Prosimetron

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quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Leituras no Metro - 183

Lisboa: Asa, 2013

Não se sabe quem é a autora deste diário escrito entre 20 de abril e 22 de junho de 1945, apenas que tinha 30 anos na época, trabalhava numa editora que encerra nestes primeiros dias. 
Berlim é então uma cidade em ruínas, onde ainda caiem bombas, as pessoas vão para as filas de racionamento arranjar comida, vivem entre as suas casas e os abrigos... É neste período que o exército russo entra na cidade, a saqueia e viola frequentemente as mulheres, entre as quais a autora e suas vizinhas.
«Percorri o caminho ao lado do elétrico. Subir não podia, pois não possuo o titulo de escalão III. O elétrico ia quase vazio, contei oito passageiros na carruagem. Havia centenas de pessoas que seguiam a seu lado debaixo de chuva torrencial, se bem que o pudessem apanhar sem problema, pois ele tem de seguir viagem. Mas não: a ordem como princípio. Está profundamente entranhada em nós, e nós obedecemos.» (21 abr., p. 24)

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http://boasnoticias.pt/noticias_Tempo-dos-milagres-A-Floresta-dos-lilases_11583.html

«No caminho para casa, introduzi-me no jardim abandonado do professor K.; por detrás das ruínas negras da casa, colhi crocos e lilases. Levei alguns para Frau Golz, que também habitava no meu antigo prédio. Sentámo-nos em frente uma da outra junto da mesa de cobre e conversámos. Quer dizer, falávamos aos gritos a fim de sobrepor a voz ao tiroteio recentemente iniciado. Frau Golz pronunciava com voz abatida: "As flores, as maravilhosas flores..." Ao mesmo tempo corriam-lhe lágrimas pelo rosto. Também eu me sentia horrorizada. Agora, a beleza faz-nos sofrer. Estamos rodeados pela morte.» (21 abr., p. 25)

O livro viu a luz do dia graças a C. W. Ceram (pseudónimo de Kurt W. Marek) que conheceu a autora e a convenceu a deixá-lo publicar: «neste livro é descrita a verdade, nada mais do que a verdade.»
«A leitura desperta os mais variados sentimentos, facto que se relaciona diretamente com a personalidade da autora. Nos momentos mais terríveis surge a frieza com a qual ele os descreve; até que, consternados, percebemos que não teve lugar qualquer objetivação artística [...], mas a frieza tem de se expandir, porque os sentimentos estavam congelados... congelados de horror.» (p. 301)

C. W. Ceram é um escritor alemão, cujo livro mais conhecido deve ser Deuses, túmulos e sábios, que li há muitos anos.

2 comentários:

MLV disse...

Belo post, que me deixou uma curiosidade imensa de ler o livro.Bom dia.

MR disse...

Boa noite!