Prosimetron

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segunda-feira, 11 de julho de 2011

O que estamos a ler? - 2

A MR lançou o desafio: “o que estamos a ler?"

A pilha do que tenho para ler aumenta e o tempo foge. Neste momento ando a ler em simultâneo:

- A Antologia de Manuel Bandeira da qual já fiz uma referência.


Neologismo

Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais quotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.

Manuel Bandeira, Antologia, Lisboa: Relógio de Água, 2006, p. 213.



- De José Régio
O meu vizinho Daniel morreu há uns dias. E surpreendo-me a pensar nele mais do que julgara. Pobre homem! Já tinha a sua idade. Vivia de uma pequena reforma, e cultivava flores. Isso nos aproximara, creio, pois sempre considerei poetas os homens que particularmente gostam de flores; e sempre tive por eles a curiosidade um pouco irónica, mas intimamente afectuosa, que nos merecem os poetas que não fazem versos.

José Régio, Davam grandes passeios aos Domingos, Lisboa: Livros Unibolso, sd, p.103

- Um livro que veio do sótão,


Não sei porquê, todas as vezes que vou a Roma, é na estação morta. Passo por lá em Agosto ou Setembro, de viagem para outra parte, e durante um ou dois dias revejo lugares ou pinturas que me são caros em virtude de velhas recordações.

W. Somerset Maugham, O Elemento Humano in "Chuva e outras Novelas", Lisboa: Livros do Brasil, sd, p. 129.

Recomecei a ler porque perdi o fio à meada:

- De Juliette Benzoni,

L’ homme qui venait d’entrer contempla un instant spectacle puis, pliant les genoux. Se laissa tomber au pied de la couche funèbre et se mit à prier, sourd au vacarme insensé qui montait des rues de Rome et des quais du Tibre où se déchaînait la populace.
C’était un homme de vingt-six ans, grand et vigoureusement bâti avec, dans ses atitudes habituelles, une sorte de majesté. Son visage plein aux lèvres charnues, au long nez courbe, était animé par des grands yeux sombres, si brillants qu’ils semblaient jeter des éclairs.

Juliette Benzoni, Suite italienne, Bartillat, 2005, p. 15

5 comentários:

MR disse...

Manuel Bandeira, adoro!
Histórias de mulheres, no qual se encontra este «Davam grandes passeios aos domingos» e «O vestido cor de fogo», é o meu livro preferido de Régio.
Li bastantes livros de Somerset Maugham, mas acho que este não.
Li alguns romances históricos da Benzoni, mas não fiquei uma fã por aí além. Esta Suite italienne trata de quê? É sobre algum músico?

ana disse...

MR,
São histórias de amor de algumas famílias renascentistas italianas, dos Bórgia,dos Médicis,família Este, Capello, Sforza, Carafa e Venosa.
O cenário passa-se nas cidades onde as respectivas famílias governavam e viviam.
Uma espécie de viagem por Itália, mas ainda não o li todo.
É a primeira vez que estou a ler esta autora.
Bom dia!:)

Miss Tolstoi disse...

Manuel Bandeira é um dos maiores.

ARTE DE AMAR

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

Manuel Bandeira

ana disse...

Obrigada Miss Tolstoi,
Este poema é lindo, já o tinha lido e é absolutamente verdadeiro. Tem a profundidade que dói.
Boa noite!

Miss Tolstoi disse...

Também gosto do poema, mas acho que é uma visão masculina do assunto: sexo dum lado e (talvez) amor do outro. É pobre, mas se são felizes...
Esse caso mediático que anda aí pelos jornais tem tudo a ver com esta visão. Salvo Deus!