Prosimetron

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domingo, 22 de janeiro de 2017

Um rei, uma biografia




Tendo passado duzentos anos sobre o nascimento do Rei D. Fernando II, em 29 de Outubro de 1816 e certamente dentro das celebrações desta data, foi publicada uma biografia, da autoria da historiadora Doutora Maria Antónia Lopes, professora da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, “D. Fernando II – um rei avesso à política”. O propósito seria a de dar um retrato do príncipe como homem, marido, pai e sobretudo o do homem de vasta cultura, interesses artísticos, sendo ele próprio desenhador, pintor e gravador, grande colecionador de arte e mecenas, do visionário que foi construtor do Palácio da Pena e do seu luxuriante parque, sem o qual certamente a cultura portuguesa seria mais pobre, a serra de Sintra mais inóspita e os seus sucessores na dinastia, em especial D. Luís, D. Carlos e D. Manuel, mais alheios aos interesses artísticos e culturais que cultivaram.

D. Maria II 
D. Fernando II
Como rei-consorte, porém, desde o seu casamento com a Rainha D. Maria II em 1836 até á morte da soberana em 1853 e  à maioridade de D. Pedro V, como Regente, em 1855 -dezanove anos – D. Fernando está no centro das convulsões políticas que dominaram o início do liberalismo, sem poder gozar a tranquilidade que tanto almejava para si e para a Família Real. Mesmo depois da aclamação de D. Pedro essa tranquilidade não foi completa, ou com os conflitos com o filho, de carácter demasiado rígido e ríspido com o pai, com as filhas, também com a nora, Rainha D. Maria Pia,  e com as campanhas da imprensa, por causa do seu casamento morganático com a cantora de ópera Ellise Hensler, feita Condessa de Edla pelo seu primo Ernesto II de Saxe-Coburgo Gotha. Para já não falar das regências por impedimento do Rei D. Luís ou das pressões de Napoleão III para aceitar o convite para assumir a coroa espanhola, que acabou por rejeitar por querer que ficasse clara a total independência de Portugal face a Espanha.

Palácio da Pena
Chalé da Condessa

A tranquilidade “burguesa” com a mulher que escolheu, na finalização do Palácio e parque da Pena e do  chamado Chalé  e jardins da Condessa, de algumas viagens ao estrangeiro, do acrescento das suas coleções de arte, não foi isenta de contratempos e controvérsias, apesar dos imensos gastos serem feitos à custa da sua fortuna pessoal como prÍncIpe de Saxe-Coburgo. Tudo foi sempre contestado, mesmo a sua dotação como consorte da Rainha, sobretudo depois de seu segundo casamento.

Condessa de'Edla
É uma figura interessante, nalguns aspectos controversa, tanto em termos da sua vida pública como privada, tanto nas suas atitudes e posicionamento como soberano, como nas suas virtudes ou atitudes como homem. Que esta excelente biografia, muitíssimo bem documentada e investigada veio revelar a um público leitor que não conhecia, na sua maioria, nem este Rei, nem as biografias já produzidas. Vale a pena ler, sobretudo para quem se interessa pela génese e consolidação do liberalismo e, em geral, pela História.  

2 comentários:

bea disse...

Julgo que seria senhor de boa conversa e bastos interesses culturais e que Portugal muito ganhou em tê-lo para si.

MR disse...

Gosto bastante de Fernando de Saxe-Coburgo. Educou o filho, que foi um rei de vistas largas. Foi pena ter morrido jovem. Ou não; nunca se sabe...
Vou ler esta biografia.
Ainda ontem eu falava com uns amigos, a propósito do TGV, que há poucos anos tínhamos acabado de pagar os empréstimos do Fontes, mas que ele tinha desenvolvido o país... Mais valia termos feito o TGV, perdeu-se o dinheiro e nada...
Boa semana!