Prosimetron

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quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Leituras no Metro - 222

Trad. Lídia Geer.
Alfragide: Dom Quixote, 2015

Estou a ler esta soberba biografia de Ian Kershaw sobre Hitler, que tinha sido publicada pela Dom Quixote em 2009 e que o Expresso 'ofereceu' há tempos com o jornal, em oito volumes. Vou no 2.º volume.
Como é que um tipo, provinciano (no péssimo sentido da palavra) instável, cuja sua única ideia assentava num ódio anti-semita ascende ao poder? Um austríaco que odiava Viena, que foi para Munique (onde se sentiu em casa) para fugir ao serviço militar, cujo único dom era a oratória, apoiada em dois ou três intuitos demagógicos.

«A Primeira Guerra Mundial tornou Hitler possível. Sem a experiência da guerra, da humilhação da derrota e o tumulto da revolução, o artista fracassado e desistente social jamais teria descoberto o que fazer da sua vida ao entrar no campo da política e encontrado o seu métier como propagandista e demagogo de taberna. E sem o trauma da guerra, da derrota e da revolução, na ausência da radicalização política da sociedade germânica que dera origem a esse trauma, o demagogo não teria tido um público que ouvisse a sua mensagem cheia de ódio transmitida numa voz estridente. O legado da guerra perdida proporcionou as condições em que os caminhos de Hitler e do povo alemão começaram a cruzar-se. Sem a guerra, um Hitler no lugar de chanceler que fora ocupado por Bismarck teria sido impensável.
«Olhando para trás apenas uma década mais tarde, Hitler falou dos quinze meses que passou em Munique antes da guerra, considerando-os "os mais felizes e, de longe, os de maior satisfação" da sua vida. O nacionalista fanático alemão ficou exultante quando chegou a "uma cidade alemã" que contrastava com a "Babilónia de raças" que, na ótica dele, fora Viena. Apresentou um determinado número de razões qe o levaram a deixar Viena: uma aversão que era fruto do azedume contra o Império dos Habsburgos pelas suas políticas pró-eslavas que eram desvantajosas para a população germânica; um ódio crescente dirigido à "mistura de povos estrangeiros" que estavam a "corroer a cultura germânica em Viena" [...]. » (vol. 1, p. 117-118)

3 comentários:

APS disse...

Este "aprendiz de feiticeiro" teve muitas ajudas, a Finança entre outras, e de início seria talvez um testa de ferro de alguns poderes.
Acontece é que a sua loucura tomou freio nos dentes, e a megalomania pessoal provocou o que se sabe...

MR disse...

Ainda não cheguei aí: a Finança, como a entendemos hoje, não me parece; mas o estado em que estava a Economia na Alemanha, seguramente.
Um tipo sem qualificações algumas, a não ser arengar e dar voz ao descontentamento.

Miss Tolstoi disse...

Já li e é ótima.