Prosimetron

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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Lembrando Cecília Meireles



Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.


Cecília Meireles
morreu em 9 de Novembro de 1964


3 comentários:

LUIS BARATA disse...

Uma belissíma descrição do ofício de poeta.

ana disse...

Sublinho o comentário do Luís.
Li recentemente um livro dela. :)

Isabel disse...

Lindo poema.