pouco de tudo.
Quando chegou a minha vez de conhecer Timor, Cinatti era uma das minhas referências. Falei dele a quem lá conheci, com êxito desigual.

Bom dia!

Anónimo disse...

João Mattos e Silva é bonito este seu poema a um poeta que morre. Mas será que um poeta morre?

Parece que não...